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Kate's Pov

Porque isso tá acontecendo comigo?

São 01:00 da manhã e eu acordei no completo susto, meu telefone toca e eu atendo minha tia que está desesperada, falando coisas que não entendo metade do que diz.

- Tia, calma, o que houve?

- Seus pais Kate, eles sofreram um acidente - Assim que ouço o que ela disse meus ouvidos começam a zumbir, não quero acreditar, nem ouvir mais o que ela tem a falar.

Ainda tenho forças de perguntar em qual hospital eles estavam, mas minha tia só me responde que de nada adiantaria ir até lá, pois eles já estavam mortos.

Cada palavra sua surtia efeito como um corte em meu pulso.

Por um instante só consigo pensar em todos os momentos que passamos juntos, sabe aquele filme que passa na cabeça? Então isso realmente existe.

Cada assunto, meus primeiros dias na escola, as festas de aniversário, cada coisinha que meus pais fizeram por mim e eu não pude agradecer por nenhuma delas.

O choro não é dramático, são só lágrimas que escorrem pelo meu rosto, são muitas mas elas são acompanhadas de pequenos sorrisos das lembranças que eu estava pensando.

Trancada em meu quarto, na casa que eu passei a vida inteira com eles, agarro meu travesseiro e durmo.

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A Espanha é um país tão pequeno, assim como esse apartamento.

Acomodo meus pertences no chão da minha mais nova casa, ficar no Brasil depois daquilo era pedir pra surtar.

O clima da cidade ainda me assustava um pouco, e eu ainda me sentia ameaçada por alguns homens que passavam na rua, mas já acostumada com o Brasil não era tão surpreendente assim.

Sou uma pessoa consideravelmente tímida e não tenho medo de ser. Se eu não gosto de você, porque eu forçaria uma amizade? Eu não sou falsa.

Pouco me importa se você também não gosta de mim, realmente as coisas boas da minha vida já se foram sem eu poder fazer nada, então porque eu me preocupo com coisas fúteis desse jeito?

Exatamente, eu me preocupo.

Também não quer dizer que eu não tenha amizades, meus grandes amigos sempre me apoiaram em tudo, até nos meus erros eles tentaram me ajudar.

Sou uma pessoa feliz quando estou com eles ao meu lado, e prezo pela sua saúde e felicidade. Cada coisa que os fizerem bem eu estarei proporcionando.

Eles foram as pessoas que me mantiveram viva nesses últimos anos, depois do acontecido eles foram quem me me ajudaram e tentavam me animar a cada instante.

E sou muito grata por cada momento com eles, e faço questão de agradecer assim que nos despedimos, não quero cometer o mesmo erro que fiz com meus pais.

Parece que eles ouvem meu pensamento e apesar do fuso horário ser de 4 horas a mais, eles já estão me ligando.

- Mulheeeeer - Ouço Aline, uma de minhas melhores amigas gritar na chamada de vídeo.

- Tô na Espanha caralhoooo!

- Amiga, que apê lindo, amei - Diz Bia ao ver quando virei a câmera pra mostrar a vista da varanda.

- Né, a vista é linda demais - Eu digo ainda mostrando um pouco do apartamento.

- Já tô com saudades, quando a gente já pode te visitar? - Dessa vez ouço Davi, a pessoa que mais esteve comigo nesses momentos.

- Desgruda Davi, a menina mal foi pra lá - No fundo e fazendo todos rirem escuto a voz da mãe de Davi e finalmente percebo que estão na casa dele.

- E aí? Se divertindo sem mim? - Digo fazendo uma carinha de choro, sentando no sofá que já estava montado.

- Chorando isso sim, rezando pra você mudar de ideia e voltar pra gente - Aline diz ainda um pouco emocionada.

- Já conheceu algum gato? - Bia como sempre com seus pensamentos impuros.

- Eu acabei de chegar sua louca, pensei nem em arrumar minhas coisas ainda - Digo rindo dela que faz uma cara triste.

Depois de conversar por um tempo agradeci meus amigos pela compreensão de me deixarem um pouco em paz, e pude sentir o calor de cada beijo que eles mandaram pra mim.

Pra descrever meus amigos é uma situação difícil, digamos assim.

A Aline é uma pessoa muito carismática, sensível, basicamente ela se dá bem com todo mundo e busca sempre estar alegre, sua personalidade e estilo se resumem em plantas e alegria. Ela pra mim é literalmente a Alegria de Divertidamente.

Já a Bia, é uma pessoa mais it girl sabe? Sempre se preocupou com a aparência, e ela que me fez gostar mais de mim mesma, do meu corpo e a me aceitar. Não tem como não achar ela legal, seja pelo seu estilo de música favorito ou tipo de roupa que usa. Ela é inspiração pra todo mundo.

E então o Davi.

Ele é literalmente o amor da minha vida, desde pequenos somos muito amigos e sempre foi muito difícil ficar longe dele. Passar tempo juntos, fosse conversando, jogando Monopoly ou sei lá, era nosso passatempo favorito, mas só se fosse eu e ele. Posso descrever o Davi como um menino carinhoso e gentil, enquanto eu não conseguia fazer amizades ele falava com a escola inteira, suas piadas não faziam sentido nenhum mas era sempre boa ouvi-las, uma das coisas que eu mais amo nele.

Ah, eu posso me descrever também né?

Eu me considero uma pessoa tímida, com poucos e bons amigos e alguns arrependimentos. Sou uma menina normal.

Com sonhos, problemas e dificuldade pra dormir.

Minha vida nunca foi muito boa, mas eu nunca me senti acolhida, eu sempre tava com alguém do meu lado mas a sensação de solidão não pode ser esquecida porque ela vem de dentro.

Então passou a ser a melhor coisa pra mim. O momento sagrado que eu poderia ter comigo mesma, a skincare que a Bia montou pra mim, ou poder cantar e dançar pela casa inteira ouvindo as músicas que a Aline disse que são boas pra dançar, ou pensar na vida como o Davi fala que faz ele esquecer um pouco dos problemas.

Ou como meus pais diziam, que pra fixar a ideia de ser uma pessoa boa, eu deveria agir como uma.

Todos esses pequenos conselhos fazem parte da minha vida até hoje, e eles não sabem mas isso é muito importante pra mim.

Olhar pro passado e lembrar cada coisinha que eu não fiz, ou não disse por medo, vergonha ou algo parecido, me faz lembrar que meus pais morreram seu eu poder dizer: Eu amo vocês.

E é o que eu mais queria fazer.

Agora, ontem, anteontem, e nos últimos 2 anos que eu estou nesse mundo sem eles.

Eu queria voltar no tempo, pra dizer que eu não queria que eles fossem embora, e que eu precisava sim deles pra tudo.

Queria dizer que eu sou uma pessoa ruim sem eles, e que tudo que eu sabia era o que eles tinham me ensinado.

Mas só pensar sobre isso agora, me faz uma pessoa idiota. Uma menina sem graça, amarga, que invés de expressar seus sentimentos os engole e fica remoendo.

De repente percebo meu choro quase que instantâneo, pensar neles me deixa assim, sensível e chorona, apesar da relutância.

Mas não tem como negar ou tentar esquecer.

É meu destino.

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Primeiro capítulo!

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