PROJETO VERÃO (degustação)

5. Gustavo

Estou quase completando meus 40 minutos de cardio para encerrar o treino por hoje quando o cheiro de baunilha brota lá do alto da escada, que fica bem acima da área das esteiras.

É um cheiro tão diferente de todos os florais doces e enjoativos dos perfumes que estou acostumado a sentir por aqui, que automaticamente meus olhos desviam do painel da esteira, buscando sua portadora.

Ela está descendo a escada e eu quase me estabaco da esteira quando percebo que pelas frestas entre os degraus eu consigo ver algo que não deveria.

Ela está usando um vestido um pouco curto e meio esvoaçante, e certamente não pensou muito sobre essa escolha levando em consideração que os degraus são vazados.

Porque eu consigo ver a bunda dela e a calcinha branca que ela está usando, quando olho pra cima.

Merda. É uma belíssima bunda.

Aperto o stop no painel da esteira enquanto olho pros lados tentando descobrir se mais alguém está desfrutando do mesmo espetáculo que eu. Porque de alguma forma me parece errado permitir que alguém além de mim faça isso. Ainda não sei dizer porque pra mim não parece um crime.

Mas ninguém parece estar prestando atenção. Todos focados em seus próprios exercícios ou em julgar os alheios.

Ela não me vê quando chega ao final da escada. Está de costas e segue em direção ao guichê pra validar o ticket do estacionamento.

Está usando um desses vestidos de verão floridos que garotas fofas usam e um tênis branco sem meia, com as longas pernas todas de fora. Não tinha dado pra notar que eram tão interessantes por baixo daquele moletom largo que ela usava no treino.

Os cabelos que antes estavam presos num coque agora estão soltos, e eu não imaginava que seriam tão longos assim, batendo no meio das costas. Eles estão molhados, meio bagunçados em ondas naturais que caem como cascatas pelos ombros dela.

Quando ela se vira depois de validar o ticket, consigo ver seu rosto sem nenhuma maquiagem enquanto ela sorri para Rebeca, da recepção, e passa pela catraca pra sair da academia.

Não sei bem como explicar o que vejo. Não é uma visão comum. Não é algo que se encaixe em nenhuma das caixinhas que eu tenho para categorizar garotas. Elas sempre se encaixam em alguma delas: A sarada-rata-de-academia, com roupas de treino caras, cabelos impecavelmente penteados em tranças boxer sem nem um único frizz e maquiagem pesada à prova d'água.

A metida a alternativa, com seus shorts Nike apertados, camiseta de banda cortada em cropped e all star cano alto nos pés.

A acordei-e-vim-assim, com suas roupas de ficar em casa e rabos de cavalo frouxos, que não estão nem aí para aparências.

Ela não se parece com nenhuma delas. Talvez um pouco com a última, mas, tem alguma coisa que não deixa ela se encaixar ali.

Fora que, garotas não saem do vestiário sem secar os cabelos. Elas amam os secadores potentes e as chapinhas que são um diferencial da academia. Já vi reviews de garotas que não pareciam nada preocupadas com os equipamentos de treino daqui, mas fizeram avaliações de 5 estrelas no Google por causa dos equipamentos de beleza do vestiário.

Mas essa garota não parece se importar. Balançando seus cabelos molhados por aí, certamente um dos focos daquele cheiro de baunilha concentrado.

Só pode ser o shampoo.

Vejo quando ela desaparece pela porta automática e vira à esquerda em direção a escada rolante que leva ao estacionamento no subsolo. Tenho uma vontade meio infundada de ir atrás dela pra ver, sei lá, o carro que ela dirige. Como se eu precisasse saber alguma coisa a mais sobre ela além do cheiro do seu shampoo, a cor da sua calcinha e que ela conhece o Clube da Luta.

É estranho. Isso me incomoda. E não sou nenhum stalker maluco. Balanço a cabeça pra me recompor e afastar esses pensamentos aleatórios, subo a escada por onde ela deixou seu rastro de baunilha, estremeço quando lembro das curvas da bunda dela e corro pro vestiário pra tomar meu banho frio antes de ir pro escritório trabalhar.

As duchas daqui também são 5 estrelas.

Me orgulho de tê-las escolhido pessoalmente.