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*Alice

Samuel toca a campainha insistentemente da casa, ouvimos a porta da sala abrir e Bento segue pela garagem em direção ao portão e com cara de poucos amigos.

- Você é insuportavelmente insuportável. - Bento fala assim que termina de abrir o portão.

- Também senti saudades, japonês. - Samuel provoca. - A tia está em casa?

- Se ela estivesse em casa já teria te xingado dez vezes. - ele resmunga como resposta e eu dou risada. - Eai pirralha. - ele me puxa pelo braço delicadamente igual um cavalo. - Você está de batom?

- Pois é. - Sérgio fala mau humorado.

- Desde quando você usa batom? - Bento pergunta confuso.

- Desde quando ela esta apaixonadinha. - Samuel me provoca e eu reviro os olhos.

- Por que vocês não cuidam da vida de vocês? - pergunto irritada.

- É exatamente isso que eu estou fazendo, irmãzinha. - Samuel fala e sorri. - Você é a nossa vida.

- Você não está cuidando, está me enchendo o saco.

- Que na visão de irmão mais velho significa cuidar, aceita e cala a boca. - ele fala me dando um tapa na cabeça e correndo em direção a casa.

- Vai deixar ele ficar me judiando assim? - pergunto para Sérgio e antes que ele possa falar algo, escuto Samuel gritar.

- VAI, DESSA VEZ ELE NÃO VAI TE DEFENDER PORQUE TAMBÉM ESTÁ COM CÍUMES DO CABELUDO... Olha, pudim.

- Filho da puta. - bato na testa e escuto Bento e Sérgio darem risada, entramos na sala e seguimos para a cozinha, já que para ir para os quartos precisava passar por lá. - Já tá comendo, parece que não tem comida em casa.

- Não tem mesmo, você come tudo. - ele retruca, pego um pano de prato que estava sobre o armário e jogo na direção dele que sai correndo com o prato de pudim na mão e gargalhando.


- Estão achando que aqui é a casa da mãe Joana? - Bento pergunta e eu e Sérgio encaramos ele. - Tá, eu sei que o nome da minha mãe é Joana e... Não vem ao caso, vamos logo.

Quando seguimos pelo corredor vejo Samuel parado a alguns metros do quarto.

- O que foi agora? - Sérgio pergunta e meu irmão nos encara enquanto levava uma colherada de pudim até a boca e como se tivéssemos todo o tempo do mundo, esperamos ele terminar de mastigar para nos responder.

- Tem um doido junto com o cabeludo lá. - ele responde. - Eu que não vou entrar sozinho, vocês sabem que sou tímido.

- O doido é o Júlio, amigo do Dinho. - Bento fala passando por Samuel e entrando no quarto. - A cambada chegou.

- 'Eae. - Sérgio estende a mão para o tal Júlio e ele a aperta. - Prazer, cambada.

- Meu Deus, vocês me matam de vergonha. - empurro Sérgio e seguro a mão de Júlio a apertando. - Aquele ali é o meu irmão Sérgio e esse é o Samuel. - sorrio para o mesmo.

- Eu não sou seu irmão não? - Samuel pergunta ofendido. - "Aquele ali é o meu irmão Sérgio e esse indigente, sozinho, solitário e menos amado da família é o Samuel." - ele imita a minha voz. - Foi isso que eu ouvi.

- Misericórdia. - bato na testa e escuto eles darem risada. - Esses dois são os meus irmãos, Sérgio e Samuel e eu sou a Alice... Ficou melhor? - pergunto irritada e Samuel sorri, assentindo.

- Ah, então você é a vocalista que o Dinho passou a noite toda falando? - ele pergunta e eu fico sem graça, Dinho da um murro no braço dele e logo tampa o rosto. - O quê? - ele pergunta confuso.

- O Júlio é tecladista, eu fui na feira buscar algumas coisas para a minha mãe e uma das sacolas estourou e voou cebola para todo lado. - Bento fala se jogando em sua cama. - Aí ele me ajudou a pegar as cebolas e... - Dinho interrompe.

- Bento viu que o cabeçudinho aqui era muito talentoso com os dedos e... - ele é interrompido por Júlio que dá um tapa na cabeça nele.

- Ele me ajudou a trazer as coisas até em casa e quando chegamos aqui encontramos esse ser humano aqui na porta, ainda eram nove horas. - Bento termina de explicar e todos encaramos Dinho.

- Fazer o quê? Eu sou ansioso. - ele fala sem graça. - Aí contei pro Bento que conhecia o Júlio e que ele era tecladista e infelizmente o Bento convidou ele pra tocar com a gente.

- Infelizmente. - Júlio resmunga, dando um soquinho no braço de Dinho.

- Caralho, pra quem não tinha nada até ontem nós estamos com uma banda completa. - Samuel fala animado e Sérgio e Bento o encaram de forma séria. - Não que vocês sejam um nada, na verdade vocês são um nada, mas é que... - interrompo ele.

- Fica quieto, irmão. - falo colocando a mão em seu ombro e ele suspira.

Ficamos nos encarando por uns cinco minutos em silêncio, até Dinho quebrar o mesmo.

- E então... O que vamos fazer? - ele pergunta.

- Bom, eu estava pensando em ir na cozinha e pegar mais um pedaço de pudim. - Samuel fala e eu assinto.

- E eu estava pensando em ir junto. - falo e Sérgio revira os olhos.

- Esfomeados, nem parece que comeram antes de sair de casa. - ele resmunga.

- Ô galera, eu falei de vocês até umas horas pro Júlio, me ajudem aí. - Dinho fala cruzando os braços.

- Falou é? - Bento pergunta.

- Disse que vocês tocavam pra caralho e que a menina bonita cantava bastante. - Júlio responde e Samuel sorri e faz uma pose.

- Ele se enganou, a menina bonita aqui toca baixo. - meu irmão fala com uma voz fina.

- Ele está falando da menina ali, ô animal. - Bento aponta pra mim. - Bonita eu não sei, mas menina ela é, é um fato.

- Já posso ir embora? - choramingo e Sérgio nega.

- Quis vir e vai ficar até o final. - ele responde e suspiro.

- Vão tocar ou vão ficar enrolando? - pergunto já sem paciência e Júlio puxa Dinho.

- Você não disse que o que ela tinha de boniteza ela tem de braveza também. - ele tenta sussurrar para o amigo e falha já que todos nós conseguimos ouvir.

- Eles estão te ouvindo, burro. - Dinho resmunga e Júlio sorri sem graça.

- Foi mal.

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Capítulo escrito: 07.11.2023

Capítulo postado: 12.01.2024

Em seu sorriso - Dinho Alves (Mamonas Assassinas)Onde histórias criam vida. Descubra agora