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*Alice

Observo os meninos se organizando no palco improvisado, caminho até Dinho e o ajudo a arrumar o microfone.

- Você está bem? - pergunto e o mesmo assente e se afasta.

Suspiro frustrada e desço do palco, Júlio se aproxima e me abraça.

- Ele está estressado com alguma coisa, ninguém sabe o que é. - ele fala e eu retribuo o abraço.

- A "coisa" deve ser eu. - falo ao ver Dinho conversando normalmente com Bento e Sérgio.

- Relaxa, Pitchula. - Júlio beija meu rosto. - Você está prestes a ver um show da sua banda favorita.

- Não sabia que os Beatles iriam se apresentar aqui na boate hoje. - falo e ele fecha a cara.

- Isso magoa, sabia? - ele resmunga e eu dou risada. - Até mais tarde.

- Até. - ele sobe no palco novamente, vejo o apresentador subir e vou para o meu lugar.

Aos poucos as pessoas vão se aproximando do palco, eu ficava junto com a plateia, mas mais próxima ao palco. Nosso intuito era arrecadar dinheiro para os meninos conseguirem gravar o disco, então tínhamos uma lista com o nome de pessoas que tinham contribuído e iriam receber o disco futuramente.

- Com vocês, a banda mais famosa no Cecap e aqui na Lua Nua... UTOPIA.

Eles começam a tocar Inconsciência, a plateia vai a loucura e eu vejo alguns rostos conhecidos do Cecap.

Observo uma mulher loira se aproximar do palco, ela usava uma regata decotada e não fez questão de disfarçar ao puxar mais e deixar os seios quase de fora. Reviro os olhos ao ver ela acariciar a perna de Dinho, mas ele se afasta e anda pelo pequeno palco.

...

Os meninos já tinham cantado algumas músicas e já estavam fazendo covers de outras de outros cantores. Eu tinha conseguido cem reais, ou seja, quatro nomes na lista e isso era maravilhoso, tinha shows que não conseguia nenhum.

A mulher estava quase subindo no palco e a minha vontade era de puxar ela pelos cabelos e a colocar no centro da pista.

- Obrigado, galera. - Dinho agradece, após apresentar os meninos da banda, coisa que ele insistia em fazer em todos os shows. - Vamos lançar um disco em pouco tempo e caso alguém tenha interesse, é só ir falar com aquela pessoinha ali no canto do palco. - ele aponta pra mim. - Nós somos a banda Utopia de Guarulhos, valeu.

As cortinas se fecham, o pessoal ainda eufórico começam a se distanciar do palco e voltar para a pista e suas devidas mesas. Subo no palco e sorrio ao ver os meninos.

- Vocês foram demais.

- Nós sempre somos, pitchula. - Sérgio fala beijando o meu rosto.

- Esta suado, credo. - ele me encara incrédulo e abre os braços. - Ah não, nem vem.

- Vai negar um abraço para o seu irmão? - ele pergunta se aproximando e eu vou dando alguns passos para trás. - Olha gente, ela não quer me dar um abraço

- Agora vai ter que abraçar todo mundo. - Samuel fala abrindo os braços e se aproximando, atrás dele estavam Júlio e Bento, vindo em minha direção também.

- Depois que vocês tomarem banho eu dou um milhão de abraços em cada um, mas suados desse jeito não. - dou risada, eles continuam vindo em minha direção, acabo esbarrando em algo e sinto alguém me segurar.

- Cuidado. - Dinho fala de forma irritada. - Quase que você leva nós dois para o chão.

- Desculpa. - me afasto do mesmo.

- Tem que prestar mais atenção. - ele fala de forma séria.

- Porra, Dinho. - Bento da um tapa na cabeça dele. - Que bicho te mordeu? Ela só esbarrou em você.

Dinho fica em silêncio, termina de arrumar suas coisas e desce do palco. Nós descemos pela parte de trás do palco para não descer no meio da multidão.

Chegamos na porta da boate e eu vejo Dinho fumando, quando vou me aproximar dele a mesma mulher que estava quase subindo no palco se aproxima do mesmo. Me viro para os meninos que conversavam sobre o show de amanhã e ignoro a presença dos dois atrás.

- 'Bora? Estou morrendo de fome. - Samuel fala passando a mão na barriga e Sérgio da risada.

- Quando você não está com fome? - ele provoca e Samuel força uma risada, mas logo fecha a cara.

- Dinho, vamos? - Júlio pergunta em um tom mais alto, para que Dinho conseguisse nos escutar.

- Hoje não vou, galera. - ele responde sem graça.

- E por que? - pergunto de forma séria, a mulher ao lado dele sorri.

- Hoje ele vai estar ocupado. - ela fala em um tom de voz que me irritou profundamente.

- Pessoal, essa é a Júlia. - ele segura a mão da garota e se aproxima. - Júlia, esse é o pessoal.

- Júlia, você pode vir com a gente. - Bento sugere e ela nega.

- Hoje não, pessoal. - ela responde com um sorriso malicioso no rosto. - Temos planos mais emocionantes para hoje a noite.

Dinho vira o rosto sem graça e os meninos dão risada.

- Nos vemos amanhã? - ele pergunta para os meninos, evitando ao máximo me olhar.

- Ensaio lá em casa antes do show. - Sérgio fala e todos assentem.

Dinho se despede dos meninos com aquele aperto de mão e meio abraço que eles sempre fazem, mas comigo foi diferente.

Acostumada a ganhar um beijo na testa e um abraço de despedida, fui surpreendida com apenas um "Tchau" seco e ele entrar em um táxi com Júlia.

Os meninos perceberam o que aconteceu e foi o suficiente para Sérgio fechar a cara.

- Olha, quatro nomes. - Samuel fala animado assim que entramos no fusca, ele estava com a prancheta nas mãos. - Porra, fizemos cem reais com uma horinha de show.

- Deveríamos focar mais na boate e no Cecap, é onde nós temos mais lucro. - Júlio fala e eu assinto.

Eles vão o caminho inteiro conversando sobre o show de hoje e sobre o ensaio de amanhã e eu vou em silêncio, repassando tudo o que aconteceu da hora em que acordamos até o final do show. Não consigo achar nenhum motivo para Dinho estar daquela forma e isso acaba comigo.

Será que eu fiz algo de errado?

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Capítulo escrito: 19.11.2023

Capítulo postado: 20.01.2024

Em seu sorriso - Dinho Alves (Mamonas Assassinas)Onde histórias criam vida. Descubra agora