Parte XVI - Fumo

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  Ele parou a moto à frente da casa. Desceram e caminharam ressabiados para a entrada. Não haviam tido tempo para procurar as chaves, mas não precisavam; a madeira umedecida e os pregos enferrujados não resistiram a mais de três chutes do homem.

  Entraram; a casa fedia a mofo. Foi ali onde, quinze anos atrás, conhecera os primeiros membros da família de sua amada, alguns dias antes do casamento.

  A festa, as felicitações, os passos e abraços, agora se haviam tornado apenas fantasmas de uma memória soterrada pelo pavor. Quinze anos de casamento foram vividos à distância, e agora tudo se desfizera: onde estavam e onde estiveram.

  Com sua chegada, alguns ratos se movimentaram pelo interior da casa, mas logo se assentaram. O silêncio zunia, pois até a moto calara. Cada tábua no chão estava cheia de poeira, e muitos dos móveis estavam quebrados, mas nada podiam ver devido à escuridão.

  O colchão já esfarelava, mas ainda podia ser usado. Era o suficiente. Bateram a poeira das coisas e se sentaram na cama, num breu absoluto. Parecia assentido que passariam fome naquela noite.

Luzes e Passos - [NOVELETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora