Parte XXIV - Compagnia

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— Obrigado por tudo. Tudo, tudo —, dizia a mulher com a cabeça envolta no abraço mais intenso de sua vida.

— Eu lhe devo desculpas, meu bem —, ele chorava. Em um segundo, ambos estavam em prantos, deixando escapar suaves gemidos de uma dor que lhes feria o coração.

— Você já me deu tudo o que me devia.

— Tanto a amo, querida. Amo, amo, amo…

  E iam ambos repetindo como mantra: “amo, amo amo…”, reafirmando o que fizeram durante todos os últimos quinze anos. Não importavam mais o fuzilamento, o incêndio, a agressão ou o que estivesse por vir. Onde não há de se controlar, deve haver de se aproveitar.

  De repente, ele arregalou os olhos por cima da cabeça de sua amada e calou. Lembrou-se das roupas que deixaram penduradas na cerca quando se banharam; com certeza entregariam que estavam ali. 

  Mas ele resolveu ficar quieto. Não queria perturbar ainda mais a sua amada; preferiu ficar ali, colado e amarrado em seu corpo, desistiu de tudo o que pudesse separá-los.

  A mulher, porém, também se lembrou das roupas. Ela teve a mesma ideia; calou-se para não preocupá-lo, e decidiu apenas amar mais uma vez a companhia que incessantemente amara.

  As luzes se direcionaram para a casa e iluminaram-na pelas janelas. O som dos passos já podiam ser ouvidos, e eles se seguravam ainda mais fortemente.

  Aquela era uma noite para se amarem tão profundamente como nunca antes. Era uma noite feliz.

Luzes e Passos - [NOVELETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora