Vinte minutos depois, a praça estava em silêncio. Calavam por fugir, por morrer, por fingir a morte ou por cessar o fogo. O chão estava banhado de sangue, e nenhum militar estava ferido.
Talvez muitos outros litros teriam sido derramados naquelas pedras se não fosse o homem para alertá-los.
Ele, por sua vez, estava já fora da cidade. Percorria as estradas de terra batida cada vez mais estreitas; já diminuira a velocidade, e sua única iluminação era o farol; via somente o caminho vago e a mata densa que fugia da amplitude da luz da moto e ameaçava com escuridão ao redor.
Tudo atrás da garupa da moto estava morto e abandonado, e sentia que nunca mais voltaria a ser seu. A casa que haviam conquistado estava atolada numa cidade onde o caos estava instaurado e travestido de ordem. Tudo o que possuía - e tudo o que precisava - estava ali, sentada na moto, agarrada em seu tronco.
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Luzes e Passos - [NOVELETA]
RomansaA ditadura torna-se cada vez mais violenta, e este casal preferiria abster-se e viver longe dos protestos. Certo dia, porém, um ato de coragem acidental mudaria o rumo de seus planos.