Alguns animais caminhavam e quebravam galhos secos sobre a grama. Tudo era motivo de desconfiança. A cada vez que estremeciam de medo, enrijeciam os apertos e os consolos, e não se largavam por nada.
A doninha sempre buscava a paz:
— Foi só um bichinho. Se fosse homem, daria pra perceber desde longe. Fique bem.
Puxou um pouco da saia e secou as lágrimas do marido, que já escorriam por profundo arrependimento e uma sensação de injustiça: ela não merecia viver aquilo.
— Vamos deitar logo. Não dá pra sentir fome dormindo. Amanhã vamos ver o que podemos fazer —, a moça sugeriu.
Consentindo, deitaram no colchão encardido e fedorento, sem travesseiros ou cobertores. Ela, deitada sobre o peito dele, aconchegou-se com mais vigor logo antes de adormecerem, sorriu e mencionou:
— Ainda dá pra sentir seu cheiro.
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Luzes e Passos - [NOVELETA]
RomanceA ditadura torna-se cada vez mais violenta, e este casal preferiria abster-se e viver longe dos protestos. Certo dia, porém, um ato de coragem acidental mudaria o rumo de seus planos.