O mar e eu

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O mar sempre me fascinou.   Não só o mar de férias, aquele que todos gostam para um banho em dias quentes.

Gosto do bater das ondas, da espuma na areia, da cor das àguas.

Gosto do mar revolto em dias de inverno quando as ondas são altas e arrasam tudo à sua frente.

Gosto de ver os barcos balançando quando galgam uma onda como se dançassem uma valsa.

Gosto das noites calmas, quando a lua abraça o mar e a luz reflete nas suas àguas.

Tomar banho de mar à luz da lua numa noite quente é uma das coisas que mais prazer me dá.

Sou Rodolffo Arantes, tenho 32 anos e sou Biólogo Marinho.  Nas horas vagas canto e pinto telas onde espelho a natureza.

Até há bem pouco tempo a minha vida era quase perfeita.  Tinha emprego, casa própria e uma namorada.  A vida quase perfeita.

Quase, digo eu.

Há cerca de dois meses perdi meus pais em um acidente de aviação.   Eles estavam numa viagem ao estrangeiro e infelizmente o avião caiu não tendo havido nenhum sobrevivente.

A juntar a este choque descobri que a minha namorada, com quem já vivia, me traía desde sempre.

Mandei tudo às urtigas.   Vendi a casa dos meus pais, mandei a namorada embora, fechei a porta da minha casa, vendi o meu carro Mercedes e comprei uma Van.  Fiz uma mala com pouca roupa e parti.

Vou viver do mar, no mar e para o mar pensei enquanto rodava sem destino.

Durante largos dias circulei à beira mar até finalmente encontrar o meu canto.

Uma praia pequena com algumas habitações que pelo aspecto exterior seriam de pescadores.

Parei a Van e fui caminhar para apreciar o ambiente.

Não havia quase ninguém pelo que pensei que as casas fossem apenas habitações de férias.

Encontrei um homem de meia idade que pescava à linha.

Entrosei uma conversa e fiquei a saber que realmente o local já foi mais frequentado.  Os mais idosos vão partindo e os mais novos não querem saber da pesca.

O Heitor, assim se chamava o pescador, convidou-me para almoçar com ele e aceitei de imediato.  Assámos o peixe que ele pescou a que juntou umas algas e alguns vegetais que trouxe do mercado da vila mais próxima.

Ficámos por longas horas trocando ideias.  A esposa dele vivia na vila.  Também não gostava da praia e ele passava ali de segunda a sexta.  Sábado e Domingo ia ficar com ela.

- Quem me tira o mar tira-me tudo  sr. Rodolffo.

- Eu também gosto muito, mas por favor, só Rodolffo.
Heitor, por acaso alguma destas casas está para venda ou alugar?

- Estas não sei, mas há uma na ponta da praia que está para venda há muito tempo.  Como está mais isolada não a querem.

- E está em estado de ser habitada?

- Sim.  Foi toda remodelada.  Os donos tinham ideias de vir morar cá mas desistiram pois preferiram ficar com a filha na cidade para ela terminar os estudos.
Quer vê-la?  Eu tenho a chave.  Podemos ir lá.

Rodolffo e Heitor foram até à casa no final da praia.   A caminhar pela areia  ainda demoraram uns vinte minutos para chegar.

- É perfeita, Heitor.   Nem grande, mas também não é pequena.  Adorei.
Pode ajudar-me a contactar o dono?
Definitivamente é esta a casa que eu quero.

Heitor iniciou os contactos e convidou Rodolffo a ficar na sua humilde casa enquanto durassem as negociações.

Assim ele foi-se adaptando ao novo estilo de vida.  Por incrível que pareça não sentiu saudades da vida que até aí tivera.  Apenas dos seus pais.

Um mês depois era dono e senhor da sua nova casinha.
Foi com Heitor fazer o mercado essencial assim como alguns utensílios de casa.  O que precisasse iria comprar aos poucos.

Depois de tudo arrumado, sentou-se no alpendre, numa cadeira de baloiço e observando o mar deixou cair algumas lágrimas.

Senhora do marOnde histórias criam vida. Descubra agora