Nova vida

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Depois de muito tempo,  Rodolffo estava feliz.

Os dias eram passados entre um mergulho no mar, sempre que este se apresentava calmo, para mais uma série de fotos, uns banhos de sol e dois dedos de prosa com Heitor sempre que havia oportunidade.

Rodolffo adorava fotografar a vida aquática e para isso adquiriu o material necessário.   Câmara à prova de àgua e equipamento de mergulho.

Nos finais da tarde e ainda com o sol bem presente dava azo a transferir para uma qualquer tela, as memórias dos mergulhos.

À noite, após o jantar,  acendia uma fogueira e sob a lua e as estrelas dedilhava as cordas do seu violão.

Heitor por vezes fazia-lhe companhia e sempre se questionava o porquê de um homem tão jovem ter optado por a vida tão solitária.

- Nunca quiseram ter filhos, Heitor?

- Deus não nos quis presentear com um filho e acabámos por aceitar.
Foi sempre só eu e a minha esposa.
Vivemos sempre na vila mas eu dava uma escapulida para cá sempre que podia.  A pesca não era meio de sustento.
Quando me aposentei passei a viver aqui durante a semana e na vila aos finais de semana.

Mas o Rodolffo é tão jovem.   Ainda vai arranjar uma esposa.   E se ela não quiser morar aqui?

- Não penso nisso mas se acontecer, ela terá que optar.  Pode ser que eu mude mas daqui não quero sair.

Seis meses depois tudo permanecia igual.  Os dias estavam ligeiramente mais frios.
Heitor chegou com a notícia de que tinha havido um naufrágio.   As notícias eram vagas.
Apenas que um iate tinha naufragado.  Houve uma explosão a bordo, desconhecendo-se quantas pessoas estavam lá.

A rádio local ia actualizando e sabia-se agora que no iate ia um casal jovem, ele com 35 anos e ela com 30, o comandante e mais 1
elemento da tripulação.

Duas pessoas tinham sido resgatadas com vida.  Encontram-se desaparecidos um elemento da tripulação e a jovem.

Como todas as noites,  Rodolffo acendeu a fogueira e foi até à linha de àgua para uma caminhada.

A noite estava clara.  A lua cheia e o céu estrelado concediam muita luminosidade.
O mar não estando sereno também não estava agitado.   Havia uma ligeira ondulação.
O som do rebentar das ondas era música para quaisquer ouvidos.

Rodolffo caminhou por uma boa meia hora fazendo depois o caminho inverso.

Ia chegando ao final do percurso,  avistou um objecto que não estava quando iniciou a caminhada.

Foi-se aproximando do que lhe pareceu ser uma tábua.
Chegando perto percebeu tratar-se de um corpo.

Era o corpo de uma mulher desfalecida.  Puxou-a para a areia e a tábua veio junto.  Viu-lhe os sinais vitais e percebeu que não estava morta.

Tentou levantá-la mas ela estava com o braço amarrado à tábua por uma peça de roupa.

Fez respiração boca a boca para perceber se ela tinha engolido àgua mas não houve reacção.

Pegou nela ao colo e levou-a para casa.
O corpo estava completamente gelado.  Ele ficou sem saber o que fazer e apenas lhe ocorreu um banho de àgua quente.  Era certo que estava em hipotermia.

Encheu a banheira e mergulhou a moça que minutos depois começou a reagir.

Rodolffo retirou-a da àgua e ela tremia muito.  Secou-lhe os cabelos com uma toalha e depois enrolou-os noutra.  Vestiu-lhe um camisolão dos seus que ficou enorme e meteu-a na cama debaixo dos cobertores.

Nos primeiros instantes ela continuou a tremer mas foi acalmando à medida que aquecia.

Rodolffo foi buscar um chá bem quente que fez ela tomar todo.

Ele não fez perguntas e ela não conseguia balbuciar qualquer palavra.

Depois de uma sopa quente, ela adormeceu.
Rodolffo ficou na dúvida se devia partilhar a cama com ela mas como era grande acabou por fazê-lo.  Sempre era um calor extra e ela bem precisava.

Não dormiu muito.  Passou grande parte da noite vigiando o sono dela.

Ao raiar do dia levantou-se e foi preparar o café.
Preparou uma bandeja e trouxe para ela que fazia tensão de se levantar.

- Ei, mocinha!  Fique na cama que não está capaz de se levantar já.

- Ela olhou para ele e confusa perguntou;

- Onde estou?  Como cheguei aqui?

- Primeiro vai comer e depois eu explico tudo.

Ela comeu quase tudo e depois recostou-se na cabeceira da cama.

- Estou tão confusa.   As imagens na minha cabeça estão um emaranhado.  Nada faz sentido.

- A moça estava no iate que naufragou?

- O iate naufragou?   Só lembro de estar a apanhar sol.  O meu namorado saltar para a àgua.   A última imagem que tenho é essa.

- Descanse mais  um pouco.  Depois preciso de avisar as autoridades e você deve ir ao hospital.

- Eu vou levantar-me.

Levantou o cobertor e reparou que usava apenas o camisolão dele.

- Não tenho roupa, nem calçado.

- Pode vestir uma camisa e uns shorts meus e tenho ali umas havaianas.  São grandes mas desenrasca.
Vou buscar uma escova de dentes nova e toalhas se quiser tomar banho.

- A escova eu aceito.  Banho eu tomo depois.  Quero apanhar sol.  O dia está tão lindo.

Rodolffo ajudou-a a sair de casa para o alpendre.  Sentou-a na cadeira de baloiço e arrastou-a mais para o sol.

- Vive aqui ou está de férias?

- Vivo aqui.  Meu nome é Rodolffo.

- O meu é Juliette.  Vivo em Belém.

- Também vivia lá.   Mudei-me faz quase 8 meses.

Juliette recostou-se na cadeira e fechou os olhos deixando que o sol lhe aquecesse a face.

Rodolffo olhou-a atentamente e achou-a linda.  Os cabelos agora já secos desciam pelos ombros até à cintura.  Os cílios longos e os lábios carnudos fizeram-no ter sensações que há muito não tinha.

Levantou-se e foi tomar um banho mas antes fez um suco de maracujá que trouxe para ela.

Senhora do marOnde histórias criam vida. Descubra agora