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Eu estava deitada na cama do meu antigo quarto. Lembrar de como eu era uma criança tão feliz, até certo momento da minha vida, é doloroso. Cada desenho grudado nas paredes, cada boneca na prateleira. Eu era uma criança tão pura, e isso foi tomado de mim com tanta força.

Os desenhos que eu fazia, ainda mais os de família, são os que me fazem voltar anos no passado. Os desenhos comigo, meu pai e minha mãe, alguns momentos mais felizes da minha vida. Mas tenho memórias de outros, que eu quero esquecer.

Março, 2007.

Eu estava desenhando no meu caderno, sentada no chão da sala, me apoiava na mesinha de centro. Pude ouvir o celular da minha mãe tocar, ele estava em cima do sofá. Saí da mesa de centro, para levar o celular para ela, quando eu cheguei perto do escritório, para levar o celular, pude sentir uma mão agarrar o meu ombro.
- onde você vai com o meu celular? - ela falou e imediatamente arrancou o celular das minhas mãos. - Eu estava indo levar para você! - Eu tentei argumentar, mas percebi a raiva tomando os olhos dela. Sempre tive medo da minha mãe, ainda mais quando ela ficava com raiva. Desde que esse novo contato dela começou a ligar, ela ficou tão... Pior.

A mão dela levantou em minha direção, e a única coisa que eu pude fazer, foi fechar os olhos, esperando o impacto. - o que você pensa que está fazendo? - eu ouvi a voz do meu pai, e senti um certo alívio de momento, mas depois isso passou, já que eu sabia a cena que viria a seguir. - você estava levantando a mão para minha filha? Eu aturo várias coisas vindas de você, mas isso, não! - meu pai falou, enquanto a discussão entre eles começava, eu fui saindo de perto, com as mãos nos ouvidos, tentando fugir da confusão que sempre rolava como  uma bomba, prestes a explodir a qualquer momento. Peguei o desenho que eu estava fazendo antes disso tudo, e corri em direção ao meu quarto. Chegando lá, fechei a porta e liguei uma música aleatória no rádio, no volume mais alto possível, e tudo que eu queria fazer, era sumir dali naquele momento.

Agora.

Olhei para o horário no relógio, e percebi que já era hora de eu ir me arrumar para o aniversário de Heitor, eu literalmente passei o dia inteiro no quarto, já que eu sabia que não aguentaria ficar olhando para a cara de Celso o dia inteiro.

[...]

A música pulsava no ar, envolvendo a festa de aniversário de Heitor em uma aura de celebração. Mas nem tudo que reluz, é ouro.

Eu dançava com Henrique, tentando encontrar refúgio na alegria da música. Mas, como um belo babaca, meu padrasto se aproximou, seu sorriso malicioso denunciando sua presença sinistra. E põe sinistra nisso.

- Olha só, a Sn decidiu se juntar à festa. Ainda a mesma garotinha de sempre. - Seus olhos tinham um brilho cruel. Sempre tiveram esse brilho cruel, e sua arrogância sempre intacta.

Ignorando ele, eu mantive meu sorriso, tentando manter a normalidade.

- Os tempos passam, mas você continua a mesma garota, a mesma Sn. - ele continuou, suas palavras insinuando uma memória dolorosa. Ele sabia como tocar na minha ferida, afinal, ele é o motivo dela. Ele nunca demonstrou remorso, e eu tento ao máximo evitar proximidade dele. Do mesmo jeito que ele me usava quando eu era pequena, não é algo muito longe da mente dele, tentar me usar por agora.

Henrique, percebendo o clima, interveio.
- Sn, que tal darmos uma volta lá fora? Está ficando abafado aqui.

Agradeci a oportunidade de escapar e segui Henrique para o lado de fora, mas meu padrasto não perdia a chance de lançar suas farpas.
- Você sempre gostou de fugir, não é mesmo? Parece que a realidade é difícil demais para a pequena Sn.

Eu cerrava os punhos, lutando contra as lembranças que ele insistia em trazer à tona. Henrique, atento, tentava me afastar da negatividade. Mesmo que eu tentasse, as palavras dele me machucavam, eu me sinto incapaz, eu me sinto uma inútil, sinto uma sensação de fraqueza.

- Ignora ele Sn, só ignora esse traste. - Henrique falava, e eu senti vontade de desabafar com ele tudo o que eu guardei, e apenas contei para Elena e Luna, mas eu não contei.

Decidi seguir o conselho de Henrique, mas a ferida emocional estava aberta.

Ao nos afastarmos, Henrique olhou nos meus olhos com seriedade.
- Sn, sei que é difícil, mas você precisa inverter o jogo. Deixe que ele seja o menosprezado, não o contrário. Ele só tem o poder que você dá a ele. - As palavras de Henrique eram firmes, ele conseguia me passar confiança, mesmo que fosse superficial.

- Mas, como fazer isso? Parece tão difícil quando ele está sempre pronto para me atacar. Eu entro em devaneios quando ele abre a boca, eu não consigo dizer nada, eu só fico calada, já que ele me dá medo! - Me expressei, sentindo a vulnerabilidade.

-Eu não entendo o motivo dele sempre ter te tratado assim, mas eu acredito que você é mais do que ele diz. Mostra que as palavras dele não têm o poder de te abalar. Eu acho que acreditar nessa mentira, equivale a sua mãe, acreditando que a sua família é perfeita.

Retornamos à festa, mas a trégua foi breve. Celso, como esperado, não perdeu tempo em retomar suas provocações, mas dessa vez, suas palavras eram cruéis e calculadas.

- Olha só para ela, tentando se encaixar. Pobre garotinha perdida, sempre à sombra de alguém. - O sorriso de Celso era venenoso. Ele é o meu pior pesadelo.

A "plateia" ao redor ficou em silêncio, mas eu me recusei a ceder à humilhação. Mantive a cabeça erguida, olhando diretamente nos olhos de Celso. Como Henrique disse, o que custa acreditar em mais uma mentira? E a de agora, é que eu sou forte.

- Você não passa de uma sombra, Celso. Alguém que busca validação através da dor dos outros. O mundo não gira em torno de você, mas pelo visto, a dor das pessoas sim. A maioria das pessoas em volta de você são tristes, e a maioria das tristezas são causadas por você.- Henrique interveio, suas palavras cortantes ecoando no silêncio tenso.

As palavras de Henrique deixaram Celso momentaneamente sem reação, mas sua ira não demorou a se manifestar.

- Quem você pensa que é para falar assim comigo? Acha que pode me menosprezar? Você é a mesma coisa que todos da sua família, e a sua "priminha" é só mais uma.- Celso vociferou, sua face de branca, já estava vermelha pela fúria.

- Não, Celso. A diferença é que eu sei quem me ama, e eu sei que as pessoas me respeitam e me tratam bem por me amarem, já com você, elas fazem isso por terem medo! As pessoas tem medo de você. E eu falo da sua esposa, sua enteada e até mesmo seu filho.- Henrique respondeu, seu tom calmo me deixava impressionada.

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Cortei a treta pela metade, mas logo teremos o resto🤡.

Stardust (SADIE SINK.)Onde histórias criam vida. Descubra agora