capítulo 14

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MINHO
point of view

Entrei irritado na sala de reuniões assim que vi a figura de Felix parado ao lado da porta.

— Vamos conversar como três pessoas civilizadas. Sem brigas. — Toni disse em um tom duro. Parecia irritada também. — Felix, por que fez isso?

— Eu não sei. — ele suspirou. — Eu me senti desafiado, irritado, nervoso e agi por impulso.

— Ótima justificativa. Poderei usar essas mesmas emoções agora como razão para dar um soco bem na sua cara?

— Minho.

— Não me venha com "Minho", Toni. Esse mimado não sabe metade do que passei para estar aqui hoje, eu não vim de família rica como você, Felix. Eu batalhei, usei do meu suor, sangue e lágrimas como um motivo para não desistir e dar uma vida boa para o que restou da minha família de sangue. E adivinha, sabe o que me restou deles? Nada!

Felix me encarava em silêncio.

— Eu não te desafiei naquele dia, falei o que estava pensando e se você se ofendeu com a minha sinceridade, isso é que deveria soar como algo alarmante. Você não faz ideia do que é passar pelo que eu passei e sofrer o que eu sofri. E você simplesmente achou que seria de bom tom comparar os remédios que eu tomo para sobreviver como uma droga que seria letal para mim? Como se eu fosse um viciado?

— Minho, eu sinto muito. Não foi isso que eu quis dizer, eu...

— Você tem alguém com depressão na família? — Felix se fechou completamente ao ouvir aquilo. Bingo, toquei em algum ponto que dói. — Você sabe... Como é ter que lidar com a ideia de viver em um looping de um dia sombrio todos os dias da sua vida? De não encontrar uma saída lúcida e uma justificativa justa para todos os problemas que te cercam? Tem ideia de como é precisar de remédios para controlar a dor que sente por que não consegue lidar com isso como uma pessoa normal? Você tem ideia, Felix?

Segurei as lágrimas que queriam cair. Eu não iria chorar na frente de ninguém. Só poderia fazer aquilo se fosse Jisung ali.

— Você é tão... baixo. — cuspi as palavras que queria dizer. — É soberbo e mimado. Eu não sou aquele que as coisas tem que ser do jeito que quer, esse é você. Você olhou para dentro de si mesmo para falar de mim e se usou como exemplo, querendo me passar como um ser vazio e infeliz.

— Minho, por favor... — Toni implorou.

— Se bem, que você realmente não mentiu nesse pensamento. Eu sou vazio e infeliz. Estar onde estou hoje é uma conquista minha, é fruto do meu esforço e só EU sei o que eu passei para chegar até aqui. Das noites que não dormi, das sessões de terapia que fiz, das pessoas que perdi e do quanto me perdi nesse processo de seguir meu sonho.

Eu suspirei.

— Se você olhasse além dessa bolha estúpida que vive, veria que cada um enfrenta uma luta diária. Veria que eu enfrento essa luta diária há anos e sim, que às vezes quando estou no meu pior momento, eu preciso de remédios que vão acalmar um pouco o meu coração acelerado e a minha mente conturbada. Eu tenho motivos reais para isso, não sou a porra de um viciado como você quis me pintar. Eu posso parar de tomá-los quando eu quiser, só não fiz isso ainda porque eu sei o quanto a minha mente tenta me sabotar e acabar com o meu corpo quando eu passo muito tempo preso dentro mim. Era isso que você queria ouvir?

— Eu sinto muito... De verdade, Minho.

— O problema é esse. Você sente muito pela vergonha que está sentindo agora, não por mim. Gravou tudo que eu disse? Pode oferecer isso pra primeira revista que te oferecer uma entrevista. Eu vou ter que me retratar a público de qualquer maneira. Com licença.

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