lágrimas

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Irene deixava cair lágrimas silenciosas pelo seu rosto, enquanto continuava o encarando com olhos doloridos, não reconhecendo o homem frágil que estava a sua frente. Por mais que ela quisesse - E como ela queria - abraçá-lo, beija-lo. Falar o quanto o ama e o quanto sofreu por ter achado que o teria perdido pra sempre, ela saiu do transe quando viu a sua nova prioridade em seus braços: Daniel. Por mais que o amasse, (e ela o amava com todas as suas forças), não faria isso com o seu filho. Voltar com Antônio seria regredir a um passado em que ela se humilhou para tê-lo, e isso ela não conseguia suportar mais.
Enxugou suas lágrimas, e seguiu adiante trazendo Antônio de volta para a realidade.
- Irene, espera!!! Antônio gritou.
Ela continuou a dar passos largos mas logo foi alcançada pelo homem, que segurava em seus braços na expectativa de ser ouvido, ignorando totalmente a criança que ela segurava.
- A gente pode conversar? por favor, eu sei que a última vez que a gente se viu as coisas foram...não foram muito agradáveis e tal, mas... Eu preciso muito conversar com você, Irene.
Por alguns momentos ela voltou a perplexidade. O homem que ela ama está vivo. Quando ela abriu a boca pra responder Daniel começou a chorar. Ela cortou qualquer possibilidade de resposta e se contentou em dizer somente um:
- Tenho que ir.
Segurou mais forte o filho em seus braços e foi sem olhar pra trás.

Antônio a observava caminhar enquanto tentava entender o que estava acontecendo. A mulher que ele viveu durante 30 anos, a mãe de seus filhos e a que, por irresponsabilidade tirou a vida do próprio filho, o seu filho predileto.
Por que ele sequer quis olhar de novo para o rosto dela? Por que ele sentiu tanto amor ao ver os seus corpos perto outra vez? Ele não conseguia entender. Mas sabia, que embora lutasse para não reconhecer, foi um dos maiores motivos do sofrimento de sua mulher.

Irene chegou na pousada completamente desnorteada, porém tentando não passar o desespero para seu filho, que já estava chorando. ela toma um banho com ele, o coloca pra dormir e fica deitada ao seu lado só pensando, sem saber o que fazer, como agir. Se ficaria ou se iria embora. Até que desperta dos devaneios ouvindo batidas nada sutis na porta. Era ele, outra vez.

- Antônio, como você...
- Vamos dizer que eu sou praticamente dono dessa ilha, então... grande parte das propriedades são minhas. Conhecendo seu gosto simples, achei mesmo que você viria na melhor pousada da região.                                                     Fala Antônio entrando no quarto e sentando ao pé da cama, enquanto a encarava profundamente.
- Hm...Entendi. Você deu um jeito de construir o seu império e comprar pessoas em outro lugar...
Uma pergunta, você não está morto?
Ela interroga cínica. O cinismo era o seu maior aliado quando queria esconder outro sentimento, nesse caso, o amor.
É, eu quase morri 'mermo'. Aquele lá deu uns tiros em mim, mas... tô aqui. Força uma risada. - Vivíssimo.
Que bom, Antônio. fico feliz. Agora, eu preciso descansar e... - finge um bocejo - Amanhã mesmo eu já volto.
Antonio se levanta e olha desconfiado.
Amanhã?
Sim. Eu... Não acho bom pra mim ficar no mesmo lugar que você, ainda mais com o meu filho.
Antônio mais uma vez se reduz a um pedido mínimo de conversa, mas ela nega no mesmo segundo.
Adeus, Antônio.
Ela sente o seu coração apertar. Da mesma forma como ele se dilacerou quando ela visitou aquele túmulo. Ela o estava perdendo de novo.
Se quiser dar uma chance pra uma conversa, eu... Eu vou estar no meu barco. No barco que você me viu quando chegou. Antônio continua olhando a mulher.
Adeus, Antônio.
Fala automaticamente. Não queria nem pensar na possibilidade de fracassar com o que já tinha certeza.   
Ele sai. Sai com um sentimento de vazio, solidão. Ela nunca o perdoaria por ele ter expulsado ela de casa daquela forma, por algo que nem teve a intenção de fazer. os dois erraram, mas ela em momento algum desistiu. Estava na hora dele lutar. E assim o fez. Antônio vai de novo até o quarto dela,  abrindo sem pedir licença. Ele rapidamente segura o rosto da mulher com suas duas mãos, com olhos marejados e um certo desespero, diz quase em um sussurro.
- Eu te amo, Irene. Não me deixa outra vez. Não me deixa nunca mais, por favor.                                                     Ele se rende ao choro.  Um choro descontrolado. Lágrimas que ele lutou a vida toda para não sair daquela forma, afinal ele era muito comprometido com sua masculinidade.
- Não me deixa, meu amor. Não me deixa.
Ele enterra o rosto na curva do pescoço da sua mulher, sua Irene. Ela o abraça, sem dizer nada. só enterra suas mãos em seus cabelos brancos e desalinhados e o abraça forte. Desacreditada ao ver o homem tão vulnerável. Porém, amando ele como ela jamais foi capaz de amar. Os dois se entregam as lágrimas. Lágrimas de amor.

Irene é de Antônio.
Antônio é de Irene.

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