Antônio se desespera ao pensar que perderia a sua família outra vez. Ele se deixou contaminar novamente, se deixou cegar pelo poder colocando Irene como segunda opção, outra vez. Ele não a merecia. Não merecia o amor incondicional que ela nutria por ele a tanto tempo, não merecia o cuidado, o companheirismo. Tudo o que ele podia fazer pra tentar livrar sua mulher de mais uma consequência das suas burradas era deixá-la ir com seu filho, afinal, ela também era uma foragida. Sua vida também estava em jogo.
Antônio entra na sala devastado. Dando passos curtos e pesados, choro preso na garganta, respiração forte e trêmula. Ele iria perdê-la de novo, e outra vez, por sua própria culpa.
- Irene... Vocês tem que ir embora... o mais rápido possível. Marino está vindo me pegar, eu fiz uma grande besteira. Eu preciso que você vá, senão eles vão te pegar... E eu não vou suportar ver que eu fiz isso com você.
- Eu fui muito burra mesmo né, Antônio? Irene sente o choro subir na sua garganta embargando sua voz. - Você não muda. Você foi incapaz de pensar em mim uma única vez durante trinta anos... Não ia ser agora que iria mudar alguma coisa.
- Irene...
- Não, não fala nada. Eu só preciso saber pra onde é que eu vou com meu filho... Já que eu larguei minha vida pra ficar aqui com você. Me fala pra onde é que eu vou. Antônio pega apressadamente uma grande quantidade de dinheiro da gaveta e entrega a mulher junto a uma chave.
- Saia do Brasil. Pega seus documentos e da o fora daqui. Vá pra nossa casa em Paris... Eu te prometo, ninguém vai te perturbar lá e você nunca mais vai saber de mim. Agora vai. Irene o encara com olhos marejados. Ela sentia raiva, mas ao mesmo tempo tanto amor, tanta saudade. Antônio se aproxima do seu filho o carregando e o abraçando forte. O menino não falou uma palavra, ele parecia entender seriamente o que estava acontecendo. O homem se aproxima de Irene enxugando suas lágrimas e a beijando delicadamente.
- Silvério está esperando vocês na ponte. Vão! Irene corre para fora de casa com seu filho no colo desesperada. Ele os vê partir chorando silenciosamente. Lágrimas de culpa, saudades, amor. Ele estava vendo o amor da sua vida ir outra vez.
- Eu te amo. Ele sussurra se entregando as lágrimas de uma vez.Por Antônio
A partir daquele momento, o momento da partida da minha família acontecendo sob os meus olhos, nada mais importava.
Não importava se iriam me prender, me matar, me torturar. Nada mais importava, eu estava morto. Logo depois da saída deles, Marino e seus capangas invadiram minha casa atirando para o alto. Não tive reação, afinal, não importava mais. Eles me pegaram, me espancaram, me levaram amarrado de Moreré a Nova Primavera soltando insultos atrás de insultos; Eu não dei uma palavra. O que com certeza intrigou aqueles homens que nunca viram Antônio La Selva deixar barato qualquer ofensa. Mas, não importava mais. Eu estava morto. A minha vida só voltaria a existir se eu estivesse ao lado da minha mulher outra vez. Irene, minha Irene.