Capítulo 1

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Capítulo 1  

Cassiopeia

— ALFREDOOOOO! SEU FILHO DE UMA P*TA.
— CASSIOPEIA, COMO ENTROU AQUI?!
— E isso importa, seu desgraçado? — Voei em cima do salafrário e da lambisgoia que estava de bunda pra cima.
— Ai, sua louca, me solta!  — gritou a peladona, enquanto eu estapeava a cara dela e a deixava careca ao mesmo tempo. Os peitos siliconados balançaram e quase se vingaram estapeando a minha cara de volta.
    E eu que pensava que eles nem balançassem.                                                                                                                                               
— ME SOLTA, ALFREDO. ME SOLTAAAAAA! –  gritei enlouquecida, chutando para que me deixasse bater mais na sem vergonha.
— Uhhhhhh! — urrou ele quando acertei seus países baixos. Quase senti pena. Quase.
— Como pôde fazer isso comigo? — falei, com a respiração aos tropeços.
— Meu amor, eu juro que foi a primeira vez. Isso nunca mais vai acontecer, eu  juro. Eu amo você.
— O quê?! — A lambisgoia se ergueu, em toda a sua glória de peitos. — Momentos atrás você disse que me amava, que iria se separar dessa... dessa... gorda.  

 Alfredo fuzilou a amante com o olhar e por um instante, eu quis acreditar que ele pudesse se importar de verdade. Mas nao durou, e me senti uma idiota, pois diante de um ato de traição, eu estava pronta para perdoa-lo se visse qualquer sinal da parte dele que demonstrasse amor por mim, mas ele nada disse para responder a ofensa da amante sobre mim.

Que burra Cassiopeia.
Respirei fundo, percebendo que não me senti ofendida por ter sido chamada de gorda, afinal, me acho maravilhosa com meus seios fartos, minha pele morena, belos olhos verdes, cabelos castanhos longos e ondulados, um belo par de pernas e um bumbum de dar inveja. Tenho belas curvas e não as escondo. Gosto de roupas apertadas marcando o que tenho de melhor... muita carne boa. Tem homem que gosta de ter onde pegar e eu tenho de sobra.

 Entretanto, não sou o tipo de mulher que fica calada.
— E você,  sua magricela? — rebati — Só vejo peito aí. Cadê sua bunda, será que meu marido conseguiu afundar ela com estocadas brutas? — gargalhei feito uma louca e olhei para Alfredo em seguida, com desdém. — Acho que ele não teria essa capacidade, olha só para o coitadinho, tão modesto — falei, baixando meus olhos para dar ênfase ao que estava me referindo. — Sabe, querido, você deveria se chamar Alfredo Modesto. — Chorei de rir da minha piada, pouco me importando com o espanto na cara dos dois enquanto me olhavam.
— Não precisa se preocupar, quando chegar em casa suas coisas estarão esperando por você... — continuei — Ele sorriu confiante, satisfeito, crente que ainda se daria bem no final, mas eu acabei com a alegria dele. — Na rua.
— Não, por favor, não faça isso comigo. Foi ela, essa vagabunda que me sequestrou, me obrigou a entrar com ela neste motel. Eu juro que sou inocente. — Ele segurou minhas pernas, ajoelhando-se aos meus pés e chorando.

Chorando. Dá para acreditar?
— Como é que é? — A tal se levantou com sangue nos olhos e começou a esmurrar o Alfredo enquanto ele tentava me segurar e implorava para eu não deixá-lo. Foi hilário, tenho que confessar.
Antes de sair, me lembrei da música da Naiara Azevedo e deixei cinquenta reais sobre a cama bagunçada.
— Meu último ato de caridade a você, já que de agora em diante não vou mais te sustentar.
Saí plena,  enquanto ouvia ele me gritar e brigar com a vagaba destruidora de lares.

                              💋    

Um ano e meio morando com aquele cretino. Fiz tudo pelo desgraçado, trabalhei para que ele pudesse seguir os projetos que dizia estar terminando, mas que nunca ficavam prontos.
— Ai, Cassiopeia, ele te enrolou direitinho. Sua anta.
Cheguei em casa e caí no sofá com um pote de sorvete e uma colher que mais parecia uma pá, na intenção de enfiar ela cheia na boca e congelar meu cérebro. Talvez me sinta menos bosta, menos burra.
— Que raiva, que vontade de matar...
Meu celular tocou e eu atendi chorando quando vi quem era.
— Mãe! — funguei, falando com a boca cheia de sorvete.  — Aquele filho de chocadeira me traiu!
Chorei copiosamente.
— Minha pobre menina, desde o início te avisei que ele não prestava.
— Eu seiiiiiii! O que vou fazer agoraaaaa! Eu amava aquele desgraçadooooo. - Chorei feito uma bebezona.
— Supera querida. Lembra da música, " se ele não te quer, supera". É o que você  precisa fazer.
— Como mamãe?
— Arrumando um cara com uma pica das galáxias.
— O quê?!  Ficou louca, Dona Doralice? Não é disso que eu preciso.
— Acredite, minha querida, o poder de cura de uma boa pica é milagroso - afirmou e eu fiquei embasbacada.  

Ok, minha mãe sempre foi desbocada e maluca, mas falar para eu arrumar um... enfim, enorme para me curar... Aí já é demais.

— Eu aqui sofrendo e você pensando em pau. Fala sério, mãe.
— Nada melhor que um cara com um instrumento faz tudo: Preenche o vazio, coloca tudo no lugar certo, te leva ao céu, te liberta do passado.

— Você  é uma safada, Dona Doralice.
— Olha o respeito, menina, eu ainda sou sua mãe. E apenas por isso,  vou arranjar tudo para você.
— O que quer dizer ?
— Estou chegando aí e explico. Sua tia vai junto, esconda as garrafas de bebida.
— A tia Mimi?!
— A única. — Ela desligou e eu enfiei outra colher de sorvete na boca, fazendo careta ao sentir meu cérebro congelar.
Quinze minutos depois, abro a porta do meu apartamento para minha mãe e tia que entram dando risadinhas de quem fez alguma travessura.
Mamãe tinha dezenove anos quando eu nasci. Ela desistiu dos próprios sonhos para cuidar de mim depois que meu pai nos abandonou. Ela é uma maluca, mas é uma mãe e tanto. A tia Mimi ajudou na minha criação, já que não tínhamos mais ninguém.
— O que as duas aprontaram? — questiono, já sabendo que elas não tem nada de santinhas.
—Nada, meu amor, quanta desconfiança. Eu, hein!
—Ok. Digam logo o que querem, porque estão atrapalhando a melhor hora da minha fossa. Eu estava prestes a ouvir Celine Dion cantando All by my self.
— Não pare por nossa causa. — Elas deram mais uma risadinha que já me fez perder a paciência
— Já chega! Desembuchem logo.
— Tá legal. — As duas se sentaram e tia Mimi deu uma cubada de olho no ambiente.
— Tem um pouquinho de álcool aí? — Estreitei os olhos na direção dela.
— Não. Agora falem.
— Contratamos um GP para você.
— E o que é isso?  — Elas se entreolharam e eu vi logo de cara que não iria prestar.
— Um garoto de programa —  respondeu minha mãe, como se estivesse falando sobre o clima. Sua naturalidade me deixou preocupada.
— Nem em sonho. Não vou me envolver com algo tão sujo — falei, indignada.
— Que isso, meu amor, eles são tão limpinhos e cheirosos.
— Como sabe disso, mamãe?! — Olhei chocada para ela, que pareceu nem se abalar.
— O que foi?! — Doralice me olhou como se eu tivesse chifres, então bufou antes de me insultar. — Você deveria ser freira, minha filha, caberia feito uma luva na sua inocência. 

— Não sou nenhuma puritana,  apenas fiquei surpresa porque a senhora nunca falou sobre esses assuntos, quem diria com tanta naturalidade.

— Bem, eu precisei de diversões seguras durante muito tempo. Jamais confiei em homem nenhum perto de você. Em todos esses anos, tive três namorados apenas, e não dei certo com nenhum deles. Sabe por quê? — Balançei a cabeça, negando.  Ela nunca tinha me falado sobre seus namorados. — Todos olharam de maneira estranha para você e eu não quis dar sorte ao azar.
— Sinto muito por isso, mãe.
— É aí que está, meu amor. Não sinta. Tive as melhores experiências, sem paixonites, sem complicações. Sou feliz e plena. — Ela bateu palma e jogou os braços para o alto, como se comemorasse.
— Existem homens bons, mamãe.
— Não  quis arriscar, além disso, vivi muito feliz até hoje assim. Imagina se eu tivesse arrumado outro traste feito o seu pai fujão?
— Olhando por esse lado... Mas agora sou adulta, a senhora pode encontrar um amor.
— Meu amor é você e é a sua vez de se curar de um traste.
— Não vou me encontrar com um garoto de programa.
— Vai sim e será amanhã.
— Vocês enlouqueceram de vez! Estou um trapo e querem que eu seja usada por um cara que eu nunca vi?!
— Você é quem vai usá-lo, querida. — Tia Mimi sorriu maliciosa.
— Ele é acompanhante de luxo. Escolhi a elite para você.
— Como se isso diminuísse o que ele faz da vida, mamãe — recriminei-a.
— Vamos fazer um acordo. Dois encontros seus com o GP e eu terei dois encontros com algum cara que eu conhecer na balada esta noite.
— Vai pra  balada? Nem eu vou na balada há anos.
— Você é quase uma velhinha, meu amor. Por isso estou dizendo para aproveitar. Se joga, mulher!
— Ai, credo, vocês duas me dão medo, sabia?
— Temos um acordo? — Dona Doralice me ofereceu um olhar cheio de expectativas.

 Pensei por bastante tempo, deixando as irmãs sem juízo, inquietas. Seria, com certeza, a coisa mais ousada que já fiz na vida, mas talvez as maluquinhas estejam certas.
— Tudo bem, eu aceito — disse de uma só vez, antes que a coragem evaporasse.  As duas pularam do sofá, gritando em comemoração.
— Não é para tanto — resmunguei.
— Acredite, se tratando de você, vale fogos de artifício. — Mamãe sorriu,satisfeita.

Me apaixonei por um GP - Garoto de Programa Onde histórias criam vida. Descubra agora