Capítulo 2

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Capitulo 2                            

No dia seguinte, cheguei no trabalho toda moída.
Rolei a noite inteira, sonhando com um homem musculoso, mas sem rosto. O cara tinha a tal pica das galáxias.
Ah, isso eu vi nitidamente. E a forma como ele usou aquilo tudo em mim... Foi mesmo de outro mundo.
Acordei descabelada e amassada, como se tudo tivesse sido real.
— Foi atropelada  por um caminhão de lixo? — Abaixei um tantinho meus óculos escuros e mirei bem a morena à minha frente.
— Quase isso, Morgana. Foi um objeto voador não identificado,  na verdade.
— Me sentei na mesa do escritório de contabilidade, ignorando os olhares dos meus colegas de trabalho. Só não pude evitar o olhar inquisitorial da minha amiga. 

— O Alfredo me traiu. Peguei o safado no ato. —  Ela não pareceu surpresa com a notícia.
— Isso foi um livramento, Cassiopeia. Aquele homem era um encosto.
— Para completar, minha mãe contratou um garoto de programa para curar minha dor de cotovelo.  —  Agora ela ficou surpresa, tanto que quase caiu da cadeira.
— Sua mãe é doidinha, né?
— Eu aceitei.
— O QUÊ?! — Ela engasgou com o próprio grito e começou a tossir sem parar.
— Ai, meu Deus, você está vermelha! —  Abanei a pobre coitada com um pedaço de papel e depois de quase morrer, Morgana começou a se sentir melhor. Dei água a ela, para ajudar sua voz a retornar.
— Não acredito —  começou, com a voz arranhando na garganta - que você vai fazer isso.
— Nem eu. Mas foi um acordo, e é do meu interesse que  ela cumpra a parte dela. Quero que minha mãe encontre a felicidade, não apenas aventuras sem sentido. Desejo vê-la acompanhada de alguém que não seja a tia Mimi e garrafas de whisky.
— Não quis te julgar, apenas fiquei surpresa. Você sempre foi tão certinha.
— Acho que ser a "mulher modelo " não impediu que eu fosse mais uma traída no mundo. Então, que se foda, quero ver os serviços que o boy magia tem a oferecer.
— É assim que se fala. Vou querer detalhes. — Morgana esfregou as mãos, toda assanhada e ansiosa.
— Espero que valha a pena. — Soltei o ar, apreensiva.
— Tenho certeza que valerá cada centavo.

                              💋    

À noite,  Morgana, minha mãe e tia Mimi, chegaram para me arrumar.

— Morgana do céu, o gogo boy dançava na minha frente e eu ia ao delírio. Imagine um homem gostoso... — Dona Doralice esperou a imaginação da minha colega de trabalho entrar em ação e então ergueu as mão. — Não,  para,  o que você imaginou é pouco, se empenha mais. 

— Como sabe o que eu pensei? — Revirei os olhos para a inocência de Morgana.

— Mãe, chega de encher o ouvido da coitada de sacanagem.

— A cueca do boy parecia mais uma segunda pele — prosseguiu ela, me ignorando completamente — e era tão recheada que dava água na boca só de olhar.

— Você  pegou no recheio? — Olhei para Morgana, abismada com o interesse dela no assunto.

— É claro! Massagiei,montei e me esfreguei nele com vontade. Você não faz ideia do tamanho do mastro que se ergueu na cueca abaixo de mim... Nem tive coragem de arriscar. Mas alguém teve. — Ela apontou para a tia Mimi.

— Não vou falar desse assunto. — Fez charme, como se não estivesse se coçando para narrar cada detalhe.

— Ah, fala Mimi! — Minha colega de trabalho parecia um cachorrinho atrás do osso.

— Ele era um titã, essa é a verdade. Eu disse a ele: não vai passar, olha o tamanho dessa cabeça! Ele respondeu: relaxa que encaixa. Mas, gente, foi um regaço. As estocadas pareciam mais o tranco de uma arma ao dar tiro. Pensei que eu andaria de pernas abertas eternamente.

— Não exagera, tia Mimi. Ninguém é capaz disso. Não existe homem assim.

— Para você não existe mesmo, só teve aquela vergonha do Alfredo —  alfinetou mamãe.

— Estão terminando? — falei, de costas para o espelho, enquanto aguardava as minhas fadas assanhadinhas terminarem de me arrumar.

Elas fizeram um check list do trabalho realizado,  cantando, dançando e rebolando até o chão enquanto me usavam como apoio: 

(...) É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez
Cabelo ok, maquiagem ok, sobrancelha ok, a unha tá ok
Brota no bailão pro desespero do seu ex (...)

— Deus, vocês são malucas.

— Deixa de ser cri-cri, querida.

— Eu não vou para o bailão, mãe, nem quero desesperar meu ex. Estou indo me encontrar com um garoto de programa, lembra?

— Deveria estar mais sorridente por isso, você anda tão ranzinza. Mas tenho certeza que depois desta noite você ficará completamente afável. — Tia Mimi sorriu, cheia de malícia como sempre.

— Pronta para ver a transformação? — Assenti e me surpreendi com o resultado.

— Nunca pensei que eu pudesse ficar mais linda do que já era.

— Pelo menos, a autoestima você tem para dar e vender. Espero que use isso com o boy esta noite, porque ele vai te bagunçar inteira.

— Espero que ele valha cada centavo que a senhora pagou ou vou pedir o dinheiro de volta.

— Pobrezinha, foi tão mal comida  a vida toda que não acredita que possa existir um príncipe das fodas.

— Fica quieta tia Mimi. — Olhei feio para ela.

Depois de fazer vários exercícios de respiração e mudar as garrafas de bebida de esconderijo — pois a tia Mimi havia descoberto onde todas estavam e já estava trocando maçarico com penico —, saí para o meu encontro com o pica das galáxias.

Espero que ele seja um asteróide e não uma mísera pedrinha de meteorito.

Cheguei no hotel do encontro, e ignorando o olhar de desdém da recepcionista — uma rivalidade que eu acho bem desnecessária, afinal, ela nem me conhece —, peguei o cartão correspondente ao quarto reservado e fui em direção ao meu destino daquela noite.

 Bati na porta, pois a recepcionista disse que meu acompanhante já havia chegado há meia hora. Reprimi uma gargalhada quando ela disse acompanhante.

Enfim,  eu não queria chegar e entrar no quarto, por isso, aguardei que a porta fosse aberta.

Ah Dona Doralice, só você mesmo pra me colocar em uma situação dessas.

A porta abriu em poucos segundos e meus ossos e músculos quase liquefizeram-se.

Minha Nossa Senhora das mulheres traídas e mal comidas, que deus é esse?

— Sou Apolo. — Além de deus da beleza e dono da Galáxia Picas ... digo, dono da pica das galáxias, ele também lia mentes. — E você deve ser Cassiopeia.

Me apaixonei por um GP - Garoto de Programa Onde histórias criam vida. Descubra agora