Capítulo 8
CassiopeiaCheguei no hotel do encontro.
Não era o mesmo da outra vez, mas parecia ser tão caro quanto. Um hotel de luxo para uma agência de acompanhantes de luxo. As pessoas que pagavam pelos serviços da Dream That Comes, eram abastadas no dinheiro, eu não tinha dúvidas quanto a isso.
Em minha humilde vidinha, eu jamais teria uma chance por aqui, mas Dona Doralice tinha bons contatos, apesar que ter um cafetão na lista de contatos não era um tipo de vantagem para se gabar por aí.
Tudo isso me fez pensar no hotel anterior. Provavelmente, ele estava em reforma depois do estrago daquela desgraça de explosão.
Por que um pensamento tem que levar a outro e lembranças tem que chamar outras? Isso era uma grande merda, pois lembrar daquele dia me fez pensar em algo que eu evitei admitir todo esse tempo, até agora.
Eu ainda queria muito o Apolo.
Deus, e eu queria muito que aquele prostituto mafioso tivesse me macetado com aquele asteroide destruidor de mundos e me feito esquecer em qual planeta eu estava.
Bom, pelo menos eu mamei gostoso naquele prostituto caloteiro.
Falando nisso…
Peguei meu celular e liguei para mamãe.
— Querida, está precisando de conselhos para enlouquecer o GP? — Rolei meus olhos quando escutei as risadinhas de tia Mimi e Morgana do outro lado.
— Não é nada disso, eu queria saber se recebeu o reembolso.
— Claro, Cassiopeia. Eu sou uma mulher de negócios, inclusive, o garoto de programa de hoje é um bônus de pedido de desculpas. Rocco sempre foi ótimo em se desculpar.
— Era só isso que eu queria saber. Até mais tarde.
— Senta nele, querida…
Ainda ouvi Dona Doralice dizer antes que eu encerrasse a ligação.
Bom, pelo menos aquele mafioso gostoso não é caloteiro.
Atravessei o hall do hotel até a recepção para pegar o cartão que dava acesso ao quarto e enquanto a moça me entregava, olhei mais de uma vez para ela com curiosidade, então percebi que era a mesma do outro hotel.
Será que foi demitida? Talvez trabalhe nos dois hotéis. Em fim, não me interessa.
Segui em frente para a minha noite que prometia ser memorável no quarto 69.
Esse número seria um presságio?
Eu acreditava que sim.
Saí do elevador e passei por um corredor que possuía uma luz aconchegante e um tapete vermelho que quase me fez tirar minhas sandálias de salto e andar descalça, tão macio ele parecia ser.
Se eu fosse uma gata, com certeza estaria me esfregando corredor a fora, experimentando cada centímetro desse tapete que deveria ser caríssimo.
Parei em frente ao meu destino da noite e desta vez, encostei o cartão magnético na porta em vez de bater e esperar como da outra vez. O clic da porta se abrindo me causou uma espécie de déjà vu. Tive a sensação de que encontraria aquele deus grego do Apolo parado me esperando, mas para a minha surpresa, havia apenas… silêncio.
Que estranho! Pensei após entrar e fechar a porta.
Não. Espera. Havia um som, sim.
Era um ronco que eu estava ouvindo? Parecia um trator trabalhando enlouquecidamente.
O quarto era grande e a cama ficava bem no final dele. Andei apressada até lá, meus saltos batiam forte contra o piso que mais parecia um espelho de tão lustrado que era, mas nem meus saltos finos atrapalharam o trabalho do trator.
Parei ao pé da cama e observei o indivíduo que usufruia de todo o isolamento acústico do quarto.
Ele usava uma cueca boxer vermelha e apenas isso.
Pelo menos ele tentou adiantar o rolê.
Dei uma mapeada no cidadão e vou te falar, era um negão de tirar o chapéu. E eu daria mole, com certeza, para ele créu em mim, de ladinho, de frente, de costas, até me deixar de perna bamba.
A convivência era mesmo uma vadia às vezes. Acabei pegando a mania da Mamãe e da tia Mimi em usar música em todas as situações.
Ele parecia ter uns vinte e cinco anos, a mesma idade que eu.
— Ei — chamei — Vamos trabalhar?
Nada.
Puxei o dedão do seu pé.
Nada.
Passei minhas unhas no meio do seu pé esquerdo e no mesmo segundo
o trator deu uma afogada, mas depois voltou a funcionar como antes.
O que esse cara tomou, afinal?Apolo Arcângelo
Algumas horas antes do encontro de Cassiopeia com o GP.
— Ah, Cassy, você não vai abrir suas pernas deliciosas para mais ninguém além de mim. Pode me chamar de prostituto possessivo depois, eu não me importo, desde que fale isso gemendo de prazer embaixo de mim.
— Falando sozinho, Mike? — Rick entrou no banheiro quando eu estava terminando de lavar minhas mãos e pegou o final do meu diálogo com o espelho.
Ele não sabia que eu me chamava Apolo, ele,inclusive, não se chamava Rick. Usávamos nomes fictícios para escondermos nossas verdadeiras identidades. Apenas Rocco, meu irmão Dionísio que cuida do sistema da agência, e meu irmão Hermes, que cuida dos contratos, juntamente com Rocco, sabiam.
Graças ao Dionísio, eu descobri que Rick é o cara que foi escolhido para fazer o que “eu não fiz”.
Inferno! Isso me fez ter vontade de socar alguma coisa.
Eu não sei o que aquela mulher fez, mas ela conseguiu entrar na minha mente de uma maneira que se tornou impossível para mim pensar em outra coisa que não fosse ela chamando meu pau de asteróide destruidor de mundos ou com raiva enquanto me chamava de prostituto mafioso ou me pedindo reembolso, que foi o que me quebrou de vez.
Pode ter sido orgulho ferido, da minha parte? Com certeza.
Mas tem mais, muito, muito mais.
Ela possuía uma energia e um magnetismo de pura autoconfiança que me deixou desconcertado no instante em que ela caminhou decidida para dentro do quarto do hotel, me deixando hipnotizado por sua desenvoltura.
Talvez fosse esse o motivo que me fez dizer meu verdadeiro nome a ela no dia em que nos conhecemos. Foi burrice, mas ela era incrível.
Aquela mulher me deixou de boca seca e sem palavras.
Uma coisa sobre mim: Eu nunca me senti inseguro, intimidado, ou sem jeito e sem saber o que dizer.
Cassy gostosa conseguiu me causar tudo isso.
Agora, eu estava curioso para saber se ela era mesmo tudo o que minhas primeiras impressões registraram.
Eu estava sedento por aquela aura de poder que ela emitia, uma força vital que eu nunca vi igual.
Eu deveria passar longe dela? Provavelmente.
Só tem um problema: Ela me pesou, mediu, e me considerou “incompetente”.
Desde então, eu só tenho um pensamento: Mostrar àquela gostosa o quanto eu posso ser competente.
— Tem um boato rolando na agência que uma das suas clientes pediu reembolso — O desgraçado deu uma gargalhada. — Desculpa Mike, mas eu nunca vi isso acontecer e eu já trabalhei em duas agências, cara. O que você fez? Ou melhor — ele dá outra risada e nem tenta disfarçar —, o que você não fez?
— Sabe como é, imprevistos acontecem e eu estava mesmo procurando você aqui na agência. Eu preciso de conselhos, Rick, e sua fama é boa entre as senhoras cheias de dinheiro.
— Elas me adoram, mesmo. Mas, eu só dou o que elas pedem e…
— O que acha de sairmos para beber um pouco, e então você me fala melhor sobre isso? — Fui direto, pois não queria perder a minha única chance.
— Eu não sei, tenho um programa daqui uma hora e meia e Rocco disse que é para eu caprichar pois é uma pessoa querida para ele. — Meu maxilar deve ter fraturado agora, pois eu nunca o apertei com tanta força.
Caprichar? Vai sonhando, camarada.
Ele não sabia que sua cliente era a minha, assim como eu também não deveria saber, pois são coisas sigilosas na agência. Os clientes não querem ser expostos, para isso, o sigilo entre contratado e contratante.
— Eu te dou uma carona até o lugar marcado, não se preocupe.
— Parece mesmo desesperado por conselhos. — Me olhou cheio de si e eu tentei não rir na cara dele.
— Sim, é um tipo de desespero que nos faz cometer loucuras.
Nós saímos da agência no meu carro e eu dirigi até um bar que ficava próximo a praia e também ao hotel onde Rick se encontraria com a minha cliente.
Nós escolhemos uma mesa ao ar livre para aproveitar a maresia da noite.
Rick estava bem animado, falava pelos cotovelos e bebeu quatro cervejas - algo que eu não faria se tivesse uma cliente para aquela noite - mas eu nada disse, pois ele estava indo exatamente para onde eu queria.
Quando ele estava rindo mais do que quando fez piadas sobre mim no banheiro, eu decidi que era hora de ir.
Paguei a conta e ajudei Rick a entrar no carro, seguindo direto para o hotel. Tentei calcular bem o tempo para aquela noite, então estávamos bastante adiantados e Cassiopeia ainda levaria um tempo para chegar.
— Mastiga essa bala, Rick, ou sua cliente não vai suportar esse cheiro de cerveja e vai pedir reembolso — sugeri com um sorriso forçado, entregando uma balinha para ele.
— Impossível ela fazer isso depois de uma noite comigo. Eu sou foda, cara, as mulheres vão embora com um sorriso que vai de orelha a orelha. Eu nunca deixei uma cliente insatisfeita. — O olhar que lançou em minha direção deixava a indireta explícita e me atingiu bem na cara, mesmo eu sabendo que não tive culpa. Bem, não diretamente.
— Mastiga a balinha e economize suas energias até sua cliente chegar — mandei, sutilmente, que calasse a boca.
Que Deus julgasse a minha causa e não me condenasse, porque eu não iria deixar esse idiota arrogante colocar as mão na minha cliente.
Quando minha irmã desapareceu, um psiquiatra receitou um remédio que me ajudou a dormir, pois eu não era mais capaz com todos os pensamentos aterrorizantes que tomavam conta da minha cabeça, imagens terríveis do que poderia estar acontecendo com Perséfone.
Eu apagava em minutos e só acordava no outro dia.
Bem, que viesse o julgamento, pois eu consegui uma receita um tantinho mais forte do remédio em questão e Rick estava terminando de mastigá-lo.
Estacionei o carro e o acompanhei até a recepção, apenas para me certificar de que ele não cairia no hall do hotel.
Ele pegou o cartão magnético na recepção enquanto flertava com a moça que parecia bem familiar para mim.
— Acho que pedirei ao Rocco um espaço extra na agência, para ensinar como ser um garoto de programa irresistível — gabou-se, antes de entrar no elevador, me deixando com a boca cheia de cobras e lagartos para cuspir em cima dele.
Como se não tivesse sido o bastante ouvi-lo fazer piadinhas sobre o número do quarto ser 69.
Rocco deveria ser humorista, e não, cafetão.
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Me apaixonei por um GP - Garoto de Programa
Lãng mạnMulher traída? Confere. Mãe maluca e tia mais doida ainda? Confere. Boy lindo e gostoso? Confere. Cassiopeia se sente no fundo do poço após ter sido traída. Sua mãe, sempre alegre, não quer ver sua amada filha em tal situação, então, prepara a únic...