Capítulo 14

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Capítulo 14

Cassiopeia 

Eu estava de volta a sala do cafetão mor e não estava sozinha desta vez.

Alfredo tremia tanto que eu quase abracei o pobre coitado. 

— Estou chegando à conclusão de que você é como aqueles alunos que vivem na sala da diretoria. Sempre aprontando. — Arreganhei meus dentes em um sorriso horroroso, mas eu não tinha outro para a ocasião.

— Então vocês se conhecem? — interrogou o ariano do Hitler.

— S-s-sim — gaguejou o bola murcha. — Morávamos juntos, c-c-como ca-casal. Informação demais, Alfredo. Cale a boca, homem! Eu queria avisá-lo.

Espera! Para tudo! Ele disse que morávamos juntos, c-c-como ca-casal? 

Mas eu era virgem, caralho! Quero dizer, para o ariano do Hitler eu era. Não era? Ele acreditou em mim, não acreditou?

Quando eu penso que a minha vida não poderia ficar mais fodida, o Alfredo vem e dá a estocada final.  Quero deixar claro que não foi nada gostosa.

— Interessante. — O dono do pedaço coçou o queixo enquanto analisava meu ex. Um misto de curiosidade e desgosto tomou conta de seu rosto.

Ai, meu pai eterno, eu estava me tornando uma desafortunada, não havia outra explicação. 

Será que deixei de alimentar meu duende?

Eu não tinha duende, então não era isso.

Roubei a moeda de alguém em alguma fonte dos desejos?

Eu nunca conheci nenhuma dessas fontes.

Bati em minha mãe?

Jamais!

Neguei bebida alcoólica à tia Mimi?

Sim, diversas vezes, mas isso conta como boa ação, não é?

Deixei o chinelo virado?

Não, eu sempre desvirava.

Será que vesti a roupa do lado avesso?

Provavelmente, pelo menos uma vez na vida.

Passei debaixo da escada?

Sim, mas eu sempre passava de volta. Isso desfaz o infortúnio, não é?

Será que entrei com o pé esquerdo neste lugar?

Eu estava desacordada, então fui carregada. Significa que não entrei com pés nenhum no chão.

Já sei, eu desci da cama com o pé esquerdo. As chances eram bem altas.

Será que eu cruzei com um gato preto em uma sexta-feira treze?

Não me lembro, mas é possível. 

Talvez eu tenha aberto o guarda-chuva dentro de casa.

Espera, alguém realmente faz isso? Eu não fiz, tenho certeza.

O Espelho. Ai, meu Deus, eu quebrei um espelho há um mês.

— Então você não é virgem? — Dei um pulinho no lugar quando a voz grave me trouxe de volta à realidade.

Como eu iria me safar dessa vez? O ariano do Hitler estava salivando para me traçar no café, no almoço e no jantar.

— Vai acreditar neste homem? — protestei, dando o meu melhor na dramatização. — Ele fez uma aposta entre os amigos de que tiraria a virgindade da gordinha — o queixo do Alfredo quase foi ao chão, mas eu continuei —, então veio com lábia e baba de calango para o meu lado. Eu quase acreditei, mas descobri tudo antes que fosse tarde demais. Ele é um mentiroso e traidor.

Me apaixonei por um GP - Garoto de Programa Onde histórias criam vida. Descubra agora