— Você não é aquela mulher que está foragida? Suspeita da morte de uma outra mulher que parece ter sido a primeira esposa do famoso e perigoso Antônio La Selva?
Ótimo, dei a ele conhecimento de toda minha vida em um ato mal pensado. Burra burra burra burra, mil vezes burra!
Desejei que não me obrigasse a ter que dar um jeito naquela sua boquinha desenhada para que esta permanecesse fechada e não me entregasse. Não por medo, não por pavor, não por ter algo a perder, mas por puro instinto de sobrevivência.
— Vai me denunciar? — perguntei séria olhando no fundo de seus olhos, recebendo dele o mesmo olhar.
— Você vai me matar? — interrogou sem medo
Só se você me obrigar. Pensei, mas como obviamente não pude lançar tal ameaça, respondi sua pergunta com outra.
— É uma retórica? Claro que não vou te fazer nada. O que é que eu ganharia com isso?— Um carro blindado? — ele riu
— Imbecil — respondi sem olhá-lo,
— Tem razão você não ganharia nada me matando, do mesmo modo que eu não ganharia nada te denunciando.
— Ótimo, agora podemos ficar sem falar.
Havia uma pequena tensão no ar, podia sentir seu olhar penetrante sobre mim enquanto eu estava encostada na janela gélida observando a estrada.
Pingos de chuva começaram a cair sobre o vidro, transformaram-se em uma tempestade pavorosa poucos minutos depois.
— Viu? Você ia pegar chuva — disse me encarando. De teimosa não correspondi seu olhar e continuei a fitar a janela.
— Talvez — realmente não queria conversar. Será que era tão difícil para ele entender?!
— Qual sua história Irene?
— Não tenho história
— Não é o que os jornais dizem
- Então vai logo lê-los! Não perca seu tempo tentando falar comigo. — ordenei em voz alta finalmente olhando-o. Ele, por sua vez, me encarou com um sorriso fraco, fazendo-me questionar mentalmente por qual razão sorria, parecia-me bobo demais, idiota demais.
Porém, por ironia do destino um silêncio constrangedor pairou no ar e quem ficou desconfortável fui eu, sentindo-me na obrigação de falar algo para aquele que eu julgava tolo
— Olha, eu...eu não quero falar sobre isso agora tá? É tudo muito difícil e...complicado — suspirei profundamente após me referir ao passado.
— Ué, tá falando comigo? — fitou meu rosto devagarosamente, como se analisasse meus traços e sorriu mostrando os dentes, fazendo-me reparar no seu sorriso pela primeira vez e em como era bonito.
— Não deveria pelo visto — dei uma risadinha por conta da situação e senti seu olhar fixo sobre mim, mas assim que deixei de sorrir Rodrigo voltou a prestar atenção no trânsito.
Me acomodei melhor no banco, colocando minhas mãos sobre minhas pernas cobertas por uma jeans barata e sendo acometida por um terrível sono que me levou a dormir ali mesmo.
Com um toque suave no antebraço despertei. Senti que já conhecia aquelas mãos que me tocaram mansamente o pulso, eram as mãos dele. Olhei em sua direção, vendo-o me encarar através da porta aberta do carro.
— Chegamos — enunciou em baixo tom, como se não quisesse me acordar verdadeiramente. O céu já estava claro e o sol se fazia presente, parecia ser de manhãzinha.
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Recomeço - 𝗧&𝗣
Fanfiction𝐃o dia para noite o maior pesadelo de Irene se tornou real: Seu marido, Antônio La Selva, descobrira sobre seu envolvimento na tragédia que matou o filho mais amado do casal. Ela sabia que para aquele erro maldito que havia cometido não havia perdã...