capítulo dezesseis

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O relógio digital em meu pulso direito indicava 18:30. Rodrigo ainda não havia chegado da empresa e a chefe confeiteira me olhava impaciente. Meus dedos tamborilavam sobre a mesa fria de vidro e meus lábios sustentavam um falso sorriso para a mulher mal humorada a minha frente.

Ele prometeu que viria mais cedo para experimentarmos os malditos doces

Pensava incessantemente


- Suponho que marquemos a degustação dos doces e do bolo para outro dia. Meu noivo deve estar preso no trânsito, sabe como é - forcei uma risada

- Se está atrasando até em uma prova qualquer imagine no dia - a mulher sussurrou com audácia

Meus punhos se fechavam por debaixo da mesa na medida que a raiva tomava conta de meu corpo

- O que foi que disse? - indaguei de forma rude e grosseira.

- Nada, senhora - concluiu com temor fazendo-me rir internamente, me divertindo com seu medo

- Acho bom, agora pode ir - assim que proferi as últimas palavras, Rodrigo adentrou a sala e eu o fulminei com o olhar. Ele percebeu minha indignação e se aproximou com mansidão, beijou minha bochecha e cumprimentou a confeiteira com um aceno de mão

- Desculpe o atraso

- Achei que não viria ou que simplesmente tivesse esquecido - as palavras saíram queimando de minha garganta, meu corpo borbulhava de tanta irritação.

O problema era que Rodrigo não estava sendo participativo nos preparativos do casamento. Dizia que não tinha paciência para essas coisas e que meu gosto era melhor que o dele em tudo por isso eu devia escolher. Eu afirmei que a ideia foi dele e não era justo que eu tivesse que arcar com tudo, já não bastava o fato de eu ter arranjado desde o cerimonialista até o promotor de eventos ou o desing de interiores que cuidaria da decoração.
Esse tema nos gerou algumas discussões que no fim resultavam em quase nada

- Houve um imprevisto na empresa.

Assenti com a cabeça sem nada dizer. Cortando o clima tenso a chefe confeiteira audaciosa começou a falar sobre os doces finos e seus diversos sabores e formatos. Nos apresentou também os mais aclamados sabores de trufas, diversos bem-casados, diferentes camafeu de nozes, mini tortinhas de frutas, e até alguns brownies.

Experimentei alguns doces finos juntamente com Rodrigo que aprovara todos, parece nem degustá-los direito

- Vamos fechar esse kit aqui de
doces - disse apontando para uma das embalagens com diversos brigadeiros
- Pois os sabores são mais variados e tem a acidez das frutas cítricas, como morango, abacaxi e laranja

- Perfeitamente. E o senhor o que
acha? - perguntou dando uma piscadela para Rodrigo, fazendo novamente meus punhos se cerrarem por tamanho assanhamento.

- ELE acha o mesmo que eu. Não é Rodrigo? - a fúria era explícita em minha voz

- Claro - seu rosto transmitia uma tranquilidade cínica, como se risse de minha irritação.

Escolhemos mais alguns doces e Maria, a chefe, nos apresentou alguns bolos pequenos com sabores diferentes conforme eu havia indicado. Apresentou também alguns desenhos de como a decoração e o formato do bolo poderiam ser

- Olha, tá tudo muito bom, mas eu não aguento mais comer doce - disse levantando-se e eu segurei seu braço com tanta força que a ponta de meus dedos ficaram esbranquiçados. Era dever dele permanecer ali.

Recomeço - 𝗧&𝗣 Onde histórias criam vida. Descubra agora