capítulo vinte e dois

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N/A: Chegamos ao último capítulo dessa longa história e eu tenho a agradecer, mas vou deixar minhas declarações para o final. Desde já agradeço-lhes por tudo. Espero que
tenham uma boa leitura.

Ouçam neste último capítulo: Eternamente - Gal Costa

Capítulo XXII

É difícil explicar a sensação que tive quando vi Nicolas e o segurei nos meus braços pela primeira vez, mas se tem algo que posso afirmar sobre aquele momento é que senti como se ele fosse meu. O meu amor mais puro e intenso. O meu filho, ser que não gerei, mas que me pertencia de alguma forma. Como se pela primeira vez em anos tudo fizesse sentido na minha vida. Como se finalmente eu tivesse um propósito no mundo, que seria cuidar daquela criança e dedicar-me inteiramente a ela. Não por necessidade ou tédio, mas por amor. Eu amava-o muito, o amei de forma imediata, genuína e verdadeira.

Por isso, sentada naquela cadeira metálica e gelada, perante aquelas pessoas tão sérias, eu me encontrava estupidamente nervosa. Não podia perdê-lo.

A nossa direita estava o advogado que costumava atuar em processos de adoção e especializado em direitos da família. Este nos representava pois acompanhou o caso desde o início. A nossa frente, do outro lado da mesa, estava o promotor da vara infantil,e a assistente social, mais especificamente Cecília. Na ponta da mesa o juiz que encarava todos com seriedade e descrição.

Naquela manhã o céu estava nublado, repleto de grandes nuvens cinzas anunciando a forte chuva que cairia. A sala de audiência estava fria e silenciosa. Todos aguardavam a palavra inicial do juiz. Meu olhar vagava entre os rostos tensos do lugar, enquanto eu mesma não me aguentava de ansiedade. Rodrigo fitava uma das janelas de vidro, olhando silenciosamente os altos prédios que rodeavam o que estávamos. Parecia tranquilo ,mas eu não tinha tanta certeza de sua tranquilidade

O juiz deu início a audiência. Apresentou os que ali estavam e releu a causa. Afirmou que não tinha litígio no processo, o que poderia tornar as coisas mais rápidas.

O promotor pediu permissão ao juiz para nos entrevistar.
Quase ri com a superficialidade de suas perguntas, do tipo que questionavam há quanto tempo o menino estava conosco, de que maneira tinha se adaptado, como estava seu comportamento, e com quem estava enquanto estávamos ali. Respondi tudo com extrema facilidade e o advogado apresentou alguns laudos comportamentais de Nicolas feitos por um profissional durante o processo, que felizmente só demonstravam avanços e desenvolvimentos. Rodrigo foi interrogado logo depois, com perguntas parecidas, umas ou outras colocações diferentes. Também deu boas respostas ao promotor sem dificuldade alguma. Era incrível ver o quanto ele conhecia o menino, como se importava com o nosso filho.

Filho, gostava de chamá-lo assim.
Amava chamá-lo assim, era um prazer, uma honra, uma virtude.

Por último entrevistaram Cecília, a assistente social. Ela contou resumidamente que acompanhou o processo de perto e viu boas mudanças no comportamento de Nicolas e uma adaptação rápida e proveitosa. Disse que tínhamos ótimas condições emocionais e financeiras para cuidar do menino. O que obviamente nos favoreceu perante o juiz.

Antes de sentença final, o juiz pediu um intervalo de 30 minutos. O que me deixou irada. Como ele podia pedir 30 minutos quando estava prestes a tomar a decisão? Meu coração pulsava rapidamente, a incerteza dominava meus pensamentos e o medo de perdê-lo pairava sobre meu corpo, fazendo-me respirar pesadamente. Ao perceber minha agonia, o homem atento sugeriu que saíssemos da sala e me levou a uma lanchonete qualquer naquele prédio imenso.

- Eu não quero nada - afirmei colocando minha bolsa sobre a mesa quadrada da lanchonete, antes de puxar uma cadeira e me sentar.

- Toma pelo menos uma água - seus olhos castanhos procuravam alguma expressão em meu rosto que provavelmente não demonstrava muita coisa.

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