capítulo vinte e um

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N/A : Chegamos ao penúltimo capítulo leitores! Sou grata por terem acompanhado a história até aqui. Desejo-lhes uma ótima leitura desse longo, emocionante e fofo cap

Música do capítulo: Heart Like Yours
de Willamette Stone

Capítulo XXI

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança

- Carlos Drummond de Andrade

Apesar de concordar com Drummond e sentir que às vezes o que nos dá esperança nunca é alcançado e nada muda realmente, ainda assim, naquele momento em que Petra me sugeriu a adoção eu passei a acreditar que eu finalmente alcançaria a felicidade, que poderia ter um filho e ser uma boa mãe. Alcançaria o que me esperança.

Talvez era isso que me
faltava; acreditar. Acreditar em algo ou alguém fosse lá quem, ou em qualquer coisa. Li em um livro da Sally Rooney, uma romancista irlandesa, que muita gente não seria feliz se não acreditasse em algo, se pensasse que nada faz sentido. E eu acho que faço parte dessa maioria. Preciso acreditar em algo, nem que seja em uma felicidade inalçáncavel ou um amor irreal, ou em uma relação perfeita com um filho que nem tenho. Talvez a crença na vida, na fantasia ou na utopia, se faça necessária às vezes para minha alegria.

Tínhamos passado por todo processo burocrático inicial para a adoção, claro que nós exigiu muito menos tempo do que o necessário para a maioria das pessoas que tentam adotar. Com excelentes advogados, alguns contatos, uma ajudinha ou outra subimos rapidamente na fila de pretendentes. O perfil que escolhemos foi de alguma criança de 0 a 3 anos. Talvez por conta do desejo de Rodrigo de acompanharmos todo processo de crescimento do nosso suposto filho/a e não termos tantos problemas em relação aos genitores da criança caso resolvessem reaparecer do nada.

Enquanto caminhava de mãos dadas com Rodrigo por aquele imenso parque bem arborizado e movimentado, sentia minhas mãos suarem entrelaçadas nas dele e tudo que se passava pela minha cabeça eram as palavras ditas por Mirian na última vez que nos encontramos

"Talvez essa seja a oportunidade da sua vida. Não a diperdice. Não repita os mesmos erros do passado, você sabe que eles não te levaram a nada a não ser a muita dor e sofrimento. Cuide dessa criança mas não deixe de se cuidar para que não atribua a ela a sua dor. Invista na educação positiva. Ame e seja feliz"

Como eu faria de tudo para fazer com que as palavras dela se tornassem reais

Nos aproximávamos do parquinho com brinquedos feitos em madeira colorida e grama sintética no chão quando vimos Cecília, a assistente social do processo adotivo, do outro lado do parque segurando nos braços um bebê grandinho, com aproximadamente 1 ano e meio. Seus cabelos eram loiros, seus olhos castanhos, suas bochechas rosadas e fofinhas.
Ele era tão lindo. Tão lindo que me contive para não me emocionar ao vê-lo de longe. Era lindo e se tudo ocorresse bem seria meu bebê, meu filho; meu amor mais belo e puro.
Lembrava um pouco Daniel quando pequeno mas ao mesmo tempo era totalmente diferente o que me fazia agradecer internamente.

Tudo que eu e Rodrigo sabíamos sobre o menino é que fora abandonado ainda recém nascido na porta de um abrigo. Tinha menos de 2 anos, sem problemas aparentes de saúde e chamava-se Nicolas

Acho que fiquei paralisada por alguns segundos quando o vivo e sorridente olhar do menino encontrou-se com o meu. Me encarou como se enxergasse minha alma e abriu um sorriso sem dentes, deixando-me estagnada por sentir que tinha gostado de mim apesar de ter me visto profundamente.

Recomeço - 𝗧&𝗣 Onde histórias criam vida. Descubra agora