Capítulo 18 // Marcos

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  Desço rapidamente os degraus da escada passando de frente para a cozinha. Estou mais animado que o normal para o trabalho. O que é estranho porque eu mal dormi noite passada. Talvez seja porque eu quero vê-la.

  Estou quase chegando até a porta até que uma voz me faz parar no lugar.

  - Marcos? - ouço meu pai dizer - Venha, faz um tempo que não comemos juntos - ele pede e não vejo outra alternativa a não ser se juntar a ele.

  Vou até a mesa e o vejo me esperando. Fazia semanas que não o via e olhando para ele me dou conta do quanto ele tem envelhecido. Sua barba está mal feita, e mais fios brancos surgiram em seu cabelo negro organizado. Além dele ter mais rugas em seu rosto.

  - Sente-se - ele sorri apontando para a cadeira e eu me sento.

  Começo a divagar para o passado. Por algum motivo ele se tornou mais distante de mim conforme me tornei adulto. Passou a me cobrar mais em tudo que fazia e evitar demonstrações de afeto. Nem sequer me recordo da última vez em que ele foi carinhoso comigo.

  Ele passou a se trancar em seu escritório e evitar contato comigo, então me afastei dele também. De modo que se tornou estranho estar sentado em uma mesma mesa com ele e conversar sobre assuntos triviais como pai e filho fazem.

   Me pergunto se este não seria um dos motivos dos quais acho as pessoas tão superficiais. Incapazes de serem transparentes quanto ao que sentem e forçarem coisas que não são reais. Assim como meu pai, não se abrindo para o que realmente pensa e incapaz de me chamar de "filho". Embora isso seja de esperar de alguém que considerava fraqueza ter emoções.

  Sem me dar conta, percebi que estava apertando o copo de vidro em minha mão. Tanto que o nó de meus dedos estavam brancos e minha mandíbula cerrada. Afrouxo a gravata em meu pescoço, desconfortável.

  - Suco? - ele pergunta já despejando o suco de laranja em meu copo.
  - Agora não tem mais como negar - forço um sorriso e ele retribui começando a comer as panquecas em seu prato.

  Pego algumas das variedades de frutas as colocando em meu prato. Em seguida mordisco uma banana fixando o olhar em meu prato.

  - Como vão as coisas no trabalho? - ele quebra o silêncio olhando curioso em minha direção.
  - Vão bem - comento e então sorrio lembrando de Stella - Muito bem aliás.
  - Que bom - ele diz tomando um gole de seu café - E Augustus? Como vai? - ele pergunta.
  - O mesmo de sempre. Agitado, curioso e sempre pedindo por um aumento - meu pai ri diante de minhas palavras.
  - Lembro quando ele vinha aqui em casa quando vocês ainda estavam no colegial - ele começa nostálgico - Ele sempre queria fazer alguma arte mas você nunca concordava.
  - Não mudou nada - comento sorrindo um pouco balançando a cabeça.
  - Imagino - ele concorda sorrindo enquanto limpa a boca com um guardanapo.

  O silêncio volta a transitar entre nós. Continuamos a comer em silêncio e eu tomo um gole de água inquieto.

  - Eu estou tentando - ele murmura de repente.
  - O quê? - franzo a testa não entendendo o que ele quis dizer.
  - Me reaproximar de você - ele diz e eu engulo em seco.
  - Por que agora depois de... Todos esses anos? - o questiono rancoroso e ele evita meu olhar - Aliás, por que você se afastou de mim do nada para início de conversa? - largo o talher em cima da mesa após perguntar algo que sempre ficou entalado em meu peito durante anos - Você era um ótimo pai, mas de um momento para o outro você se tornou frio como gelo - sei que deveria parar mas as palavras simplesmente fluem incontroláveis.

  Ele faz sinal para as empregadas se retirarem o que me irrita ainda mais.

  - De uma hora para a outra você parou de me tratar como seu filho e me tratar só como o herdeiro da empresa - respiro fundo tentando me controlar e neste momento ele finalmente olha nos meus olhos - Por que você se tornou assim e agora quer voltar como se nada tivesse acontecido? - baixo a voz reprimindo todos os sentimentos que explodem em meu peito e suspiro passando a mão no cabelo.
  - Eu não tive escolha - a voz dele falha e eu rio incrédulo.

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