Eu deveria ter morrido naquele dia. Essa é a frase que fica martelando em minha mente a cada segundo. A cada minuto. Era eu quem deveria estar abaixo de sete palmos do chão, não eles. Sinto que meu coração está sendo prenssado em uma máquina. É doloroso até mesmo respirar. Quantas pessoas morreram para que eu estivesse respirando agora?
Acabo de sair da casa de Stella e dirijo de volta para casa. Na verdade, nem tenho uma casa a que chamar de lar. Somente um lembrete de como tudo foi uma mentira.
A chuva açoita o vidro do carro e nem mesmo os limpadores de vidro estão dando conta. Mas não é com isso que eu me preocupo. É com essa maldita sensação de culpa. Minha garganta arde e as lágrimas escorrem quentes pelo meu rosto. Mas de que proveito servem as lágrimas se eu não posso fazer nada com elas?
Ter Stella ao meu lado havia se tornado um consolo mediante a toda a descoberta que eu fiz, até mesmo com a confusão de identidade. Mas agora, isso se tornou um tormento para mim. Saber que eu causei todo esse sofrimento em sua vida, ocasionando até mesmo o suicídio de sua mãe. Se meu pai e eu tivéssemos morrido aquele dia, essas outras pessoas não sofreriam. Stella não passaria por toda aquela dor que a fez desabar em lágrimas em meu peito. No abraço daquele que está respirando o fôlego de seus pais mortos.
Bato no volante e passo a mão no cabelo devastado. A chuva continua desabando sobre mim. Não só a chuva. Sinto como se o peso do mundo estivesse desabando em meu peito. O mundo daqueles que eu destruí. Como odeio o fato de estar vivo. De ter sido criado por aquele que assassinou vidas. Outras vidas ao invés da minha.
No momento em que eu vi o túmulo do pai de Stella, tudo ruiu. Aquele rosto simpático, cabelos cor de mel iguais os dela, o óculos sobre seus olhos escuros, era o mesmo homem que eu vi nos arquivos que estavam no cofre. O mesmo homem que continuo vendo sua imagem ensanguentada do dia do acidente. Seu rosto amassado e o óculos quebrado ao seu lado por conta do impacto. O sangue escorrendo.
Balanço a cabeça para afastar essa imagem. A culpa presente em cada poro do meu corpo. Não consigo respirar. Eu odeio o que vejo. Odeio o que sinto, apesar de saber que mereço isso, tenho medo de que essa sensação nunca vá embora.
Vejo no borrão da chuva o sinaleiro à direita. Ele está verde, então eu acelero. Ou é amarelo? Só quero sair desse carro que parece me sufocar ainda mais.
Eu não posso ficar com Stella afirmo em minha mente algo que vem me assombrando desde o cemitério. Eu não posso. Não devo. Causei tanto sofrimento a ela. Por minha causa a vida de seu pai foi arrancada, e por consequência a da sua mãe. Como pode? Eu destruí a vida dela enquanto ela salvou a minha. Ela nunca seria capaz de me amar ao saber disso. Ou me perdoar. Nem eu mesmo sou capaz disso.
Até mesmo esses sons de buzinas alarmante me atormentam. Como um zumbido no ouvido. O que não é pior que a culpa esmagadora que me sufoca a cada instante. Espere penso de repente Por que estou ouvindo buzinas?
Olho para o lado de relance e noto o porquê. Um veículo grande se aproxima com toda a velocidade, não consigo raciocinar. Não estava verde o sinaleiro percebo com infelicidade meu erro. Meus olhos se arregalam. É um caminhão. Tento virar o volante. A luz forte me cega. Tarde demais.
Tudo acontece em um borrão.
O carro capotando. O cinto pressionando meu peito arrancando o fôlego de meus pulmões. O vidro cortando minha pele. O mundo girando. As luzes piscando.
Então tudo para. Meu corpo lateja. A escuridão tenta me consumir toda vez que fecho os olhos. A dor é insuportável. Eu mereço isso. A escuridão fica mais forte. Eu permito.
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Próximo Andar: Amor
FanfictionPara quem ama aquele clássico clichê de CEO traumatizado e mocinha pobre... Marcos é um jovem ríspido e arrogante prestes a se tornar o CEO da empresa de seu pai. Um homem sozinho que odeia demonstrar sentimentos. Stella é uma garota esforçada...