Capítulo 01 /// Stella

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- Sarah Lance, se você não sair agora desse computador eu mesma te arranco daí - ameaçou minha melhor amiga enquanto jogava um travesseiro em minha direção.
- Ei! - protestei fechando a tela do computador e arremessando de volta - só estou garantindo que nada vai dar errado amanhã.
- Você disse a mesma coisa há meia hora atrás - se escorou na parede revirando os olhos - Pra que tanta preocupação? O pior já passou, agora é só você aparecer na empresa amanhã e começar a trabalhar.

Me levantei sentando na beirada da cama. Suspirei. Esse é o emprego dos meus sonhos. Ao menos, acabou se tornando depois da morte do me pai.

- Só não quero acabar perdendo essa chance. Papai trabalhava na CN e quero seguir seus rastros - encolhi os ombros - Se eu falhar no meu primeiro dia já era.

Sarah engatinhou pela cama até onde eu estava e me abraçou por trás. Me surpreendo com seu súbito gesto de carinho.

- Ele estaria orgulhoso de você - sussurrou - Bom, pelo menos eu estou.

Suas palavras me acertaram em cheio. Sempre pensei em como seria se ele estivesse aqui, vendo me tornar adulta. Faz 17 anos que ele se foi. Agora, com 24 anos ainda sinto a sua ausência, e a dor da saudade. Às vezes tão distante e às vezes tão presente. Mas sempre sorrio e sigo em frente. A vida é corrida demais para viver presa em pesadelos.

Emocionada pulo em seus braços a derrubando na cama. Soltando sem querer o coque frouxo que prendia seu cabelo crespo. Ela me empurra mas eu a aperto ainda mais forte.

- Sou tão feliz por ter você!
- Eu também, Ste.
- Você é a melhor amiga do mundo - encho seu saco.
- Tá bom, tá bom. Chega de ser melosa por hoje - tenta se soltar do meu abraço - Já deu minha cota por hoje.

Sarah rolou até o canto da cama se desvencilhando de mim. Puxou o cobertor cobrindo até cabeça resmungando:

- Vê se apaga essa luz e vai dormir. Tenho que estar na clínica veterinária cedo e amanhã é seu primeiro dia.
- Tá bom, mamãe - provoquei.

Apaguei a luz e me joguei na cama enquanto Sarah reclamava. E com os pensamentos a mil finalmente fechei os olhos e me entreguei ao sono.


***

- Levanta bela adormecida - uma voz ao longe me chama.
- Hmm.
- Você tem que trabalhar - argumenta me chacoalhando.
- Aham...
- Já são 06:40. Você não tem que estar lá às sete?
- Sim...É O QUE?! - caio da cama e corro desesperadamente até o banheiro. - Por que não me avisou - grito.
- E o que você acha que eu estava fazendo? - reclama - Agora vou indo. Boa sorte, arrasa no seu primeiro dia!

Ouço a porta bater e coloco as calças em tempo recorde. Corro até o espelho amarrando o cabelo rapidamente em um rabo de cavalo baixo. Respiro fundo encarando meu reflexo animado e preocupado: Vai dar certo digo a mim mesma sorrindo.

Após correr pela rua como doida e alcançar o ônibus nós últimos segundos, finalmente me vejo na frente da empresa. Solto um suspiro. Finalmente. Finalmente estou pisando no mesmo lugar que meu pai pisou.

Recupero o fôlego e entro na CN. Me deparo com uma multidão de pessoas bem arrumadas e apressadas. Alguns conversam entre amigos, outros correm com formulários em mãos. Daqui a pouco essa vai ser minha rotina.

Sonho acordada até que observo as horas no relógio, são sete horas em ponto. Me assusto e corro a procura de um elevador mais próximo. Encontro.

Dentro dele avisto um homem de terno alto com cabelos escuros bem arrumado. Usa um terno preto e está com as mãos no bolso. Certeza que se Sarah estivesse aqui correria atrás dele, ela tem um queda por pessoas bonitas. Eu também vou até ele, mas não com esse objetivo.

Ando apressadamente até onde ele está. As portas começam a se fechar e eu grito para que ele deixe as portas abertas. Ele me olha com certa curiosidade e desdém.

Chego tarde demais. As portas se fecham enquanto nossos olhares se encontram. Seus olhos verdes de encontro com o meu. Ele pode ser bonito, mas é um idiota sem coração. Viro para trás sem acreditar.

- Não acredito. Que idiota. - as palavras fluem sem que eu perceba - Como ele pôde ser tão mesquinho e nem ao menos segurar por alguns segundos? - reclamo chateada.
- Do que você me chamou? - alguém questiona atrás de mim.

Congelo. Me viro em direção a voz e dou de cara com o homem de terno. Ele havia decidido abrir as portas e eu nem percebi sua presença. E ele me ouviu. Agora eu estou lascada.

- F-foi um pequeno erro meu. Desculpe - gaguejo dando um sorriso amarelo e entrando no elevador a seu lado.
- É melhor você cuidar muito bem com o que diz por aqui - diz sério - Principalmente se for ao meu respeito.

Aceno com a cabeça e xingo a mim mesma por já arrumar inimigos no meu primeiro dia. Ficamos em silêncio durante o resto do percurso no elevador. Embora sentisse que ele me observava intensamente.

A porta se abre e eu saio às pressas indo em direção a sala. Chegando lá todos me encaram e sussurro um pedido de desculpas enquanto sento em minha mesa.

O gerente anda até mim e com um olhar de repreensão me adverte:

- É melhor você não ter mais atrasos como esse - em seguida se direciona ao pessoal da equipe - Vamos! Ao trabalho.



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