Capítulo 30 // Marcos

669 51 5
                                    

Eu vou demitir Augustus depois de hoje. Ele disse que ia passar em casa e levou meia hora para voltar. Meia hora. E agora, no caminho para o aeroporto, resmungou dizendo que queria ir no banheiro. Faz uns quinze minutos que ele está lá trancado. Estou suspeitando que ele desceu pelo ralo. Nunca mais coloco Augustus como motorista.

Augustus finalmente sai do banheiro do posto de gasolina, e entra dentro do carro batendo a porta. Batuco os dedos no banco, inquieto.

- Agora podemos ir.
- Se não formos agora, eu te jogo desse carro e cancelo seu aumento - murmuro massageando o cenho.

Ele dá partida no carro e eu observo a paisagem passar distorcida pelo vidro. Engulo em seco melancólico. Em breve deixarei tudo para trás penso comigo mesmo. Embora eu duvide que conseguirei seguir em frente como antes. Nada vai ser como antes.

Meus pensamentos são interrompidos pelo telefone de Augustus, que toca sem parar. Ele pega o telefone e atende o colocando no ouvido. Começa a concordar com o que quer que a pessoa do outro lado da linha está falando, e desliga rapidamente.

- Marcos.
- Não me diga que quer ir no banheiro de novo.
- Pior que ainda não.

O vejo virar a cabeça em minha direção. A testa franzida em preocupação. Ele volta a olhar para frente e fica em silêncio.

- A Stella - ele começa, desconfortável - Ela desmaiou e bateu a cabeça.

Me inclino para frente na direção de Augustus, não acreditando no que ouvi. Meu coração acelera em preocupação e a voz se perde dentro de mim.

- Como... Como ela está?
- Eu não sei, Sarah desligou antes que eu perguntasse.
- Pare o carro - mando decidido.
- O quê?
- Pare o carro!

Estacionando o carro no canto da rua, Augustus se vira para mim procurando explicações. Claramente sem entender. E eu só consigo pensar em Stella.

- Me leve até ela - peço, e ele franze o cenho mordendo os lábios.
- Mas e o seu vôo?
- Não importa, posso reagendá-lo. Preciso ver se ela está bem - minha voz falha.

Fazendo uma volta, ele vira a esquina para cortar caminho em direção à casa dela. A culpa me invade ao decorrer do caminho. Eu tinha visto que ela estava pálida, quando me visitou no hospital. Se eu ao menos tivesse me atentado a isto. A preocupação nubla minha face.

Eu não deveria vê-la. A tratei tão mal, como ela vai reagir ao me ver na sua frente? Certamente não me dará flores ou algo assim. Na verdade, se eu conseguir entrar será um milagre, porque Sarah... É melhor nem pensar. Engulo em seco, enquanto observo o caminho que trilhamos até o seu apartamento.

***

Sarah me deixou entrar, relutante. Ela trocava o peso de um pé para o outro, me olhando de cara feia com os braços cruzados. Usava jaleco de veterinária e o cabelo crespo solto sobre os ombros. Também um colar de patas de cachorro brilhava em seu pescoço.

Quando passei por ela, achei que a qualquer momento ela ia acertar algum coisa na minha cabeça. Mas nada aconteceu enquanto eu me dirigia ao quarto de Stella.

Coloquei a mão sobre a maçaneta, hesitante. Então a abri, revelando um quarto de tamanho médio clareado pela luz do sol, que vinha da varanda. Do lado direito havia uma estante cheia de livros, e ao lado, algumas caixas de sapato que eu havia presenteado a ela no início. No lado esquerdo havia um guarda-roupas grande e uma mesa com um computador ao lado. As paredes do quarto estavam decoradas com desenhos, aparentemente feitos na infância com giz de cera.

Então eu a vi. Repousava serenamente sobre a cama, e a luz do sol a refletia. Me senti como na noite da praia. O modo como a luz do luar recaía sobre ela, a deixando angelicalmente bela, acontecia o mesmo com o sol iluminando seus cabelos cor de mel. Fiquei emudecido.

Próximo Andar: Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora