Capítulo 08 // Marcos

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O elevador tremeu e nós cambaleamos. Tudo estaria completamente escuro se não fosse a luz de emergência instalada acima de nós.

Ouvi os gritos de Stella por ajuda enquanto batia no elevador. Tentei caminhar em sua direção mas de repente senti uma pontada na cabeça e fechei os olhos tentando controlar a dor.

Quando os abri fiquei perturbado. A luz da cabine oscilava enquanto se via uma nuvem de poeira e uns amassados ao redor. Sentia uma angústia e medo muito grande que pareciam ser meus mas ao mesmo tempo não eram.

Olhei para o chão e entrei em choque. Havia vários corpos espalhados, inertes sobre ele. Muitos feridos, com sangue escorrendo de seus machucados e corte na cabeça. Todos aparentemente mortos. Eu estou no meio de pessoas mortas e estou sozinho.

Me vi encarando cada uma daquelas pessoas ainda em choque: uma mulher de cabelos loiros, um homem de cavanhaque, um homem de cabelos cor-de-mel com óculos e um homem de cabelos negros caído ao lado de uma mulher cacheada. Ao ver a cena o pânico toma conta. Eu estou sozinho. Um nó se forma em minha garganta e eu aperto o peito.

Dou passos vacilantes para trás, tropeço e caio. Me encolho no canto do elevador e o ar começa a faltar. Agarro minha cabeça e tento me controlar, mas eu estou apavorado. Este não sou eu tento raciocinar Mas é tão real.

Ouço alguém gritar meu nome ao longe mas não consigo prestar atenção nisso. Ainda estou tentando respirar.

De repente, sinto alguém me abraçar. Tenho um sobressalto porque eu estava sozinho até então. Até que sinto movimentos circulares em minhas costas e uma voz a sussurrar gentilmente: "Tudo bem...Vai ficar tudo bem." Sinto conhecer essa voz tão familiar de algum lugar, de um passado tão distante e imediatamente sou confortado ao ouvi-la.

Então tudo sai de uma vez e choro violentamente. De um modo que nunca achei que choraria. Sinto apertar o abraço e eu começo a soluçar O que está acontecendo comigo? Consigo pensar em meio ao caos.

Não sei quanto tempo se passa, mas estou mais calmo e respirando normalmente. Porém, longe de meu estado normal.

- Chefe?

Me lembro de que eu estava abraçado até agora. Decido me afastar e então abro os olhos. Me deparo com aquela baixinha ajoelhada em minha frente, que me olha com estranha ternura. Então percebo que eu estive colado a ela este tempo todo enquanto chorava em seus braços. Uma situação extremamente embaraçosa e conflitante.

- Me desculpe - digo envergonhado - Eu... Realmente não sei o que aconteceu. - e eu realmente não fazia a menor ideia do que acabou de acontecer. Minha cabeça estava uma nuvem.

Observo ao redor e vejo que estou de volta ao presente. O elevador ainda escuro iluminado apenas pela luz de emergência e nada de corpos. Somente eu e ela.

- Tudo bem - ela respondeu compreensiva - É necessário nos libertar da dor quando chega ao seu limite.
- Você... Você não vai me perguntar o que aconteceu? - questiono realmente confuso.

Ela coloca uma mão em meu ombro sendo estranhamente bondosa comigo.

- Isso é uma coisa sua, não tem o por quê eu querer saber. E além disso - ela sorriu - Você é meu chefe. Vai que me enxota daqui.

Sorrio com ela mas então percebo o que estou fazendo e paro Mas o que diabos você está fazendo? Me repreendo.

Novamente volto o meu olhar para ela e me dou conta. Eu não agi da melhor maneira possível com ela, embora ela tenha merecido. E agora, ela está aqui na minha frente vendo o meu lado extremamente fraco que eu nem sabia que existia, me ajudou e está sendo gentil demais comigo nem mesmo me perguntando sobre o que aconteceu para eu ter ficado daquele jeito.

Decido fazer algo que nunca faria. Da maneira mais franca possível:

- Confesso que... Eu fui um babaca com você.
- Verdade - ela concordou na mesma hora.

Me surpreendo com a sua franqueza. Eu, o Presidente da empresa formo meu primeiro pedido de desculpas e ela age desse jeito? Porém, lembro que ela viu minha pior fraqueza. E se ela usar isso contra você? Um pensamento ocorre.

Ela instantaneamente raiocina sua atitude e envergonhada tenta concertar sua fala.

- Ai meu Deus! Não foi isso que eu quis dizer...

Rio de sua espontaneidade e ela me acompanha rindo e colocando uma mecha de seu cabelo longo e liso atrás da orelha.

- Bem que eu poderia - respondo pensativo. Embora saiba que isso só daria mais motivos para ela me odiar ainda mais.

De súbito, as portas se abrem e Stella e eu nos levantamos desajeitadamente. Tento arrumar o cabelo todo desgrenhado para ter um mínimo de dignidade.

Olhamos um para o outro e seus olhos cor de avelã se fixam nos meus. compartilhamos uma troca de olhares um pouco mais longa que o esperado.

Ela sorri e eu imediatamente me sinto constrangido. Como ela pôde me tratar bem depois de tudo?

- Eae chefe? - uma voz alegre nos interrompe - acabei me atrasando na manutenção do elevador mas consegui chegar bem a tempo de arrumar e tirar vocês daí - e sorri parecendo satisfeito com seu trabalho.

Percebo seu descuido que poderia ter causado nossa morte. Volto para a minha máscara original. Ajeito meu terno e direciono meu olhar caminhando até aquele funcionário, lhe dando um sorriso de canto.

- Bom trabalho, senhor...? - deixo a palavra no ar para que ele responda.
- Léo.
- Ah sim, Léo - reafirmo fazendo uma pausa - Está demitido.

Noto o choque em seu rosto e passo por ele. Olho para trás notando a ausência de Stella e vejo que ela já foi.

Agora sozinho no corredor, todos os acontecimentos do dia recaem sobre mim. Passo a mão no cabelo inquieto Mas o que que foi isso?!.



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