Última chance ( POV do Theo).

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 Theo teve um total de 7 horas de sono. O garoto adormeceu rápido comparado ao seu colega de quarto, e relaxou merecidamente. Por outro lado, ao acordar, passou horas e horas estressado repassando a cena do dia anterior em sua cabeça. Theo sabia que não tinha sido nada demais, não era como se ele estivesse pedindo Liam em casamento ou algo do tipo. Na verdade, o que o mantinha nervoso era outra coisa. Eram as perguntas repetidas em sua mente. Se não tinha acontecido nada, por que Liam estava surtando? Por que o menor estava agindo como se Theo tivesse tornado as coisas estranhas? A conversa do dia anterior estava indo tão bem, Theo até acreditava que eles pudessem se tornar amigos. Então de repente, por causa de um puxão em seu braço, Liam estava agindo como se Theo o tivesse atacado ou algo do tipo. E para piorar, ele não fazia ideia do que isso queria dizer.

 Se Liam havia ficado afetado com um gesto tão simples, deveria ter algum significado. O beta era forte, ele precisou aprender a ser, e Theo sabia disso. Ele não estaria agindo de forma estranha se algo não estivesse mexendo com ele. Entretanto, Theo também sabia que se intrometer seria pior. A última coisa que ele precisava agora era uma briga com seu novo colega de quarto no início das aulas e na véspera de uma lua cheia. Ele precisava fazer isso funcionar. As amizades, a universidade. Era sua última chance de mostrar ser digno de algo, de alguém. De uma alcateia.

 Ele sabia que não havia feito nada de errado, pelo menos não dessa vez. Talvez Liam só tivesse se lembrado do passado e de tudo que Theo fez e resolveu voltar a odiá-lo. Talvez Liam sentisse medo dele. Como Theo pode ser tolo o bastante para acreditar que um dia eles poderiam ser amigos de verdade? Ou, se dependesse dele, até mais que isso. Era impossível. Liam o odiava. E Theo merecia ser odiado e sabia disso. Ele nunca mereceria o perdão de Liam. Era melhor só esquecer e torcer para o outro garoto voltar ao normal logo. Ele não pode ficar estranho para sempre, certo?

 Ou talvez ele possa. Talvez Theo precise viver para sempre com um colega de quarto que o odeia. Se esse fosse o caso, Theo não se importaria em admitir que Liam estava certo. A sua parte racional sabia que o garoto tinha todo o direito de guardar qualquer rancor contra ele, depois de todo o mal que a quimera havia causado. Entretanto, havia uma pequena parte de Theo, bem pequenininha e dominada pela emoção, que realmente esperava que Liam houvesse mudado de ideia. Uma parte que acreditava que, depois dos cavaleiros fantasmas, Anuk-Ite e caçadores, a relação de Liam e Theo havia mudado e agora estava tudo bem. Eles poderiam ser pelo menos amigos. Até isso parecia bom demais para ser verdade, Theo não poderia se dar o luxo de ter expectativas altas para algo. Afinal, quando isso havia funcionado para ele?

 Theo passou o resto do dia pensando e procrastinando. Ele pensou em Liam algumas vezes, mesmo prometendo que deixaria o assunto para lá. Ele pensou em como estava feliz por poder dormir em uma cama de verdade e não em seu carro, e imaginou como seria seu curso de biologia. Hoje era o último dia antes das aulas começarem e, pela primeira vez em muito tempo, Theo se sentia ansioso para algo. Depois de crescer com os Doutores do Medo, era difícil achar algo que o fazia ansiar felizmente pela chegada do dia seguinte. Algo que trouxesse esperança. Era como se os Doutores tivessem sugado sua melhor parte, a parte feliz, e agora ele não tinha mais o que oferecer para quem fizesse o favor de querer conhecê-lo. Era como se ele não fosse ninguém.

 Essa era sua oportunidade de ser alguém. Ser alguém bom, melhor do que ele havia sido antes. Esse foi o pensamento que fez Theo aguentar até aqui, depois de um ano vivendo em seu carro, rodando cidades atras de uma alcateia, falhando e correndo perigo. Dessa vez ele não iria falhar, ele não podia. Theo acreditava que o reencontro com Liam havia sido coisa do destino, mas ele nunca admitiria isso para o outro garoto. Por todo o tempo que estivera longe, Theo não parou de pensar nele. E agora, como parte da sua ideia de ser uma pessoa melhor, Theo sabia que se reconectar com Liam poderia ajudá-lo. Por algum motivo, Liam parecia torná-lo alguém melhor e esperava que ele pudesse fazer isso agora, assim como ele vinha fazendo desde a caçada selvagem.

 O dia passou depressa, mas mais uma vez os garotos não se falaram muito. Liam passou quase o dia inteiro fora do quarto, provavelmente com Mason e Corey, Theo não se atreveu a perguntar. Quando finalmente o fim do dia chegou, o beta estava de volta e os dois arrumaram seus materiais para o dia seguinte silenciosamente. Theo podia sentir o cheiro de nervosismo e ansiedade no ar e se perguntou se Liam sentia o mesmo cheiro vindo dele.

 Quando os dois estavam deitados em suas próprias camas, Theo apanhou seu livro para ler mais um capítulo antes de dormir. Quem sabe isso o ajudasse a relaxar.

 — Theo, cara, será que tem como apagar essa luz? Amanhã temos aula, eu preciso dormir — Liam finalmente quebrou o silêncio enquanto se revirava de lado na cama procurando uma maneira de ficar confortável — Não quero estragar meu primeiro dia porque não tive horas de sono suficientes.

 Theo normalmente responderia com algum comentário sarcástico sobre Liam não ser o dono do quarto ou diria que o mundo não girava ao redor dele, mas hoje só não parecia o momento ideal para isso. Além disso, Liam estava certo. Já estava tarde, eles precisavam dormir para ter um bom dia amanhã. Theo se levantou e, segurando a sua língua para não soltar nenhuma das mil coisas que ele gostaria de poder dizer a Liam agora, ele apenas apagou a luz e voltou a se deitar. Liam, por outro lado, não parecia ter acabado com a conversa ainda.

 — Uau. Se eu soubesse que seria fácil assim eu teria pedido antes — Ele disse, rindo.

 Theo ainda permaneceu mudo. Ele estava se irritando. Depois de ignorá-lo o dia inteiro, por que Liam achava que agora era um bom momento para puxar assunto?

 — Ei, você está me ignorando?

 Silêncio absoluto.

 — Eu to falando com você, Theo — Liam se sentou na cama e tentou encarar Theo através da escuridão, sem sucesso.

 — Sim, eu sei. Só tem eu no quarto, idiota, com quem mais você estaria falando? — Theo finalmente respondeu, querendo acabar com aquela conversa o mais rápido possível.

 — Ah, então agora você consegue me ouvir.

 — Eu não sou surdo, Liam. E, caso não tenha percebido, você não está sussurrando.

 — Então vê se aprende a responder os outros e parar de fingir que não ouve.

 — Não sou eu quem precisa aprender a fazer isso —Theo definitivamente já tinha perdido sua paciência, e virou de costas para o lado do quarto de Liam, encarando a parede.

 — Peraí, você está com raiva de mim?

 — Liam, eu não quero conversar agora. Só me deixa dormir em paz por favor.

  Liam levantou rapidamente e acendeu a luz do quarto.

 — Não, não deixo. Você está com raiva de mim, não está?

— Eu que te pergunto! — A quimera falou mais alto do que pretendia, mudando de posição para encarar os olhos de Liam — Você passou 2 dias me ignorando, mas eu devo te responder na hora que você quer? Eu nem sei o que fiz de errado em primeiro lugar, se isso é sobre ontem eu-

 — Não é sobre ontem. Nada aconteceu ontem — Liam respondeu secamente, sua expressão de tornou de angústia.

 — Eu sei, isso é obvio, mas não é o que parece. Eu só quero entender por que você está agindo assim.

 — Olha, deixa pra lá, não é por sua causa. Eu to nervoso para as aulas, só isso. Desculpe se descontei em você — Liam apagou a luz novamente e voltou a se deitar, tentando se esconder dentro do lençol que parecia pequeno demais para cobrir sua vergonha naquele momento.

 Theo podia ouvir a pulsação do coração de Liam se alterando. Ele sabia que o beta estava mentindo, mas não queria pensar ou muito menos resolver isso agora. Talvez bastasse só fingir que estava tudo bem e o Liam voltaria ao normal. Não valia a pena brigar, afinal, essa era sua última chance.

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