A floresta permanecia envolta em uma aura silenciosa após a agitação. Morgana guiou a criança até as bordas da cidade, onde a segurança parecia mais próxima. Ao chegarem ao ponto em que a pequena garota poderia seguir sozinha, Morgana se agacha para ficar na altura dela. — Você está a salvo agora. Continue pelo caminho até encontrar as luzes da rua. Lá, alguém cuidará de você. — Já devem ter avisado os cavaleiros sobre os gritos e o desaparecimento dela. — pensou consigo.
A criança, ainda tremendo, olha para Morgana com olhos cheios de gratidão. — Você é uma heroína?
Morgana sorri, acariciando os cabelos da criança. — Não sou uma heroína, apenas fiz o que era certo. Agora vá, e não olhe para trás.
A pequena garota parte em direção a luzes que brilhavam, enquanto Morgana, envolta pela escuridão da noite, desaparece na sombra das árvores, retornando ao seu quarto. O frio a envolve, e Morgana reflete sobre a intensidade da noite.
Em seu quarto, Morgana sente a intensidade do frio penetrar em seus ossos, uma sensação que parece ecoar a agonia da noite. Seu corpo, ainda encharcado da batalha na floresta, treme involuntariamente diante da brisa que se infiltra pelas frestas da janela.
Enquanto tira a capa úmida, olha para a escuridão fora da janela, seus olhos refletindo a melancolia da noite. A adrenalina que a impulsionou durante a batalha agora dá lugar à exaustão, e o frio parece invadir não apenas seu corpo, mas também seus pensamentos.
Morgana, sussurra consigo. — O frio da noite é implacável, mas parece ser apenas uma sombra do que enfrentei na floresta. Esta noite trouxe à tona algo sombrio, algo que vai além do inverno que cobre Camelot. Meu pai enfrenta perigos lá fora, e aqui dentro, descobri que nem sempre posso confiar nas sombras do castelo.
Enquanto Morgana tenta se aquecer junto à lareira, sua mente ainda ecoa os eventos da noite. A criança salva, a criatura aterradora, as descobertas sobre a magia que permeia Camelot. O frio do inverno parece ser apenas uma pequena representação do desconhecido que aguarda na escuridão.
Deitada em frente à fogueira, sussurra para si mesma, os pensamentos de uma jovem que busca força e sabedoria em meio às sombras que cercam Camelot. — Há mistérios nesta terra que minha alma anseia desvendar. O confronto com a criatura mostrou-me que há mais do que frio nas profundezas desta noite. Preciso ganhar experiência, fortalecer-me para enfrentar o que espreita nas sombras do reino. Mas agora.. eu só queria algo quentinho pra beber. — diz enquanto boceja.
Enquanto o crepitar da fogueira preenche o ambiente, Morgana fecha os olhos, deixando-se levar pelos pensamentos que dançam como sombras em sua mente.
Pela manhã, Lilian, a aia[1], adentra o quarto de Morgana com suavidade, observando a jovem ainda envolta nos últimos vestígios de sono.
— Bom dia, senhorita Morgana. — Diz Lilian com um gentil sorriso. — O sol já pinta os céus, e seu café da manhã, aguarda.Morgana, com os olhos semicerrados, espreguiça-se preguiçosamente antes de responder.
— Bom dia, Lilian. Diga ao cozinheiro que estou indo. — Diz enquanto solta um grande bocejo esfregando os olhos. — A noite foi... intrigante.— Intrigante, senhorita? — diz em curiosidade.
— Uma história para outro momento, Lilian — diz sorrindo. — Vou me aprontar.
Lilian retira-se, deixando Morgana diante da luz matinal que se derrama pelo quarto. A jovem, ainda com a expressão sonolenta, abre as cortinas e janelas, acolhendo os raios do novo dia.
Hoje, um cenário incomum desenha-se sobre Camelot. O inverno, normalmente rigoroso, parece abrir uma exceção para permitir que os raios do sol penetrem com intensidade. Uma luminosidade que aquece não só a paisagem nevada, mas também o ânimo de Morgana.
Enquanto se prepara para tomar café, Morgana observa pela janela a rara visão do sol brilhante sobre as muralhas do castelo. Animada com essa pausa na monotonia do inverno, ela planeja explorar as ruas de Camelot após a refeição. Vestida com um manto que contrasta com a brancura da neve acumulada, ela aguarda ansiosamente o momento de se aventurar pela cidade e descobrir como os habitantes de Camelot aproveitam esse inusitado presente do clima.
Morgana caminha pelas ruas movimentadas de Camelot, cumprimentada calorosamente pelos cidadãos que reconhecem a filha do Rei. Ela se encanta com a alegria das pessoas e os sorrisos que troca enquanto passa por elas. Ao alcançar a cidade baixa, Morgana visita algumas lojas encantadoras.
Ao entrar nas lojas, o aroma de frutas frescas preenche o ar. Morgana escolhe cuidadosamente maçãs suculentas, peras maduras e morangos vermelhos. Os comerciantes tratam-na com gentileza, oferecendo as melhores mercadorias do reino.
Enquanto passeia, também se depara com uma loja de roupas que chama sua atenção. Ela examina vestidos coloridos e capas elegantes, encontrando peças que contrastam com a paisagem branca do inverno. Sua jornada de compras é um momento de descontração, permitindo que a jovem princesa se conecte com os aspectos cotidianos da vida em Camelot.
Enquanto Morgana sai da loja, seus olhos encontram a pequena garota que salvou. A criança, reconhecendo a princesa, começa a se aproximar, entusiasmada. Morgana, porém, coloca delicadamente o dedo nos próprios lábios, fazendo um sinal de silêncio.
A pequena, com seus olhinhos brilhantes, imita o gesto com um sorriso adorável no rosto. Morgana retribui o sorriso, criando um vínculo silencioso entre as duas. Juntas, elas compartilham um momento especial, uma conexão silenciosa que transcende as palavras e fortalece o laço entre a nobre princesa e a pequena a quem ela trouxe esperança.
Morgana, com um gesto gentil, entrega uma suculenta maçã à pequena, cuja mãe expressa gratidão com uma leve inclinação. Um breve momento de calor humano preenche o ar enquanto Morgana segue seu caminho de volta ao majestoso castelo de Camelot. As ruas movimentadas testemunham a nobre princesa compartilhando um sorriso com os cidadãos, tecendo laços de compaixão e solidariedade em seu reino. O sol brilhante ilumina o caminho de volta, transformando essa jornada em uma experiência memorável para Morgana.
Morgana, ao se despedir da pequena, relembra da noite passada, rindo de si mesma por ter levado uma surra inesperada. Ela tem uma ótima ideia, e enquanto caminha pelas ruas, ri abertamente, compartilhando suas risadas com as pessoas que cruzam seu caminho. "Nunca subestime uma boa pancada." — pensa consigo mesma, achando graça na própria situação.
[1]Aia. Designação utilizada para dama de companhia. Mulher cujas responsabilidades estão relacionadas com a educação e criação de crianças que pertencem a famílias ricas ou nobres; preceptora. Mulher que realiza serviços domésticos para alguém que faz parte da nobreza; ama.
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Entre Espadas e Feitiços
FantasiaEm Entre Espadas e Feitiços, Morgana, herdeira de um legado mágico e guerreiro, se vê em uma jornada de autodescoberta e desafios ao lado de sua fiel amiga Sofia. Enquanto a magia flui em seus corações e o perigo se aproxima, as duas enfrentam força...