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Nat

Os pensamentos iam se embaralhando na cabeça de Natalie conforme o efeito da droga de seu amigo Kevin se manifestava. Todas as suas preocupações se esvaziaram de sua mente e foram substituídos por humor.

Travis havia fumado antes. Estava deitado na cama, olhando para cima, parecendo estar perdido em sua própria mente. Ele parecia mais bonito daquele jeito, e ela teve vontade de beija-lo.

Nat suspirou e agradeceu Kevin mentalmente. Estava precisando daquela noite com seu namorado, e o amigo nem perguntara sobre o que se tratava a cocaína que ela tinha pedido. Sua mãe estava dormindo e o fantasma de seu pai não estava presente. Era só ela e Travis, e 6 carreiras.

— Travis. – Ela chamou, olhando para ele. Seu namorado não respondeu, então Natalie se aproximou e ficou ao seu lado na cama. – Travis.

— Hm? – Travis olhou para ela sem entender, o que a fez rir. – Natalie.

— Estamos sozinhos. Podemos fazer.

— Fazer o quê?

Ela deu risada, achando fofo a lerdeza dele, e tocou seu rosto. Ele pareceu entender e arregalou os olhos, mas a droga não o deixava entrar em um pânico de verdade.

— Espera, Nat. Acho que preciso te perguntar uma coisa.

Natalie revirou os olhos e assentiu, já sabendo do que se tratava. Travis já tivera algumas crises de ciúmes, mas ela não imaginava que ele pudesse ter antes de terem sua primeira vez.

— Nat, você já fez... isso?

— Sim – respondeu normalmente, mas temendo sua resposta –, mas não tem problema, é só isso?

— É. Mas não sei se estou pronto.

Ele se levantou, parecendo realmente desesperado, e ela suspirou de frustração. Suas suspeitas de que Travis era gay só haviam aumentado.

— Preciso ir, Natalie. Foi mal.

— Vai se foder. – Nat sussurrou, mais para si mesma do que para ele, e Travis não disse nada antes de abrir a porta de seu quarto e sair do trailer. – Merda, Travis! Caralho...

Ela se levantou bruscamente e pegou o saquinho com um pó branco em cima da mesa. Teve vontade de jogar fora, mas isso lhe custara 30% do seu salário. Iria guardar para mais tarde, quando tivesse que esquecer do que acabara de acontecer.

O efeito da droga começou a aumentar, e Natalie começou a ter alucinações. Ela se virou em direção ao seu espelho, que mesmo borrado, dava para enxergar a imagem de um homem de meia idade com cabelo e barba grisalhos atrás dela.

A imagem de seu pai com os miolos estourados.

— Você é mesmo imbecil, minha filha – ele disse com um sorriso que fez o corpo de Natalie se arrepiar em um calafrio. – Não serve nem pra ser puta.

— Cala a boca.

Ele riu. Uma risada fria e cruel, nada muito diferente do que ele era quando vivo.

Natalie desviou o olhar do espelho e deitou em sua cama. Não conteve a vontade de chorar, apenas deixou rolar. As lágrimas de dor e desespero molharam seu travesseiro. Ela quis gritar, mas não conseguiu. Sua voz estava presa na garganta.

Havia esperado Travis durante dois meses. Dois meses tentando fazer com que ele se abrisse e fizesse sexo logo, mas nada adiantava.

Depois de um tempo, ouviu passos e se deu conta de que sua mãe acordara. Ela enxugou as lágrimas rapidamente e se sentou na cama a tempo de ver sua mãe entrar no quarto com uma expressão cansada e atordoada.

— Nat, aconteceu alguma coisa?

Ela deu um sorriso triste.

— Não, mãe.

— Então por que está com os olhos vermelhos? Andou fumando de novo?

— Eu estava... chorando. Vi a notícia de um chimpanzé sendo amigo de um gatinho e comecei a chorar.

Sua mãe riu e saiu do quarto. Então ela suspirou e enterrou seu rosto no travesseiro outra vez.

Nat e Lottie - YellowjacketsOnde histórias criam vida. Descubra agora