Nat e Lottie - Yellowjackets

7

Nat

Natalie foi para o lado oposto do campo, em direção à sala do treinador Ben.

Quando ela entrou com uma expressão irritada e abrindo a porta bruscamente na sala do treinador, ele fez uma expressão de cansaço que a fez revirar os olhos e dizer:

— Fica tranquilo, não vim aqui por causa da Lottie.

— Então o que aconteceu?

Nat suspirou e se sentou em uma das cadeiras. Queria falar sobre Travis, e o treinador Ben era o único homem adulto de confiança que ela conhecia. Mas não sabia direito como começar.

— É que... você é um homem.

— Eu sei disso. – Disse Ben, franzindo a testa.

— É que... Você gosta de caras, não é?

Ben arregalou os olhos e corou. Nat balançou levemente a cabeça e disse:

— Não, eu não queria... Desculpa. É que você nunca olhou pros nossos peitos.

— Natalie, eu...

— Não, tudo bem. E acho até maneiro. E acho também que o Travis é gay.

— Por que você acha isso?

— É que estávamos... Bem, você sabe. Estávamos tentando fazer aquilo pela décima vez, e ele disse que não estava pronto. E uma outra vez estávamos quase conseguindo, mas ele não conseguiu ficar du...

— Oh! – Ben riu de nervoso e Nat sorriu. – Eu entendi. Mas isso não significa nada, talvez ele só não esteja pronto mesmo, isso é normal. Eu vejo como aquele garoto olha pra você, Nat, e ele tá muito a fim.

Mas por algum motivo, isso não era uma coisa boa.

Se estava tendo problemas com Travis apenas entrando em sua vida, imagina quando ele finalmente entrasse. Além disso, algo estava a impedindo de dizer a si mesma que gostava de Travis de verdade. Algo que ela não sabia o que era, um tipo de sensação estranha que ela não conhecia.

De qualquer forma, Travis não estava fazendo bem para ela. Ela sabia disso, mas não conseguia admitir isso para si mesma. A ideia de perder Travis causava uma dor profunda, mas a ideia de ter que ficar com ele conseguia ser ainda pior.

— Treinador – ela disse, olhando para as mãos –, você acha que meu desempenho no futebol decaiu nos últimos meses?

— Quer que eu seja sincero, Nat?

Ela assentiu, olhando para ele.

— Você era muito melhor. E desde que vencemos os nacionais, você anda se distraindo muito. Não tivemos ainda uma competição realmente séria desde então, senão eu te colocaria no banco.

Natalie sentiu seu estômago afundar cada vez mais conforme ele ia falando e ela olhou novamente para as mãos. Estava tão péssima assim e nem percebera?

Ben percebeu seu desconforto, porque se inclinou para frente e disse gentilmente:

— Natalie, tem alguma coisa acontecendo? Estou aqui pra qualquer coisa. Sabe disso, não sabe?

— Sim, treinador.

— Então? Tem alguma coisa acontecendo?

Ela pensou em falar sobre Travis. Sobre o quão ciumento e machista ele estava sendo desde que eles haviam começado aquele lance. Queria falar que Travis era o motivo de estar indo mal nos treinos, queria falar que sentira algo estranho por Lottie alguns minutos antes, mas que não sabia exatamente o que era...

— Só estou cansada – ela disse, por fim –, vou superar essa fase ruim, prometo.

— É mesmo? Não tem nada que queira me dizer, Natalie?

— Não, treinador. Nada.

— Tudo bem. – Mas ele não pareceu tão convencido disso. – E sobre as audições, você precisa me entregar o relatório semana que vem. Vocês vão ter ainda segunda, terça, quarta e quinta pra avaliar as garotas. Até lá, espero que vocês se entendam.

Ele pareceu querer dizer alguma coisa, porque piscou antes de levantar para abrir a porta para ela e disse antes dela sair:

— Eu era que nem você antes de perder meu namorado, Nat. Então eu sugiro que preste atenção no que sente pra não se machucar.

— Como assim?

— Um dia você vai entender. Ah, e isso sobre eu ser gay...

— Isso não sai daqui – disse Nat, sorrindo –, eu prometo.

— Obrigado, Nat.

Ele sorriu e a deixou sair de sua sala.

Depois dali, era para ela ir para a aula de matemática, mas não queria ir. Não queria pensar em números e, muito menos, em Lottie, que fazia a aula junto com ela.

Iria para a biblioteca.