— Giovani... — Sinto Kevin me cutucar. — Acorda, o professor está falando com você. — Cutuca mais uma vez me fazendo pular da cadeira. O professor Marcos dá um sorriso descontraído e me olha como se esperasse alguma resposta.
— É... Me-Me... Desculpe — gaguejo fazendo a turma rir.
— Eu estava comentando sobre as últimas redações que eu corrigi e dei a sua como exemplo. Estava realmente muito boa, Giovani, sua análise sobre as políticas sociais da cidade. Perguntei se eu poderia ler para a turma. — O professor explica muito paciente. Marcos é meu professor preferido. Ele é atencioso, compreensivo e não acha que gritar e pressionar os alunos é o caminho, como a maioria não escola. Além disso ele é um excelente professor, poderia ouvir ele por horas, mas hoje minha cabeça não está funcionando muito bem.
— Claro, professor — respondo, enfim, e sorrio sem graça. — Obrigado.
Eu não gosto muito da ideia das pessoas ouvindo minha Redação, mas eu já estou acostumado a ser exposto assim nas disciplinas de Língua Portuguesa e afins. Ser parte da equipe das olimpíadas de Língua Portuguesa dá nisso.
Mas, não posso exatamente reclamar, esse foi o motivo de me darem uma bolsa de estudos nessa escola muito cara. Às vezes é até difícil de acreditar o quanto minha vida mudou em um ano, não foi exatamente fácil e até hoje não é, mas os amigos que conquistei aqui e as experiências valem a pena.
O professor terminou de ler a redação e alguns alunos expressaram admiração, a maioria foi até sincera. Não posso dizer que sou uma pessoa popular, aqui ninguém liga muito para isso, as turmas se dividem em grupos e automaticamente só se importam com o seu grupinho.
Depois que todas as redações foram entregues, seguimos para o intervalo. Kevin tentou perguntar o que eu tinha, mas respondi que era sono e andamos em direção a mesa onde encontramos a Maria e a Ana. Nosso grupo de amigos é, com certeza, o mais estranho da escola.
— Gigi! — Maria me abraça empolgada e eu só encosto minha cabeça no seu ombro. — Nosso escritor brilhante.
Maria não estava na aula, chegou mais tarde por problemas familiares, mas é claro que ela já sabia que o professor tinha lido minha redação na aula. Reviro os olhos e Ana solta um sorriso culpado.
Ana, assim como eu, é bolsista na escola, mas a Maria é filha de um empresário de TV riquíssimo e Kevin é filho do prefeito da Ilha. Ano passado tínhamos mais um membro no Grupo, Jean, mas ele ficou muito mais próximo dos atletas do time de basquete, ele ainda fala com a gente, mas não é mais a mesma coisa. O sonho dele é ganhar uma bolsa de estudos fora do país e jogar basquete em um time universitário. O Instituto Educacional Edmond Fischer é uma escola muito influente, por isso às vezes recebe a visita de olheiros, mas são chances raras e únicas, por isso é normal que ele tenha ficado mais focado nesse mundinho dos atletas da escola. Eu admiro os alunos daqui que já tem um objetivo de vida definida. Eu não faço ideia do que fazer, nem se quero continuar na Ilha ou se teria coragem de deixar esse lugar e trilhar outro caminho.
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Sobrevivendo à adolescência.
Ficção AdolescenteGiovanni é um adolescente normal tentando lidar com os dramas da adolescência e a pressão por ter ganhado uma bolsa de estudos em uma das escolas mais caras do país. Isso tudo é amplificado por ele ser gay e morar em uma Ilha. Giovanni só quer ter u...