I 1.7 Acordos

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A lista de prisioneiros com sangue de Babakur era tão pequena que não contava nem com cinco nomes. Noa sabia que isso era graças à fuga em massa que acontecera há poucos anos. O evento ainda o irritava e, no meio da sua fúria, custara a liberdade de ao menos três guardas que estavam responsáveis pelas masmorras.

Por um momento, ele quis suas cabeças.

Mas, como quase sempre acontecia, a raiva ebulia e, logo em seguida, era apagada por uma sensação de frio e cansaço que lhe eram constantes.

Agora, a lista na sua mão era providencial. Se havia uma cidade dos filhos, então ela era habitada, em partes, por aqueles prisioneiros, o que justificava a sua caçada. Ele não precisava esclarecer suas ações revelando sobre o encontro com o velho. Não, ele poderia simplesmente dizer que estava caçando os prisioneiros da batalha que quase destruíra Palacianos.

Noa logo reconheceu dois nomes na lista: o primeiro era de uma prisioneira muito antiga e o segundo de um jovem abusado, mas incrivelmente poderoso.

Ker Elijah aguardava as instruções do Kral e grande foi a surpresa quando as ouviu: - Esses dois. Libertem-nos.

– Desculpe, Meu Kral, mas não compreendi...

– Sim, o senhor compreendeu muito bem. Liberte esses dois no início da lua de sombras. Nenhum dia antes, nenhum dia depois.

– Sim, Meu Kral.

Quando Ker Elijah se foi, Rariff abriu a gaveta da cômoda onde estava guardado o papel com os versos de Merab, rabiscados às pressas. Releu mais uma vez as palavras enigmáticas, se perguntando se deveria consultar Serena. Porém, de que adiantaria? Serena não fora capaz de prever a queda da Torre do Arzhel... E também não fora escolhida por Merab para guardar aquelas palavras. Talvez, apesar de ter sido tão promissora em outros tempos, seus dons de ghaya tenham se esgotado.

Abriu uma segunda gaveta, meio emperrada pelo tempo em que passara fechada. De lá, tirou uma suntuosa caixa, envolta em veludo azul escuro como a safira em seu dedo.

Noa se sentou na cama, com a caixa nas mãos.

Bordado por fios de prata, estava um dos nomes que mais fincavam a faca da saudade no seu coração.

Agnes.

Desde que reencontrara Hannah, por vezes, ele se imaginara abrindo aquela caixa em uma ocasião feliz. No entanto, agora, ele a abria a contragosto.

O fecho era formado por uma tranca de prata, que ele abriu com uma pequena chave. Uma nuvem de poeira saiu da fechadura assim que a chave virou lá dentro. Noa perdeu alguns segundos observando as partículas dançarem contra a luz dos raios de Amandeep que entravam pelas frestas da cortina.

Empurrou a tampa para trás, revelando um tecido fino, levemente mofado nas pontas.

Há anos, ele não abria aquela caixa. Assim que afastou o tecido, os raios de Amandeep iluminaram seu interior, como se atraídos pelas pedras preciosas que haviam sido talhadas para brilhar. O quarto se encheu de luz, pequenos feixes brincavam alegremente pelas paredes palacianas.

A coroa de Agnes era feita de milhares de diamantes que se enfileiravam até formarem uma comprida estrela de Alim. No centro da estrela, uma enorme safira brilhava. A coroa era afiada e pesada, não era qualquer mulher que conseguiria portá-la.

Era forjada para uma krali.

Noa se lembrou de quando vira Hannah em Shailaja, anos antes, e, mesmo com as feições disfarçadas e as roupas de uma criada, ele identificara nela o orgulho e a altivez de uma soberana.

Hannah seria perfeita para aquela coroa.

Ela a portaria com mais do que orgulho, a portaria com amor, com a felicidade de ser uma líder para o seu povo.

O Portal IV - Fios de Alim - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora