III 3.1 Lar da Morte

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Babakur não sabia amar

Sem uma dor para afagar

Sem um laço para rasgar

Sem um pedaço para chutar

A Babakur só interessava a dor

Daqueles que rezam com louvor

Daqueles que sonham com ardor

Daqueles que perecem por amor

E quando Babakur se entediou

O própria dor não lhe bastou

As próprias lágrimas, ele provocou

Os próprios filhos, ele queimou

Já era a terceira noite de perseguição na mata de Palacianos. A palavra perseguição era a única que vinha à sua mente e parecia algo muito emocionante, mas não era. Há três noites, o filho de Babakur caolho havia sido libertado e Liam começara a segui-lo. O avanço do prisioneiro era moroso.

Ele parecia fraco, aéreo, perdido. Não sabia para onde ir.

Mas, apesar da aparência esquálida e pálida de quem passara os últimos anos atrás das grades, Liam não demorou a perceber que era perigoso.

Primeiro, ele roubou um pedaço de pão.

Depois, uma carroça inteira e o cavalo.

E, antes que Liam percebesse, estava quase perdendo-o de vista.

Precisou roubar um cavalo ele mesmo e partir em disparada atrás do ex-prisioneiro, jogando uma moeda de ouro para trás, enquanto um palaciano cabeludo gritava com ele.

Não foi um jeito muito discreto de começar a missão.

No entanto, logo viu que ninguém o delataria. O filho de Babakur parecia perdido na mata. Não tinha aliados.

Quando passaram pelo Abismo da Rani, o jovem parou a carroça e saltou. Liam observou curioso quando o filho de Babakur arrancou algumas margaridas selvagens e, com um gesto solene, as jogou sobre o abismo, como se fosse um túmulo. Depois, com um graveto, ele fez um símbolo no chão. Quando ele se afastou, Liam se aproximou para ver o rabisco: o antigo símbolo de Babakur.

Quatro filhos de Babakur morreram no Abismo da Rani naquele dia. Liam se perguntou para quem seria a homenagem.

Por três dias o ex-prisioneiro andou, procurando pelo acampamento nômade de sua tribo.

Sempre um pouco atrás, Liam adentrou na mata ao Sul de Palacianos seguindo o jovem.

E, quando finalmente o encontrou, Liam pôde ver a decepção no rosto dele. Não havia ninguém, apenas tendas furadas e abandonadas em meio a roupas esfarrapadas, antigas fogueiras apagadas e utensílios antigos.

O jovem se demorou um pouco mais em uma tenda maior, a única que restava de pé. Depois que entrou, Liam ouviu vozes e aguardou. Até que, enfim, o jovem saiu de lá com um pedaço de papel amarelado na mão.

Liam não conseguiu ver o que ele lia naquela folha antiga, mas, depois que a encontrou, seus passos se tornaram mais decididos e Liam percebeu que ele tinha um rumo.

Estava fraco, magrelo e comia qualquer coisa que encontrasse pelo caminho. Mas não demorou a recuperar alguma força e, quando o fez, um lobo surgiu ao lado dele. Era igualmente decrépito e feio, até um pouco manco, mas a cada dia se tornava mais forte.

O Portal IV - Fios de Alim - Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora