Capítulo 3-

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     Seguindo exatamente o que Válter havia dito, Gerúndio correu atrás da mulher. Ela estava um pouco à frente dele e se escondeu por trás da casa de taipa. Já imaginando que a arma dela estaria pronta, ele começou a armar a sua, diminuindo a velocidade da corrida para ser certeiro. Porém, ao chegar por trás da casa, não a encontrou; apenas viu um pequeno forno de tijolo. Ao olhar para cima, sua visão foi embaçada pela luz solar, e ele só conseguiu ver uma breve sombra de um salto. Em seguida, sentiu a dor de um chute que fez seu fuzil cair no chão. Nem sequer teve tempo para reagir.

Vendo que a arma do rapaz estava longe, ela percorreu o corpo dele com os olhos para ver se havia mais armas de fogo e só enxergou dois punhais. Com isso, fez uma pose de ginga, chamando-o para vir.

"Cacete, ela bate igual macho, mas ainda é mulher, não é alta e nem tem grande porte físico; isso vai ser fácil" — pensou Gerúndio, convencido. — "Florzinha, se vosmicê se entregar agora, talvez eu a deixe viver." — disse, se aproximando para dar um soco que foi esquivado.

— Prefiro morrer — respondeu, tentando dar uma cotovelada nas costelas, que foi defendida pelas mãos. Ele não lutava mas; sabia o básico para se defender.

— Pois que morra e vá direto pro inferno — respondeu, retirando com agilidade o punhal do coldre, direcionando-o para a barriga da moça.

Ele já ia acertar.

    Pétala já imaginava que ele faria isso; sabia também que sua força nem se comparava à dele, mas isso não importava, já tinha em mente o que fazer. Por breves segundos, ela parou o ataque; seus dedos indicador e médio acabaram se machucando no ato, pois ficaram entre o punhal. Entretanto, não foram cortes profundos, e a dor era suportável. Fazendo um pouco mais de força, ela conseguiu desviar o punhal para atingi-lo, o que cortou ainda mais entre seus dedos, mas não se comparava ao corte que estava no braço de Gerúndio.
   Até aquele momento, o único som que era possível ouvir era o barulho dos tiros que estavam sendo trocados do outro lado. Porém, agora, o que se ouvia era um grito masculino que tomou conta do local.

   "Gerúndio? Meu Deus, tenho que ajudar ele!" pensou Válter, ouvindo o grito que era impossível ter vindo de uma mulher. Sua munição estava chegando ao fim; a do cangaceiro à sua frente também. Eles corriam para trás dos arbustos sem cessar-fogo; o primeiro que tivesse que recarregar seria morto.

     E para sua sorte, o primeiro que teve que recarregar foi Dentes de Ouro. A oportunidade de pegá-lo estava em sua frente. Saiu correndo na direção do homem e disparou um tiro que não o acertou, mas o deixou desconcentrado. Só restava uma bala, e ele tinha que ser certeiro. Para garantir que seria, ao se aproximar mais, deu uma coronhada na cabeça do homem, que caiu desmaiado no chão.
  Sua última bala já estava preparada para atravessar a cabeça do cangaceiro. 480 mirreis já estavam ganhos para Válter, até ouvir uma voz feminina aveludada, porém que exalava confiança e poder. Ela estava um pouco longe, mas era possível ouvir em bom tom.

— Se vosmicê atrever a atirar, eu mato ele — disse, saindo de trás da casa. O vislumbre inicial que teve foi o de Gerúndio a tampando por inteiro; parecia estar com os braços amarrados. E não satisfeita, ainda deu um chute no homem, derrubando-o no chão e colocando seu pé direito sobre ele para segurar, enquanto sua espingarda estava colada na cabeça dele.

— Eu sei que vosmicê não tem coragem, nunca matou ninguém e nem vai; só está falando isso para salvar ele — retrucou, confiante em suas palavras. Ele tinha passado meses inteiros juntando informações sobre ela, estava convicto de que, dentre muitas coisas, a que ela mais evitava era ter que matar alguém.

— Cabra, vosmicê fala tão convicto; deve saber quem realmente matou Lorenzo, né? — indagou, já supondo uma resposta. Porém, nada saiu da boca de Válter, o que a fez pensar que foi o próprio que matou. — Desgraçado! — sussurrou para si mesma.

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