Capítulo 7-

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  Faltavam poucos minutos para o funeral começar; seria realizado na igreja e pegariam a caminhada até o cemitério. Os dez volantes seriam responsáveis por dar apoio à segurança e ficarem atentos às pessoas que estavam ali, pois poderia ter alguém suspeito. Aproveitando esses minutos que lhes restavam, Válter, Gerúndio e Marcelo se reuniram no fundo da igreja para conversar.

— Perda de tempo estarmos aqui, eles não são burros o suficiente para vir — resmungou Válter.

— Acho que são — discordou Marcelo. — Ninguém sabe o rosto deles, dá pra se misturar na multidão.

— Mesmo que ninguém saiba, tem uns que dá pra reconhecer — disse Gerúndio.

— É, mas pensando bem, não é difícil deles se esconderem — Válter falou, analisando a situação.

— Eles não virão, Válter; Marcelo tá enchendo sua cabeça! — exclamou Gerúndio.

— Oxente, homi, vosmicê tá muito invocado — protestou Marcelo.

— Mesmo que não venham, não podemos diminuir nossa guarda — alertou Válter. — Prestem atenção em cada detalhe das pessoas, principalmente nas mulheres de cabelo preto, grande e bem cuidado.

— Bem cuidado? — indagou Marcelo, com a sobrancelha erguida, que acabou sendo tampada pelos cachos negros do seu cabelo.

— O cabelo dela é bem grande e bonito; na situação atual, não é fácil manter assim.

A fala dele acabou deixando Gerúndio pensativo. Quanto tempo Válter ficou com a moça enquanto ele estava desmaiado? Ele mesmo, que tinha ido atrás dela, não havia reparado aquilo.

— Ficarei atento; melhor irmos antes que sintam nossa falta; as pessoas já estão chegando — alertou Marcelo.

— Tem razão — concordou Válter. — Gerúndio, se algum imprevisto acontecer, fique distante e somente atire; se vosmicê se esforçar demais, a ferida pode piorar.

Os três homens voltaram para frente da igreja; as pessoas já estavam chegando para o velório. Até o momento, não havia chegado ninguém de estranho; o único que estava agindo fora do normal era Santos, que parecia mais irritado do que o habitual, até que ele fez os nove homens se reunirem em uma fila, um ao lado do outro.

— Mais cedo, eu por ventura vi o cangaceiro de ontem morto — começou a falar, tentando conter a raiva. — Sabem o intrigante? Ele morreu por um tiro de misericórdia; ou seja, alguém foi lá e o matou.

— Pode ter sido um... — Augustinho ia falar o que achava, mas acabou sendo parado por Santos.

— Cala a boca que eu não acabei de falar. Se eu descobrir que algum de vosmicês tá envolvido nisso, farei questão de mandar o cabra pessoalmente pro inferno — seu olhar enquanto falava era totalmente direcionado a Válter, que não gostou nada daquilo e fechou a cara. — Isso não é jeito de olhar para seu superior, Válter — advertiu.

— Estou olhando para o senhor da mesma forma que me olha. — respondeu.

— Está me afrontando? — perguntou, caminhando até ele e ficando cara a cara.

— Não, estou te respondendo; não sabe a diferença?

Aquilo para Santos foi o ápice; passou a mão na arma, preparado para atirar, e Válter fez o mesmo. Os homens que estavam do lado se juntaram aflitos para segurar os dois antes que uma troca de tiros acontecesse.

— Vosmicês tão abilolados?! — gritou Uriel. — Estamos na frente de lugar santo!

— Foi assim que meu avô virou malassombro, matando gente em igreja — disse Tonico. — Querem pagar a sina depois da morte, é?

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