Capítulo 13-

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   Nove Dedos se distraiu pegando lenha para alimentar a fogueira. Quando percebeu, estava distante dos outros. Ao tentar se levantar para retornar, sentiu um cano de uma arma em seu pescoço e pessoas o amarrando. Ergueu o olhar e viu vários homens o rodeando; pareciam ser cangaceiros, todos vestidos de azul.
     Uma mulher muito alta abaixou-se diante dele. Nove Dedos ficou estonteado com tamanha beleza; tinha olhos azul-claros e cabelos escuros, um pouco opacos, presos em um rabo de cavalo baixo. Ela puxou a máscara do homem, e tomou um leve susto. Com a máscara, Nove Dedos parecia ser um homem desprovido de beleza, mas, sem ela, era surpreendentemente bonito aos olhos de Anésis: olhos castanhos, rosto marcado, traços harmoniosos, pele escura e usava uma barba no estilo chin puff, com um pequeno anel de ouro na ponta. Mesmo assim, ela ficou o encarando com fúria no olhar.

— Vosmicê que é o desgraçado do fuzil? — perguntou, com aspereza, obrigando-o a se manter no chão cheio de pedras.

— O quê? — indagou ele, sem entender, temendo o que poderia acontecer.

— Não tente se amoitar! — exclamou, cravando as mãos nas tranças nagô dele e puxando-as com força. — Fale onde está a tal de Pétala Negra! Quem foi o fi duma égua que matou meu companheiro?

— Não faço ideia, e, se soubesse também não diria, sua louca! — rebateu, olhando-a de igual para igual. A veia em suas têmporas pulsava visivelmente pela adrenalina e medo do momento, e sua vida parecia passar diante de seus olhos.

   Irritada, a cangaceira largou o cabelo dele e deu- lhe um tapa no rosto. Mesmo após o golpe, ele voltou a encará-la; nem o receio da morte o faria aceitar aquela humilhação.

— Vosmicê tentou me bater ou acariciar meu rosto? Sua mulher fraca! Nem se nascesse novamente teria um terço de força que minha líder tem! — disse, enfurecido pelo tapa e pela forma dolorosa que estava sendo tratado.

  Aquela frase foi uma ofensa para Anésis e seu bando; tamanha audácia só poderia ser recompensada com a morte dele.
   Com a indignação dominando a todos, eles sequer notaram que Pétala Negra e seu bando se aproximavam. A carta os ajudou, e, guiados pelo carcará que havia descoberto o inimigo, avançaram com passos leves para não fazer barulho, pisando cuidadosamente nas folhas e galhos secos no chão. A maioria dos membros estava na mira, assim como Anésis, que percebeu estar em apuros ao sentir o barril de uma arma bem no meio de sua cabeça.

— Manda largar ele, senão atiro! — ordenou Pétala, firme.

— Vosmicê tem menos homens; em uma peleja, irão morrer! — rebateu, confiante, vendo que tinha dois a mais, seria três se Zé Carabina, que era ambidestro não tivesse com dois na mira.

     A única coisa que a mulher não estava contando, era que do meio do mato, surgiriam mais dois cangaceiros. Jeremias e Tadeu agarraram seus homens por trás, com peixeiras em seus pescoços, e arruinaram a única vantagem que Anésis tinha.
    Em meio à desvantagem, só restou duas coisas: assumir a derrota ou arriscar todos os seus homens.

— Miserável! — sussurrou, mordendo os lábios inferior com raiva. Levantou as mãos e começou a se erguer lentamente. — Eu não quero brigar com vosmicês, somente com o desgraçado do fuzil, me entreguem ele e tudo acabará bem.

— Mió ficar calminha, se não a miserável lhe dá um tiro na fuça! — falou, ouvindo o sussurro da mulher, enquanto levantava a arma conforme Anésis se erguia. — Não sabemos quem é o "desgraçado do fuzil"; nos deixe em paz!

— Irei refrescar sua memória podre, então. Enterrou meu companheiro vivo e o deixou sofrer à mercê das formigas e outros insetos atraídos pelo mel. Quando não foi mais divertido assistir o sofrimento dele, ceifaram sua vida com um tiro na testa. A prova está aqui; achamos essa bala no local — mostrou a munição que segurava desde quando chegou ali. — Pertencente a um fuzil Mauser, o mesmo daquele homem! — falou, apontando para Abespinhado que estava à sua frente.

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⏰ Última atualização: Oct 05 ⏰

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