Capítulo 6-

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   Sons de tiros cortavam o silêncio da noite, e o cheiro de pólvora tomava conta do lugar. A casa havia sido invadida. Válter acordou assustado com o barulho e se assustou ainda mais ao ver uma figura negra indo em sua direção com uma faca. Com o instinto de sobrevivência, desviou para o lado; a faca atingiu e ficou presa no colchão. Isso abriu brecha para Válter acertar a pessoa à sua frente com um chute. Aproveitando que o que parecia ser um homem ficou desnorteado, ele pegou sua peixeira, que estava ao lado da cama, e o esfaqueou.
   A pessoa caiu sem vida no chão. Com grande agilidade, Válter colocou uma cartucheira na cintura e outra passada no ombro, pegou seu fuzil e saiu do quarto. Ao andar pela casa, viu alguns corpos de cangaceiros e de seus companheiros no chão. Ficou abalado, mas não era hora para ter compaixão. Aproximando-se da janela e viu que a parte da frente da casa estava cercada por criminosos, que eram mais numerosos que o volante. Isso era desvantajoso.
    Virando-se para ajudar seus companheiros que ainda estavam vivos, viu outros cangaceiros entrando em casa. Eles não o viram, o que lhe deu a chance de mirar e ser certeiro. Mas isso não durou muito tempo; conseguiram avistá-lo, e uma troca de tiros começou. Ele era bom de mira, treinou bastante, mas ainda era humano e não percebeu que alguém estava atrás dele. Foi acertado no ombro. Nunca havia sentido algo tão doloroso na vida. Só não foi atingido novamente porque um volante matou o atirador.

— Dá no pé, tamo lascado já! — falando um militar.

  Ouvindo isso, Válter correu na direção de um dos quartos da casa, que ficava perto de onde os cavalos estavam. A janela era alta, mas tomou coragem e pulou. O impacto com o chão fez a dor aumentar e fez com que perdesse mais sangue; no entanto, a adrenalina ainda a mantinha de pé. Pegou seu cavalo e o colocou para correr. Contudo, alguns bandidos o viram saindo e atiraram. Foram tiros de raspão, mas que o feriu ainda mais.
  Válter vagou a noite inteira. O dia já havia clareado e ele não chegava a lugar nenhum, até que viu uma casinha ao longe. Usou suas últimas forças para guiar o cavalo até lá, mas acabou caindo do animal desmaiado um pouco à frente.
  Seus olhos se abriram lentamente. A visão estava turva, e sentia fraqueza e muitas dores pelo corpo. Pelo pouco que enxergava, viu que estava em uma casa e que havia algo azul ao seu lado. Tentou se levantar, mas acabou sendo impedido por essa "coisa" azul.

— O sinhô está fraco, fica quietinho e não se avexe — disse o borrão azul que ele via. Era uma voz doce e suave, que soou como um anjo aos ouvidos de Válter. Nesse momento, observe que a coisa azul que destacava era a roupa que a mulher usava.

— O-onde... água... — murmurou fraco, sem forças suficientes para dizer o que queria.

— Te encontrei caído aqui perto. — enquanto falava, pegou um jarro que estava ao lado da cama e encheu um copo de barro com água. — Não me admira estar com sede; vosmicê ficou uma semana desacordado e perdeu bastante sangue. Está vivo por milagre.

Com bastante cuidado, a mulher se sentou ao lado dele na cama e levantou sua cabeça, usando seu corpo como apoio. Com delicadeza, levou o copo aos lábios do homem, que fez uma careta ao sentir o gosto meio amargo no primeiro gole.

— Beba com calma, é água de cacto, a única que tenho. — disse a mulher, seu tom doce acabou entristecendo.

   Depois de alguns goles, Válter se acostumou com o gosto e percebeu que não era tão ruim; suas condições físicas melhoravam, e sua visão voltava ao normal, finalmente vendo quem cuidava dele. A moça tinha longos cabelos negros, e seu rosto brilhava como a luz de um lampião que iluminava o quarto. Até que, de repente, ele abriu os olhos com a claridade do sol batendo em seu rosto, despertando do sonho.

— Acordou, princesa? — perguntou Marcelo, parado ao lado dele, com um palheiro na boca.

   Instantaneamente, Válter deu um pulo da cama. Sonhar que quase morria e acordar com um homem ao lado não era uma sensação boa.

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