O sol que iluminava o sertão era escaldante; os ventos eram poucos, e os que tinham eram secos e tão quentes que pareciam queimar as narinas.
Pétala andava por debaixo desse sol junto a Dentes de Ouro. A pancada havia sido forte; teve até que tirar a máscara pelo fato de estar roçando no machucado, acabando por deixar seu rosto à mostra, e pelas condições que estava exposto, ele ainda estava meio zonzo.— Já posso caminhar sozinho, Pétala, me deixe! — resmungou, tentando tirar o braço que estava nela, mas a própria não deixou.
— Não, Joaquim! Vou te carregar nem que seja a pulso. Vosmicê me preocupou hoje... Não se atreva a fazer isso novamente! — Uma mistura de bronca e preocupação tomou conta da voz da mulher; já Joaquim, por sua vez, deu uma risada.
— Para de bestagem, muié, eu estou bem, nada de ruim aconteceu!
— Mas poderia ter acontecido! Por favor, tome cuidado; não suportaria te perder... — disse, um pouco melancólica.
— Abestalhada — chamou-a assim, dando um beijo rápido em sua bochecha. — Não fique supondo coisas que poderiam ter acontecido; fique feliz por não ter acontecido.
— Eu sei... Só que tenho medo, aquele Válter não parece estar para brincadeira.
Joaquim pensou por alguns segundos; teve a impressão de que o homem sabia exatamente qual seria seu próximo passo. Não parecia ser coincidência. Porém, acabou optando por guardar seu pensamento para si. Na sua cabeça, não tinha nexo isso; talvez a pancada tivesse afetado sua mente.
— Ele é astuto e tem boa mira; cabra arretado, todo cuidado é pouco! — respondeu, contornando um pouco sobre o que pensava.
— Sabe, pode parecer meio leso o que vou dizer — deu uma pausa — Parece que ele está só atrás de mim. Suas falas se referiam somente a mim...
— Sua recompensa é a mais alta, em um ano saiu de 500 mirreis para 700 mirreis, ela aumenta constantemente.
— Iapôis, vosmicê tem razão.
Concordou com ele e continuaram o caminho que parecia inacabável. Os espinhos da caatinga passavam em suas perneiras de couro enquanto o suor escorria pelo rosto. A salvação deles foi ver uma nuvem de poeira feita pelos cavalos e jumentos dos oito homens mascarados que vinham ao encontro, trazendo dois cavalos sem cavaleiros.
Os dois cangaceiros sorriram e acenaram para o bando, que rapidamente se aproximou deles, puxando as rédeas para parar os cavalos.
— Joaquim se lascou, olha esse inchaço de todo tamanho na cabeça! — disse, rindo, um dos cangaceiros de pele escura que tinha os cabelos trançados com anéis de ouro nas pontas.
— Cala a boca, Manoel! — retrucou, irritado com a zombaria.
— Olha ele virado no mói do cuento — continuou rindo.
— Parem os dois! — interrompeu Pétala, e assim obedeceram sem pestanejar. Ela era a líder; ninguém ousava desobedecê-la. — Temos muito o que fazer; não podemos perder tempo. Sobe logo no cavalo e vamos.
Assim, os dois subiram nos cavalos e foram. Pétala puxou a liderança e os homens ficaram atrás. Deu meia volta e foram em direção ao esconderijo onde estavam ficando.
"Seja grato e feliz por aquilo que tem, não se lamente por aquilo que não consegue ter"
- Pétala Negra -
Válter havia sido claro com a senhora à sua frente, e seu olhar dizia que isso não era um simples blefe. A velha se estremeceu por completo, e um arrepio percorreu sua espinha. Tenente Santos era um homem de pura maldade; nenhuma pessoa em sã consciência iria querer se meter com algum subordinado dele.
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Pétala Negra
RomanceDurante um período de grande dificuldade no nordeste brasileiro, surgiram inúmeros bandos de cangaceiros no sertão. Dentre eles, destacou-se uma mulher apelidada de "Pétala Negra", vista por muitos como uma heroína e por outros como uma cangaceira i...