STONE HEART • supercorp

02.

[...]
Atualmente

— Jeremiah Luthor era mais do que meu avô. Ele era um homem de garra, de fibra... Que se empenhou durante toda a sua vida a trazer uma história digna a nossa família. Mesmo que a vida tenha acometido problemas e perdas, meu avô nunca deixou-se abater. Vou me lembrar dele com amor e carinho, pois foi ele que me deu um rumo, um norte do qual eu sigo orgulhosamente. Obrigada vô pelos 86 anos de vida dos quais todos aqueles que passaram por ela souberam aproveitar bem de seus ensinamentos dos quais devem ser sempre lembrados. Obrigado.

Os aplausos não foram suficientes para que Lena esquecesse da tristeza e do luto que acercava sua vida naquele momento. Era o funeral de seu avô, do qual ela cuidou até os últimos momentos da vida dele. Lena estava ao lado dele quando Jeremiah deu seu último suspiro.

E as suas últimas palavras dele.

— Acho que se morrer, poderei finalmente dormir em paz.

— Mas por que diz isso, vô?

E ele não respondeu mais.

O caixão de Jeremiah era feito de madeira negra e no funeral havia poucas pessoas. E atendendo a pedidos, não houve prolongamento de despedida. Apenas o funeral e algumas poucas pessoas puderam falar da memória e da vida de Jeremiah Luthor.

E Lena foi uma delas.

Em absoluto silêncio e resguardada pelas memórias do avô, Lena se retirou á um canto da sala funerária, vendo a melancolia dos sentimentos e o sabor da saudade em seu ambiente, trazendo impetuosas lembranças de sua juventude no rancho da família ao lado de seu avô.

Ela se lembrava de como ela parava nos estábulos de Altair — Um puro sangue que havia deixado uma descendência forte e sagaz no rancho — e como ela constantemente olhava para um casebre velho e destruído muito ao lado do riacho que cortava o local, ao lado de macieiras tão antigas como a linhagem da família.

Quando Lena era criança, um potro nasceu de uma linhagem de puro sangue inglês do qual o avô de Lena era possuidor. O cavalo era marrom caramelo, com a crina tão negra quanto a noite. Prontamente, a Luthor deu seu nome de Dante. Os peões do rancho cuidavam tão bem de Dante que ele era tratado como um tesouro precioso. De Dante, os outros Alazões nasceram e criaram laços, trazendo sucesso para a família Luthor nesse campo dos negócios.

Dante foi especial, pois foi ele que levou Lena para a faculdade de medicina veterinária, onde se moldou como um especialista em equinos. De prestígio, a Dra. Luthor era reconhecida na família como uma médica promissora e estava pesquisando sobre genética nos animais cujo sua família exibia com orgulho no rancho majestoso e muito bem visto em National City.

Sua infância tinha mais do que Dante, seu avô e as cicatrizes das quedas e das brincadeiras. Ela tinha um par de olhos azuis ciano dos quais em seus sonhos, jamais eram esquecidos. Se lembrou de uma garota de sorriso sapeca, de aparência moleca da qual insistentemente a chamava pela janela, logo pela manhã.

Ela tinha uma marca de nascença no pescoço e jeito de mulher feita mesmo com tão pouca idade. Ela ajudava nos estábulos dos cavalos, mesmo com trabalho salubre e muito exaustivo.

O nome dela sempre falhava a memória de Lena, mas a aparência nunca saiu de sua mente. Seu avô gostava de manter as duas perto, e sempre que preparava um comboio de cavalos para ir até exposições ou até mesmo mostrar a potência de um puro sangue, a garota estava sendo parte de tudo aquilo.