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Stone Heart, 1960

Luiza estava sentada sob um dos bancos de madeira lascada nos fundos da casa, observando o vento sacudir as árvores e os lençóis brancos das camas secando sob o sol de verão. Sentiu o cheiro de melancia sendo cortada na mesa da cozinha, o som da faca e do cantarolar de sua irmã, pensando que gostaria que mais tardes como aquele acontecessem.

Ela tocou mais alguns acordes no violão, pensando em tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas desde que Kieran Luthor tomou posse de algumas coisas no rancho. Os peões tinham mais liberdade para andar pela cidade, os cavalos estavam começando a ficarem mais sadios, e havia mais períodos de conversa, de folga e de paz. O ranzinza patriarca da família havia perdido seu valor na propriedade, então passava seus dias sentado na cadeira de balanço, xingando todos e aqueles que ousavam atrapalhar sua folga entre dias vazios e sem compromisso, enquanto Jeremiah coordenava o lado da agricultura da fazenda. Quase não o via, já que ele vivia com os cavalos se responsabilizando tudo ao lado de Kieran. Poderia dizer que se tornou um braço direito para a jovem veterinária que exigia sua presença em alguns momentos ao longo do dia.

Cat Grant tocou no rádio, quando Eliza apareceu com uma grande fatia de melancia para ela.

— Está tão doce quanto uma bela tarde como essa — Ela mordeu um pedaço. Luiza aceitou de bom grado.

— Gosto de tardes assim. Tranquilas, serenas e doces... Como uma melancia da sua horta.

A garota riu.

— Sabe, depois que Kieran apareceu, o clima ruim e desavenças diminuíram um pouco. Creio eu que devemos agradece a garota, não?

— Sem o velho Luthor para perturbar, conseguimos trabalhar melhor — Luiza pegou o violão.

— E a Kieran é tão linda — Ela vibrou — Ela é tão linda, deveria ver quando...

— Eliza, eu deveria mesmo escutar seu prólogo sobre mulheres?

— E porque não?

— Por que mulheres não me atraem e nem a você.

— Mas não tem homens interessantes para que eu possa comentar sobre isso.

— Faça um imaginário — Ela dedilhou o início de alguma música de Cat — Porque eu sinceramente não tenho hormônios o suficiente para saber de mulheres que você acha bonita.

— Ah, mas deveria me escutar... Só um pouco.

— Jesus, não mesmo — Ela riu — Se fosse um cavalheiro...

— Faz tempo que não toca uma musica para mim, irmã. Deveria dedilhar um pouco de Jazz em seu violão para mim?

— Que falácia, Eliza. Sabe que esse violão só toca a melhor do Country e do Rock de Elvis.

— Ah que besteira. Poderia me dar um pouco de música boa, como aquela dos anos 20 que mamãe tanto falava. Lembra? Quando éramos crianças... Ela falava muito de Nova Orleans e de Paris.

A lembrança de sua jovem mãe fez a loira ficar um tanto abatida. Já não bastava ser expulsa da fazenda onde cresceu pelo seu irmão após a morte de seu velho pai, havia algumas lembranças vazias de sua mãe cujo o tempo não foi generoso com ela e a levou da vida muito cedo.

Ao ver Eliza voltar para cozinha um tanto abatida, Luiza a abraçou e deu um beijo na testa da irmã.

— Um dia, cantarei algo para você.

— Jeremiah dedurou que está compondo.

— Ele deveria ficar quieto, não acha?

— Ora, você é como uma irmã para ele. E sabe... — Ela mordeu mais uma fatia da doce melancia — Eu gosto de fofoca.

STONE HEART • supercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora