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Rancho StoneHeart
Junho de 1960

Kieran deixou a última caixa de livros no seu quarto antes que o sol desaparecesse por completo e a noite caísse como um peso em sua rotina. O cheiro de fogão a lenha e de madeira estava lhe fazendo ter recordações de uma infância relativamente feliz naquele casarão.

Ela olhou pelo corredor escuro. Não entendia a necessidade de tantos quartos, mas as luzes estavam acesas. Por alguns segundos, esperou que a sua mãe saísse da biblioteca, bocejando de sono e lhe desejando boa noite, como ela sempre fazia. Os cabelos castanhos escuros dela, preso com um lápis e ela usando vestidos de chita coloridos...

Como ela fazia falta.

Ela voltou a olhar para seu quarto.

Ele era bem grande e de jeito, tinha uma conexão com o quarto a sua frente, cuja sua ideia era de transformar em um canto de estudos. Prontamente, ela foi até o armário de frente e começou a colocar as roupas, vendo que os empregados faziam questão de manter tudo limpo, apesar que só duas pessoas moravam naquele casarão em estilo colonial. Não que tivesse muitos quartos, mas Kieran sempre pensava que era de forma exagerada para poucas pessoas morarem ali.

Quando pôs a mala para debaixo da cama de madeira maciça, o rouco som de madeira rangida fez presente e isso fez com que seus olhos encarasse a miúda figura na porta de seu quarto.

— Mil perdões — A voz feminina parecia doce e agradável — Mas me pediram para deixar isso aqui.

— Quem é você? — A luthor perguntou, deleitando-se de certa curiosidade.

A garota usava um vestido de mangas curtas e decote quadrado. Ele não passava muito do joelho, e ela usava um avental por cima dele. Seus cabelos eram loiros e estavam presos em uma trança muito bem feita. Ela tinha sardinhas pelo nariz e seus olhos eram da tonalidade de um lago azul cristalino. Magra e esbelta, a garota ocultou um sorriso.

— Me chamo Eliza. Eliza Danvers, senhora.

— Não precisamos desse senhora — Kieran estendeu a mão — Acho que já deve saber quem sou.

— Sim sen... Quer dizer, sim. Jeremiah não parava de falar o quão a irmã dele voltaria para cá. Me permito dizer que ele está tão feliz que não para de falar sobre você.

— Sempre tão exagerado e sempre tão empolgado — A Luthor deu um passo de lado — Precisa de algo?

— Seu pai me pediu para lhe ajudar com suas coisas.

— Pois então vamos aprumar. Estou faminta para o jantar.

— Teremos frango frito com mel — Ela parecia mais animada, sorrindo — Cortesia de seu irmão.

Kieran sorriu com a leveza da garota. Fazia muito tempo que ninguém sorria naquela casa e ela tinha a impressão que Eliza poderia ajudar com essas tristezas.

Alguns minutos depois, e um quarto parcialmente arrumado, Kieran escutou um barulho de batida irritante.

— Liz! — Era a voz incomparável de Jeremiah — Precisamos de um kit de primeiros socorros aqui!

A garota soltou o travesseiro afofado e na porta do quarto, gritou de volta:

— O que aconteceu?

— Luiza retalhou as costas em um pedaço de madeira! Ela tá sangrando feito uma vaca abatida lá no estábulo.

— Ah, eu num vou não — O sotaque dela se fez presente pela primeira vez — Não gosto de ir nesse escuro e odeio sangue.

Kieran riu.

STONE HEART • supercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora