08.

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[...]
Atualmente

Quando Kara alcançou Lena, ela já estava dentro da ala de Eliza que ficava perto da cozinha. A ala era privada dela e contava com uma sala de estar, um pequeno escritório e o quarto de dormir. Todos decorados ao tom de casa rústica e o bom toque maternal que só a Eliza conseguia transmitir.

Ela estava parada, com seu roupão de dormir e segurando uma xícara de chá. Lena estava de pé, em sua frente.

— Quem são elas, Eliza?

— Eu não devo satisfações alguma para você, Lena.

Ela estava nervosa. Kara entrou na salinha.

— Vó...

— Ah Kara — Ela deixou a xícara sob a mesa — Veio nos agraciar com a sua presença?

Lena a encarou.

— Ela não quer me dizer nada.

Kara olhou para os papéis de sua mão. Aquela fotografia.

Entregou para Eliza.

— E quem é ela, afinal?

Eliza olhou para a foto. Impassível, ela passou a ponta do dedo no rosto revelado e soltou um sorriso.

Lena ainda continuava a observar, suas mãos tremendo e um pouco de afobação.

Ela devolveu a foto. Se levantou e foi até a janela.

A brisa noturna estava quente e a visão da salinha de Eliza era o jardim e um pouco do alojamento dos peões que alguns estavam sentados no chão perto da porta, fumando cigarros e bebendo vinho.

A senhora continuava a olhar para o horizonte, apertando seus dedos. As lembranças a atormentaram, como uma dolorosa ferida que nunca havia cicatrizado durante sessenta anos.

Ao olhar seu reflexo na janela, viu o seu rosto. Enrugado, tristonho e velho. Lembrou-se dos tempos de juventude, dos vestidos de chita, do sabor das frutas de verão e de Jeremiah, que a segurava pela cintura quando desciam do cavalo. De Kieran e Luiza, que voltavam a cidade com potes de mel, carnes frescas e doces para que ela cozinhasse para elas. Do sabor das festas de rodeio, das danças no celeiro e por fim, de como ela era feliz.

Esfregou suas mãos e voltou a encarar seu reflexo. Havia prometido a Jeremiah, antes que ele fosse levado pela morte. As cartas que ele enviou durante as semanas antes do fim, as músicas que ela escutava. A promessa que ela fez.

Deu de ombros e se virou para os jovens. Lena estava a olhando, como se esperasse algo e Kara ali, parada e silenciosa.

— Eu contarei tudo, mas com uma condição — Ela suspirou — E quero que cumpra.

— Sou toda á ouvidos.

— Seu avô lhe entregou uma lista que eu sei — Ela começou — Para devolver a fazenda aos eixos.

— O que isso tem haver?

— A fazenda está passando por maus bocados, você sabe disso — Ela se sentou novamente — Os cavalos não estão sendo vendidos, as plantações estão acabadas e não estamos mais fazendo tanta fama nessas bandas como antigamente. Não temos tantos peões, e nem sei como estamos sobrevivendo nesses tempos. Essa fazenda está há gerações na família Luthor, acho que você já deve saber disso.

— Eliza...

— Devolva a fazenda para o centro das atenções. Cuide dela, a salve de uma falência. É por isso que seu avô lhe trouxe aqui. Não peço nada demais, peço para que salve esse lugar. Aqui não é só um rancho da família Luthor: É um pedaço da história desse Estado, da sua vida e tenho certeza que muitas pessoas tem uma boa lembrança de Stone Heart. Eu mesma tenho.

STONE HEART • supercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora