A noite chegou.
E eu estava encarando o espelho. Vendo uma coisa que eu não gostava, eu mesma.
Usava um vestido branco não muito longo. Fazia tempo que eu não o usava, então estava mais justo do que eu gostaria, além de um salto curto no pé. Meu cabelo meio solto com um laço atrás e uma maquiagem básica.
Não ia muito pra festas, então não tinha muitas roupas apropriadas. Mas essa em específico era da minha mãe, ela me deu dizendo que eu lembrava ela quando era da minha idade, ela com certeza era mais bonita.
Mas mesmo assim, não me sentia bem comigo mesma. Nem com toda maquiagem, meu corpo, meu rosto, nada me agradava, tinha raiva de tudo em mim.
Era um dos motivos que eu não saía muito, se eu mesma me acho horrível, o que impede outra pessoa achar? E eu também odiava os olhares em mim, odiava... Profundamente.
Saí e fui esperar Lis na calçada.
Minha mãe tinha saído pra trabalhar, então tive todo o trabalho de fechar a casa. Me sentia culpada por fazê-la trabalhar tanto, ainda mas a noite, eu dava meu máximo tentando achar um emprego, mas só conseguia os de meio período.
Era toda a vez a mesma coisa. Eu tentava e tentava, mas no mínimo erro ou pressão eu entrava em crise, e não conseguia fazer mais nada depois. Nunca tomava os remédios quando saía, eu parecia estar dopada, e eu não gostava disso. Mas eu devia ter me esforçado mais, não foi o suficiente.
No meio desses pensamentos, só senti um gosto de ferro do sangue na minha boca, era quase automático, sempre mordia a parte interna da bochecha nessas situações.
- Oii lindona! - Saí do meu transe, vendo Lis atrás de mim.
Com um vestido de botões e boina, pretos como a noite, a bota grande característica e maquiagem perfeita. Existia uma luz em volta dela que nem se eu pudesse conseguiria descrever.
Ela sempre foi perfeita, da cabeça aos pés. Desde a escola, sempre muito comunicativa e exemplo da classe, na faculdade a melhor, ela conseguiu se formar, e hoje trabalha na editora Scar's, conhece grandes escritores, e sempre faz questão de pedir um autógrafo pra mim quando é algum que eu gosto. Sinto orgulho dela, muito, ela passou por muito também, e continua sorrindo como se nada acontecesse, ela gosta de dizer que a vida é pra ser vivida, é nesse lema que ela já se colocou, e nos colocou em um monte de problemas, e sempre ria no final de tudo.
As vezes fico pensando se eu realmente mereço tê-la do meu lado...
- Oi. - Dei um sorriso pequeno.
- Nossaaaa! Solteira? - Ri fraco negando com a cabeça.
- Já pedi o uber. Pode falar agora onde a gente vai?
- Aah sim, vamos numa festa dada pelo Sr.Gallagher, onde vai haver todo tipo de gente! Cantores, atores, escritores, tudo!
-Gallagher?
- Sim! É um escritor famoso internacionalmente, ele escreve ficção fantástica. Ele está dando uma festa, eu fui convidada por conta que eu já o conheci antes, e adivinha? Ele lembrou de mim e me deu o convite, podia acompanhante, então porquê não chamar a minha melhor amiga? - Sorria pra mim.
- Conhecia antes é? Aiai Sra.Giordano.
- Não é isso que você está pensando, eu conheci ele no intercâmbio na Inglaterra, e também ele não faz meu tipo.
- Se você tá dizendo.
Quando o Uber chegou entramos. Durante o tempo dentro do carro, via as árvores alaranjadas sendo iluminadas pela luz dos postes, a noite fria e barulhenta como sempre. Eu gostava de morar aqui, Florença tinha uma estética linda, ainda mais no outono, bem melhor do que minha antiga cidade.
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POR ONDE ANDA O POETA?
RomantizmFlora em um momento decide ir atrás do seu escritor favorito, mas nunca poderia imaginar que isso colocaria sua vida em risco. Agora ela está em uma confusão mental, Será que ela deve se sacrificar por ele? "Naquele momento eu não sabia que minha cu...