1. You are a memory.

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Irene estava extremamente entediada. Ela não era mais aquela esposa que adorava organizar jantares, isso havia morrido com sua antiga identidade há alguns anos, porém ter um novo marido rico com um cargo importante exigia algumas funções semelhantes.

Se olhou atentamente no espelho e analisou seu vestido, era extravagante e brilhoso, como costumava ser nos velhos tempos. Havia dias em que ela se olhava no espelho e não se reconhecia e isso lhe gerava um sentimento de raiva crescente que queimava por toda sua garganta. Ela não havia mudado por opção, foi obrigada pelas circunstâncias. As vezes o cabelo castanho escuro e a franja lhe faziam querer gritar com alguém. Amava seus saltos, mas em dias como aquele, ela só queria suas sandalhas plataforma de volta. Até suas joias agora eram mais discretas e os colares mais simples e finos, mas ela amava suas joias chamativas e exuberantes de antes, talvez porque ele amava tudo isso nela também.

Ela sabia exatamente o motivo para o péssimo humor, hoje seria aniversário dele. Ela se lembrou logo que acordou pela manhã.

21 de março.

Aquela maldita data nunca mais seria apenas um dia comum, o fantasma dele a assombraria para o resto de seus dias. Hoje ela não estava nada disposta a se prestar ao teatro ridículo de ser a esposa de Alex. Hoje ela só queria ser a Irene, a pessoa que foi por uma vida inteira.

Sua vida tinha sido muito confortável nos últimos anos, isso não poderia negar. Tinha um novo filho que amava, agora ja estava com seus 3 anos de idade. Um marido que lhe amava e ela também o amava, mas era um outro tipo de amor, nada como aquela paixão avassaladora que sentia por Antônio, era como um amor de cumplicidade e amizade. Alex era muito diferente de Antônio, ela odiava fazer essa comparação, mas era inevitável. Alex era calmo, amoroso e eles quase não brigavam. Ele não exigia muito dela e isso facilitava as coisas.

Antônio era o seu tormento particular, uma tempestade desenfreada que ia levando tudo por onde passava. Ele era o motivo dos seus estresses diários. Era impulsivo, guiado pela raiva e explosivo. Um ciumento incomparável e que lhe tinha como propriedade (não que ela reclamasse disso, ela adorava, pois era igualmente louca de ciúmes por ele). Antônio lhe causou muita dor e tanta mágoa, mas a maior de todas foi ter partido deste mundo sem ela. Como uma relação doentia poderia ter lhe proporcionado os melhores anos de sua vida? Ele foi seu grande e único amor e ela não mentiu quando jurou em seu túmulo que nunca o esqueceria. A mera lembrança daquele homem fazia seu coração acelerar em disparada, como um cavalo selvagem sem controle correndo pelas colinas.

Eles foram felizes de fato. O tempo todo? Não. Mas de qualquer forma, nenhum outro homem no mundo a fez se sentir como ele fez. Se pudesse ser sincera consigo mesma, ela gostava de todo caos que vinha com ele, como uma avalanche levanto tudo que há pela frente. A vida sem ele havia se tornado morna e toda aquela tranquilidade poderia ser facilmente sufocante e levá-la a loucura. Era sem graça, se sentiria vazia se não fosse pela existência do menino de 3 anos que lhe dava um propósito, fazer tudo diferente. Era sua única razão de vida no momento, já que não tinha mais nada.

Às vezes, ela iniciava uma briga com Alex por algum motivo idiota e ele sempre acabava cedendo e concordando com suas exigências, nunca levantava a voz para ela, não dando a ela o que ela queria. Ele era tudo que ela pensou que queria de um homem, rico, bondoso, carinhoso e calmo. Odiava não ser verdadeiramente apaixonada por ele, seria tudo mais fácil. Irene sentia falta do fogo de ter alguém que sabia levá-la ao seu limite. Antônio nunca cedia. Ele gritaria com ela de volta e eles discutiriam. No fim, ele transaria com ela até que ela esquecesse o porquê estava com raiva. Ela tentou se lembrar que teve isso uma vez e que foi o motivo de sua verdadeira ruína, porém aquele desejo nunca passava e com o tempo, sentiu falta do fogo que era acompanhado daquele caos.

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