08 - Beta(a revisar)

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Beta, o gênero apagado. São aqueles que não possuem feromônios. Como no mundo moderno, são pessoas divididas nos gêneros que conhecemos, mulheres e homens, que só podem ter filhos caso ocorra a união dos opostos. Não têm a capacidade de usar o cheiro e nem uma força física louvável.

Presos nas consequências de 'ser' por toda a vida. Acorrentados a um injusto pré determinado futuro, traçado pelo lápis impiedoso de uma cultura de opressão. São aqueles seres humanos como os do mundo de Sebastian, os mesmos que oprimiam uns aos outros, que não aceitavam o amor em diferentes formas, que olhavam torto, que batiam, discriminavam e matavam pelo puro ódio do diferente. Que grande ironia. Que trágica ironia ver sofrer o tradicional, o cristão, o 'normal'. Um mundo onde o 'normal' não é nem humano. Um mundo onde pessoas como ele(pertencente a uma minoria), misturadas a muitas outras que oprimiam pessoas como ele, estavam sendo juntas condenadas por um Deus que sequer sabem se realmente existe. Mas temos fé, explica Lin. Fé num Deus que pune as almas fazendo-as nascer em corpos defeituosos. Os betas sofrem por erros nas vidas passadas, é o que ele me diz. Um absurdo muito familiar para Sebastian.

Apesar de parecer uma vingança justa, Sebastian sabia que não era assim. Ali, ninguém tinha culpa do que ele tinha passado. Não são as mesmas pessoas. Os olhares de ódio lhe voltam a cabeça, mas ele logo os afasta com os olhares carinhosos dos seus amigos, que sabia, nunca mais veria. Nem todos são odiáveis. Alguns são como as tantas pessoas que conheceu na sua curta jornada no planeta chamado terra. E os que não são... bom... foda-se os que não são.

Portanto, não importava o quanto Lin tentava convencê-lo que assim é, e assim deve permanecer, Sebastian não concorda. Não importa o quão utópico é querer um mundo sem divisões e desigualdades, não corroboraria com o contrário. Faz questão de deixar isso bem claro, mesmo que como consequência tivesse a antipatia do servo.

Sebastian sabe muito bem a sensação de impotência que sente alguém discriminado por ser quem é, já havia sentido na pele essa dor mais de uma vez em seu passado, e aqui é pior do que qualquer coisa que viu ou passou em todo o seu tempo de existência. Pelo menos, na terra, os tempos eram outros, e algum tipo de respeito já havia sido conquistado, pelo menos no país onde ele residia(Brasil).

Imaginando o sofrimento dessas pessoas, um gosto amargo explode em sua boca. Só com o pensamento, Sebastian tinha vontade de vomitar. A cidade do norte, de superfície esplendorosa, nem bonita mais parecia para ele. A carcaça por baixo era podre demais para que conseguisse ignorar. Começou a questionar a sua sorte. Infelizmente não havia regressado num mundo cor de rosa. E com toda certeza, um sistema cruel como esse não estaria contido em apenas essa pequena cidade.

"Pare a carruagem..."

Ordena Sebastian, mas duro do que pretendia inicialmente. Lin olha-o com descarado desprazer.

"O quê?"

"Pare a carruagem. Eu preciso tomar um ar."

Lin levanta uma das sobrancelhas. Mesmo que contrariados, ele e o cocheiro fazem a vontade de Sebastian, que pula para fora daquele cubículo( antes tão agradável, mas agora sufocante ao ponto de pensar estar sofrendo de claustrofobia) e apoia-se numa parede qualquer, meio cego e surdo para tudo ao seu redor. O baque foi grande demais para um homem que nunca tinha visto situação tão devastadora fora das tvs e cinemas. Logo atrás se aproxima Lin.

"Mestre, você está bem?"

Com uma das mãos, tenta alcançar o ombro de Sebastian, mas um tapa grosseiro o impede. Sua mão voa para bem longe de seu mestre. Isso o espanta, e a surpresa não está só em seu rosto.

"Ah..." gruni Sebastian, sem saber como reagir perante o próprio descontrole. O que eu acabei de fazer?

"Mestre, o que está acontecendo?" O tom de dúvida é quase totalmente subjulgado pelo de indignação. Mas assim que percebe, muda o semblante numa tentativa de disfarce. Não era sua intenção expressar seus verdadeiros sentimentos, mesmo para o mestre bondoso que Sebastian havia se tornado, desde que perdeu suas memórias. Tinha conhecimento que Sebastian não havia punido qualquer um de seus empregados desde então, mesmo perante o evidente cometimento de erros(Antes, castigar era uma rotina da casa). E essa impunidade havia feito-o um tanto mais ousado que antes. Lin não tinha parado para refletir sobre, até o agora deslize que cometera, ao se expor no tom da fala.

"Vou explorar um pouco. Nos encontramos todos aqui mais tarde..."

Lin, porém, não foi o único a transparecer os sentimentos internos. Tendo sequer percebido qualquer coisa estranha na fala do servo, Sebastian parece com pressa para se afastar de tudo aquilo. E Lin, bom em ler a situação, não tem dificuldades em perceber. Encaixando uma peça com a outra, também não foi um desafio supor os motivos daquele desejo repentino em Sebastian. Lin fica enojado. A perda das memórias haviam lhe afrouxado alguns parafusos? Não poderia estar assim por conta daquelas... coisas... certo? Não, não. Eu que devo estar ficando louco por cogitar isso. Quem teria simpatia por betas? São apenas betas para início de conversa. Afastando o pensamento, e substituindo-o pela simples explicação que seu mestre poderia estar apenas enjoado por conta da viagem, ele decide ser útil e oferecer a própria companhia.

"Se for conveniente para o mestre, posso lhe acomp-"

"Não, Lin. Eu quero ficar sozinho"

O corte é certeiro, e atingiu-o em cheio. E da mesma forma que faria um sereno ronin, guarda a lâmina na bainha como se nunca a tivesse tido em punho, e caminha para longe sem olhar para trás. Lin, sabendo que nenhuma palavra seria suficiente, opta por apenas observar, enquanto Sebastian se afasta cada vez mais. As costas robustas sequer tremem, e o vento dá vida aos longos fios brancos, que parecem cada vez mais fazerem parte da neve conforme a silhueta diminui.

"..."

Mal podia imaginar Lin o quanto o estômago do alfa se revirava com aquilo tudo. Mesmo Sebastian não pôde acreditar na frieza que pronunciou aquelas palavras, nem quando ouviu a própria voz com os ouvidos. Agir daquela forma não fazia parte da sua natureza, então não conseguia evitar se sentir ansioso. Portanto, ali, além de se preocupar em estrangular a colera que crescia dentro de si, ainda teve que disfarçar seus membros trêmulos enquanto caminhava. Para a sorte de Sebastian, foi muito bem sucedido nisso. Mas mesmo estando Lin perante um homem sem fragilidades sendo demonstradas, isso não inibe seus pensamentos, que seus lábios foram rápidos em expressar.

"Pobre homem, se tornou um fraco."

" O que?" questiona o cocheiro. Não havia prestado atenção e achou que o ômega estaria falando com ele. Um erro. Ele falava consigo mesmo, e ignora totalmente a curiosidade do homem.

" Fique aqui" diz apenas, enquanto inicia seus passos para a direção em que Sebastian havia a pouco sumido. O cocheiro vê isso com temor, e decide, um pouco hesitante, expressar sua verdadeira opinião.

" Mas a ordem do mestre, dev-" blá blá blá. Lin já não se preocupava em ouvir, e aos poucos a voz protestadora, se abafou até realmente se tornar inaudível.

 Lin já não se preocupava em ouvir, e aos poucos a voz protestadora, se abafou até realmente se tornar inaudível

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Renascido Num Omegaverse(Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora