02 - Joseph Whitehouse

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  Bastou uma palavra do recém-chegado para que todos se retirassem. Um a um, num fluxo lento e silencioso, que torna o ambiente, a cada baque de passos, mais pesado, até que toda a tensão começa a me afetar. Engulo em seco e meu corpo endurece. O que esse homem pretende, mandando todos embora assim? Ele não pode estar querendo me bater, certo? Todos me chamaram por mestre, ele não poderia…

  O ranger da porta, que chorou até fechar, finalmente, num estrondo seco, que ecoa alto em meus ouvidos, é o responsável por cortar meu raciocínio, e fazer descer mais um bolo de saliva por minha garganta. O silêncio. O silêncio faz barulho em meio a seu encarar profundo. Profunda desconfiança. O pouco de discrição que tinha, de repente cai como uma máscara que tem o barbante desatado. Ele começa a andar.

  Seus passos são tão certos de si que apavoram. Não há um pisar desajeitado, ou sequer sinal de hesitação. São elegantes. A elegância que só se vê quando neva no inverno, quando o gelado se materializa e não abre margens para dúvidas de sua presença. Apesar das íris cor de sangue quente, ele era o próprio inverno mesmo perante a lareira a estalar. A neve cai do lado de fora, mas também parece prestes a cair sobre mim, conforme ele se aproxima. meu coração aperta, mas eu nada posso fazer além de esperar. Esperar que ele me alcançasse.

  Ele me alcança, mas não me toca. Fica parado na beira na minha cama, parecendo pensar em muitas coisas, mas não fazendo nada além de fechar os punhos e perguntar:

  — Está fingindo, não está?

  As suas palavras duras são como alfinetadas de incongruência. Não deixava de ser verdade a sua suposição, pois na verdade não se tratava de amnésia meu problema. Eu era um viajante de dimensões, pelo menos assim eu seria denominado, no mundo do qual vim, mas mesmo assim eu senti que ele não tinha o direito de duvidar de minhas palavras, e um sentimento falso de injustiça começa a tomar conta do meu peito. Eu queria convencê-lo da minha história.

  — Com…

  — Pare com isso. Você pode até enganar os outros, mas não a mim. Te conheço há muito tempo, mais do que gostaria, para me deixar enganar por algo tão ridículo.

  Nos conhecemos há muito tempo? Somos parentes, então? Talvez irmãos? Sim, as perguntas surgem, mas não as levo adiante. Eu tinha outra prioridade naquele momento.

  — Mas eu não estou mentindo, eu realmente não lembro de nada! Não sei o que te faz acreditar que não estou sendo verdadeiro, mas eu realmente não lembro de nada. Não sei nem onde estou, ou como me chamo…

  Mesmo sem ver seu rosto, consigo sentir que me encara por todo o tempo, e quanto mais pressionado me sinto, mas sinto a necessidade de me explicar. No meio disso, uma luz no fim do túnel. Talvez ele pudesse saber de algo, pensei. E decido arriscar.

  — Na verdade, eu consigo lembrar de um nome...

Um breve silêncio.

  — Diga.

  Hesito, pois algo me diz que não é uma boa ideia citar alguém que não sei bem quem é, mas mesmo assim falo, contra esse sentimento.

  — Alexander… — O rosto dele contrai, e meu coração aperta. Ele o conhece, sem dúvidas, e minha curiosidade me impede de parar. — Alexander Whitehouse...

  Rugas tornam em feio o rosto esculpido. E uma mistura de ódio, repulsa, dor, faz minhas mãos suarem de nervoso. Talvez fosse melhor ter permanecido calado. Minha única saída, é tentar disfarçar de alguma forma, e o jeito desesperado que apareceu foi fazendo papel de estúpido.

  — O que foi? Não é como me chamo? — Minhas bochechas esquentam no mesmo instante. Que pergunta idiota, pensei. Mas pelo menos serviu para aliviar um pouco a tensão no rosto do estranho, que a pouco parecia pronto para me matar.

Renascido Num Omegaverse(Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora