Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que Amam

Capítulo 15

As palavras de Lucia não paravam de martelar na minha cabeça. Eu sentia algo por Attor, mas o que era?! O que EXTAMENTE era?! Não podia continuar convivendo com tal emoção sem nem  entende-la. A parte ruim era que eu havia estragado o clima propenso para obter respostas, pois passei o resto do dia sozinha no quarto 73, sem nem mesmo ver Attor por sequer alguns segundos.

Já era tarde da noite, e as estrelas começavam a aparecer. Na cidade, ve-las tão claramente se tornava um evento raríssimo. A poluição de carros e máquinas não nos permitia ter um vislumbre delas, mas aquela noite parecia especial.

Comecei a contar cada uma delas, tentando me lembrar da última vez em que parei para observa-las. No começo da minha carreira, estrelas eram quase minha assinatura. Mas em algum da minha vida, e por algum motivo do qual não conseguia me recordar, eu havia parado de desenha-las. Minhas obras se tornaram apenas...encomenda. Algo pronto, bonito ou que satisfazesse o cliente. Não algo meu...com a minha essência.

Uma das estrelas brilhou intensamente, aumentando seu reflexo no espelho da parede, que refletiu sobre o quadro pintado pela metade, descansando sobre um canto do quarto. Era a tela que eu tentava desenhar com tinta, enquanto Attor me observava com aqueles olhos gélidos e ao mesmo tempo tão brilhantes. Parecidos com uma estrela.

Me aproximei sem muita expectativa, alcançando o objeto e trazendo-o até mim, para mover meus dedos sobre a peça. Um coração de metal, onde certa parte voava como pequenos dentes de leão pelo céu...para algum céu, pelo menos era isso que eu queria desenhar, mas estava inacabado. O acidente com as tintas sobre o colchão foi o culpado. Tomando iniciativa, decido terminar o desenho, e daquela vez sem colocar os objetos sobre a cama.

...

Após horas de pintura, consegui terminar meu desenho, dando os toques finais com os jogos de sombra. Assim que coloquei a tela de volta no lugar para secar e comecei a organizar e guardar os objetos, tive a ideia de observar o quarto. Me aproximei do interruptor e liguei a lampada, para ter uma visão ampla do quarto de MZ130.

Não havia nada de tão extraordinário, com uma cama como a minha, com cobertores escuros e paredes cinzas, tirando alguns detalhes em azul que me lembravam alguns de seus circuitos entre uma ou outra placa negra. Uma porta branca ali levava a um banheiro moderno, com uma palheta de cores semelhantes ao quarto. Até que meus olhos pararam diante do guarda-roupa cinza com portas de correr e aparência sofisticada. Ao me aproximar do móvel, pude abri-lo apenas o empurrando para o lado. Encontrei tudo, menos coisas comuns de se ter dentro de um guarda-roupa. Caixas de sapato sem sapatos, ferramentas e aparelhos tecnológicos dos quais nunca havia visto, baterias de androids e até mesmo alguns frascos com líquidos estranhos.

Decidida a investigar mais sobre o android por conta própria, sem precisar correr atrás de alguém, abri uma das caixas. O que encontrei dentro deveria ser algum tipo de piada, mas me chocou e senti um tremor começar na boca do meu estômago.

— Oh...como vieram parar aqui?

Desenhos. Eu encarava os mesmos desenhos que havia encontrado na pasta, no dia em que fiquei presa na sala de construção pelo sistema de segurança, junto de Attor. Eram as caricaturas realistas que me fizeram pensar em um possível perseguidor. Acima de tudo, havia um desenho em específico e atual, de mim, deitada e dormindo no primeiro dia em que passei mal após descobrir sobre toda a confusão dos androids.

Sem deixar o medo me vencer, decidi olhar todos os desenhos até o ultimo, parando para fazer caras e bocas conforme o conteúdo deles me pegava desprevenida. Em um dos desenhos, eu e MZ130 dançávamos uma espécie de baile. Em outro, a imagem retratava um acontecimento verdadeiro. Eu estava sentada, concentrada em fazer algo, e a julgar pelo desenho do pequeno bisturi em minhas mãos, eu estava moldando detalhes no rosto de Attor. Era recente. Talvez 3 ou 4 semanas.