Capítulo 12

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Em seguida do clarão, muitos barulhos foram ouvidos. Disparos, gritos, explosões, tudo enquanto eu me escondia detrás de um tronco grosso do qual não fazia ideia se suportaria a agitação. O cheiro que subia ao meu redor era de fumaça, imaginei que minhas costas estivessem pegando fogo, mesmo sem sentir calor algum. Na hora do desespero, não parei para raciocinar direito e saí correndo. Corri para o mais longe que pude, entre as poucas árvores, inteiras ou rachadas. Até que esbarrei em alguém.

O homem uniformizado me encarou, levantando uma mão para tocar no pequeno aparelho posto em seu ouvido. Após ouvir algum tipo de ordem, ele retirou sua arma do coldre e a apontou para mim.

— Não! Por favor! — Foi o que consegui dizer, antes de fechar os olhos e esperar o disparo. Mesmo que eu corresse, a arma atingiria minhas costas, pelo menos de frente ele poderia atirar em meu cérebro ou coração e me dar uma morte rápida, sem muita dor. Meus olhos incharam com as lágrimas acumuladas. Se eu soubesse disso, teria ficado lá dentro. Pensei, me lembrando da ordem de Attor e de Meg, que tentou me impedir.

O impacto da bala nunca chegou e depois de um tempo com os olhos fechados, os abri para entender o que acontecia. Encontrei o mesmo homem caído sobre o chão, sem vida. Sua roupa, na localização do peito, rapidamente ganhava a cor avermelhada. Levantei a cabeça para procurar quem havia feito aquilo e encontrei Meg. Sua mão tremia, ainda parada no ar. Suas placas brancas de android estavam com pingos de sangue. Sua expressão estava chocada, o que era estranho, para um robô. Eu pensava que matar não significava nada para eles.

— Você...atirou nele. — Sussurrei, voltando minha atenção para a arma sobre a mão da maquina.

— Sim. Ele...ele ia te machucar! Me desculpe! Eu não queria fazer isso! — Mesmo que sua face não demonstrasse muito, a voz da android estava desesperada.

— Ele disse que a encontrou por aqui! — Um grito ao longe nos chamou a atenção. Lembrei que momentos antes aquele homem havia se comunicado com alguém.

— Precisamos sair daqui. — Sussurrei para a android, tentando não ficar na mira da arma que ela segurava. Também torcia para que Meg não estivesse com raiva de mim.

— Eles não vão nos deixar ir. — Sua mão de aço apertou a arma com ainda mais força. — Vá. — Ela mandou, mas seus olhos não estavam em mim.

— Você não precisa ficar aqui e...

— Vá agora! Sem você, Attor não conseguiria fazer mais nada. Vá! Por favor. — Quando me foquei novamente em seus olhos, o que encontrei nele me deixou cambaleante. Medo. Ela estava apavorada. — Vou distraí-los, enquanto você foge. Entre pela porta da frente na Renovull. Os montadores que estavam lá já foram eliminados. — Guardei a forma como ela os chamou, para perguntar mais tarde a Attor.

— E você? Podemos voltar juntas!

— Não torne isso mais difícil para mim do que ja é. — E repentinamente, com o braço livre, a android me segurou pela roupa. Sua força era forte o bastante para quase me arrastar de uma vez. — Me ouça com atenção! Faça Attor feliz. Ele já sofreu demais por todos nós. E diga para Zeno...diga que eu fiz o que fiz por amor. Por amor a nós dois e por amor a nossa grande família. — Por algum motivo, meus olhos ficaram úmidos com tal declaração, como se a maquina estivesse se despedindo. — Me prometa que dirá a ele.

— Eu prometo. — Assenti, sentindo uma lágrima descer por meu rosto.

— Quem diria...— Os olhos escuros de Meg se focaram na gota de água, que escorreu por minhas bochechas. —...nunca pensei que um humano choraria por mim. — E com um sorriso no rosto, ela se virou, correndo em direção a voz de antes.

Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que AmamOnde histórias criam vida. Descubra agora