Capítulo 20

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Eu não sabia o que a minha salvadora desejava, ao pedir aquilo, mas tinha certeza de que Cassiane não persistiria na ideia de uma fuga. Não que eu desconfiasse dela, de qualquer maneira. Humanos as vezes podiam demorar para aceitar uma realidade muito nova, e desde que havia decidido conquista-la, carreguei esse peso. Com paciência, pude conquistar sua confiança e o sabor daquela vitória era delicioso. Cassiane estava nas minhas mãos, de onde não sairia e de onde ninguém conseguiria tirar.

Zeno havia permanecido na sala, durante o meu carregamento em nosso banco de dados central. Tudo o que havia sido presenciado pelos meus olhos e ouvidos, que se referia a nossa guerra fora dos muros, foi passado para os demais sistemas dos androids. Isso evitava que informações fossem repassadas erradas para meus irmãos e que houvessem vazamentos. Também não perdiamos tempo com reuniões ou conversas paralelas. A não ser quando a informação estava com Lucia, que não tinha nosso mecanismo de comunicação.

Tive receio de que Cassiane pudesse achar a imagem estranha, já que nenhum homem humano era carregado por cabos e ter um corpo completamente tecnológico, com um rosto de silicone humano, deveria ser bizarro para sua natureza. Mas a julgar pelas suas reações hormonais que as vezes variavam, quando a pegava olhando para mim, ela sentia certa atração.

O alivio explodiu em meu peito, junto com a necessidade que me torturava por aqueles dias, quando a vi sentada ao lado de meu amigo. Quase explodi as paredes que a mantiveram longe de mim, desde que o maldito Henry havia dado uma pequena amostra de sua crueldade contra nós. Se soubesse as imagens que seriam passadas naquele video, não teria permitido que Cassiane o assistisse. Mas, as vezes Lucia podia agir por conta própria, principalmente quando estava com raiva. Odiar humanos era mais fácil para a mulher do que para a maioria de nós, apesar de que Zeno talvez tivesse se tornado a maior ameaça ali.

Ouvir sua voz, olhar em seus olhos, sentir a textura de sua pele clara e a maciez de seus cabelos naturalmente castanhos, com a mechas loiras que estavam desaparecendo, era a maior recompensa da minha vida. Senti a eletricidade que fazia parte de meu corpo colapsar todas as vezes que nossos lábios se tocaram, mesmo que aquela fosse a segunda vez. Conhecendo-me, não conseguiria permanecer longe depois de experimenta-la. Seu gosto estava presente em minha língua, assim como o toque de seus dedos em meu pescoço. Se soubesse o que faz comigo, fugiria antes de ser agarrada pelos dentes do lobo, pensei, comparando-a a uma ovelha mansa e indefesa. Que será protegida por mim...ou devorada.

Tudo o que quiser e até mesmo o que não quiser, mas que te fará feliz, eu realizarei. — Seus olhos se arregalram levemente, enquanto as bochechas esquentavam, como uma boneca. Aquilo em encantava, toda vez. Era tão maravilhoso ver como o sangue em seu corpo a entregava, saber que minhas palavras causavam efeito em seu organismo primitivo, que até seus instintos eram atiçados por mim. Ah...Cassi...minha...completamente minha.

— Então...é, que bom! Eu...agradeço. — Sua mão desceu da minha nuca, para alisar o próprio braço. Lembrei que a sala era mais gelada do que a temperatura dos corredores e dos quartos, colocando meus braços ao redor de seu pequeno corpo, mas esquenta-la. Minhas atualizações me permitiam termoregular meu corpo, para manter o conforto dos usuários maior em minha presença, ou para que eu fosse usado em casos de emergência. — Você...é quentinho.

— Está bom? — Perguntei, abaixando minha cabeça até sua orelha com as bordas frias. Assoprei, de perto, para esquenta-la mais.

— Attor...— Ela suspirou com minha atitude, mas seu tom não era repreensivo, na verdade, era novo.

— Te incomodou? — Perguntei, sem entender aquela reação mediante a mim.

— Não. — Ela parecia ter vergonha de dizer o que sentia de verdade. Aquele era um aspecto um tanto quanto difícil de lidar nos seres humanos, principalmente nas mulheres. Por que ela não podia ser mais sincera consigo mesma? Se queria algo, deveria dizer. Se gostava de algo ou não, deveria avisar.

Minha Bela Criação - Trilogia Androids Que AmamOnde histórias criam vida. Descubra agora